Os Sete Planetas de Trappist

Pelo título, parece até um romance de ficção científica, não é? Um reino espacial, sete planetas disputando o poder e uma princesa é a resposta para a união dos povos, mas sua vida corre perigo... Bem, enquanto esse romance não é lançado, todas comemora a descoberta dos novos planetas!

Trappist system
NASA | ESO | JPL



Assim que a NASA anunciou nas redes sociais que tinha uma descoberta fascinante para divulgar, as especulações começaram. Logo imaginei que seria sobre exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar), mas admito que brinquei no Twitter de que poderiam ser uzalien! Mas descobertas como essas são os primeiros passos para se levar à descoberta de vida fora do nosso planeta.

O que é fascinante sobre o sistema estelar de Trappist-1 é que ele possui sete planetas rochosos de tamanho semelhante à Terra. Seria possível observá-los preencher o céu se você estivesse na superfície de um deles, já que estão muito próximos uns dos outros. Três deles estão dentro da Zona Goldilocks - uma região onde a água pode se manter na superfície em estado líquido - o que os tornam locais excelentes para o surgimento de vida. Mas a estrela Trappist-1 não é igual ao nosso Sol. Na verdade, ela é pouco maior que nosso velho amigo Júpiter.

Ela é uma estrela anã bastante fria quando comparada ao nosso Sol, localizada na constelação de Aquário, a 39 anos-luz de distância. Esse tipo de estrela é bem comum pelo universo e dura bastante tempo, mas é a primeira vez que planetas são descobertos em torno de uma estrela extremamente tênue e minúscula. Ela tem esse nome estranho por causa do telescópio que a descobriu, localizado no Observatório de La Silla, no deserto do Atacama, chamado Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope (TRAPPIST). E infelizmente não é possível observá-la a olho nu justamente por ser tão pequena e fria.

Comparação entre nosso Sol e Trappist-1. Fonte: NASA | ESO | JPL

A dúvida de muita gente é por que isso é tão legal? Se não podemos ir até lá, qual é a graça de se descobrir um sistema estelar com sete planetas? Isso quando não começam com o velho e batido comentário "mas com tanta gente passando fome...". A ciência é empolgante. Ao menos deveria ser. As pessoas que não enxergam a importância de descobertas científicas não entendem o próprio propósito dela. E nem estão conscientes de quantas descobertas científicas elas fazem uso diariamente. Entra aí o analfabetismo científico crônico de nossas escolas e universidades.

Trappist e seus planetas estão a 39 anos-luz de distância (ou 369 trilhões de quilômetros). Então, pra gente ter uma ideia, vamos comparar com as sondas que já mandamos por aí para saber quanto tempo levaria para chegar lá.

  • New Horizons: a sonda que investigou Plutão viaja a uma velocidade de 51.500 km/h. Ela levaria 817 mil anos se nada atrapalhar seu caminho.
  • Voyager 1: a sonda que está mais distante de nós neste momento, entrou em espaço interestelar em 2012. Em sua velocidade atual de 61 mil km/h ela levaria 685 mil anos para chegar.
  • Juno: a sonda que fez sua aproximação de Júpiter no ano passado valeu-se da gravidade do planeta para acelerar a 254 mil km/h. Se mantivesse essa velocidade, ela chegaria em Trappist-1 em 159 mil anos.
  • Ônibus espacial: o lanterninha na nossa corrida maluca galáctica pode circular a Terra a 28.160 km/h e nessa velocidade levaria 1,5 milhão de anos.
  • Enterprise NX-01: temos aqui o melhor candidato para ir a Trappist, pois em dobra 4 a nave levaria 5 meses e uns quebrados.

Mas Stephen Hawking tem um projeto ambicioso para mandar sondas robôs para Alfa Centauro. Por que não enviar alguns para Trappist? O projeto Breakthrough: Starshot quer lançar milhares de sondas relativamente baratas ao espaço, para garantir que ao menos uma delas chegue até seus destinos. Enviadas ao espaço por foguetes, elas seriam aceleradas por lasers ultrapotentes em Terra. Uma viagem a Marte levaria apenas meia hora, ao invés dos seis meses usuais. Se as mini sondas de Hawking puderem voar a 216 milhões de km/h, o que já é 20% da velocidade da luz, ela chegaria em Trappist-1 em menos de 200 anos. Pesando menos que a carcaça de um iPhone, as sondas carregariam uma câmera, uma bateria nuclear e um pequeno núcleo computadorizado.

É uma ideia ambiciosa, mas que por enquanto é apenas isso, uma ideia. O conceito precisa ser melhor formulado, mas já nos dá alguma esperança de um dia poder investigar mais de perto este e outros sistemas. Trappist-1 é o primeiro de muitas descobertas fascinantes que ainda estão por vir. E mesmo a 39 anos-luz de distância, o sistema é um laboratório perfeito para se investigar formação planetária, atmosfera alienígena, potencial de vida e como uma estrela tão fria poderia impactar na formação de vida nestes planetas. Como diria nosso amado Spock, isso é fascinante.

Até o Google se empolgou!

Se tudo der certo nos próximos anos com a construção de telescópios mais potentes, como o James Webb, com lançamento previsto para 2018, será possível examinar a composição atmosférica destes planetas potenciais para a vida. E como disse um dos cientistas da NASA, não é questão de 'se', mas questão de 'quando' encontraremos vida fora da Terra. Portanto, vamos comemorar essa janela aberta para outro sistema solar, para outros planetas e pelo potencial desse lugar. Vamos celebrar a ciência. Quando a raça humana quer, ela é capaz de feitos maravilhosos.

Até mais!


Veja também:
Trappist-1 - página oficial
Further Thoughts on TRAPPIST-1 - Centauri Dreams
Astrônomos anunciam descoberta de novo sistema solar que pode conter água - e vida - BBC Brasil
Três mundos potencialmente habitáveis em torno de uma estrela anã muito fria - Astro PT
TRAPPIST-1: How Long Would It Take to Fly to 7-Planet System? - Space

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Comentários

  1. Nossa! Essa descoberta me pegou em cheio! Em caso de existência de vida, seja ela em que estado for, fora da terra muita gente vai pirar sério na batatinha. Belo Post.

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  2. Rapaz... Se os possíveis habitáveis se parecerem com a Terra, poder ver os vizinhos como podemos ver a Lua deve ser incrível!

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