Resenha: Rise of the Rocket Girls, de Nathalia Holt

Antes de serem máquinas, os computadores eram mulheres com formação em matemática ou engenharia, ou apenas um profundo conhecimento de cálculos e logaritmos, que tinham aulas extras de matemática por pura diversão na escola e na faculdade. Elas foram contratadas às centenas pelas agências espaciais no esforço de guerra e depois para vencer a corrida espacial. Por muito tempo não soubemos que elas estavam lá, pois suas histórias foram esquecidas. Mas isso mudou.

Este é um livro do Desafio Literário 2017!

O livro
Nathalia Holt, bioquímica e escritora, estava tentando decidir o nome da filha que estava por vir. Ela então escolheu um nome que achava bonito, Eleanor Frances, e jogou o nome no Google para ver se a combinação era boa. Ela então caiu na primeira página da Wikipedia que tratava de Eleanor Frances Helin, cientista da NASA/JPL, chefe do departamento que rastreava asteroides próximos à Terra. Nathalia ficou surpresa por nunca ter ouvido seu nome antes. Quando que ela trabalhou na NASA? Existiam mais mulheres trabalhando para as agências espaciais? Como é que ninguém falava delas?

Resenha: Rise of the Rocket Girls, de Nathalia Holt

Sua busca por mais informações a respeito de Eleanor Frances a levou a descobrir a história oculta do público sobre as centenas de mulheres que passaram pelos departamento de computação do JPL. Elas foram recrutadas nos anos 40 e 50 para fazerem os cálculos críticos para o funcionamento de foguetes e mísseis, depois para os primeiros satélites, em seguida para as primeiras missões a Vênus, Mercúrio, Marte e para os planetas gasosos, para as missões não tripuladas à Lua e para as sondas que investigaram asteroides e foguetes. Toda a ciência aeroespacial do século XX e XXI tiveram os cálculos, a maioria à mão, dessas mulheres. Então, onde elas estavam?

Neste trabalho, você precisa parecer uma garota, agir como uma dama, pensar como um homem e trabalhar feito um cachorro.

(tradução livre)

A busca foi intensa. Nathalia fez pela internet o que podia, mas na maioria das vezes precisou ir até o departamento pessoal das agências para desenterrar fotos e os arquivos delas. Assim que conseguiu os nomes, correu para a lista telefônica, ligando para dez mulheres diferentes até achar aquela dos arquivos. E assim, ela conseguiu o contato com todas e as entrevistou.

O livro é dividido em quatro partes: Parte I, anos 40; Parte II, anos 50; Parte III anos 60 e; Parte IV, dos anos 70 até os dias de hoje. Na primeira parte temos a formação do JPL, derivado de um grupo de estudantes universitários chamado de Suicide Squad, por suas experiências perigosas e, muitas vezes, desastrosas, com propelentes químicos. Brincar com foguetes era coisa de fã de ficção científica, não era ciência séria. Um professor chegou a dizer que aquilo era bobagem, porque foguetes nunca funcionaram no espaço já que os propelentes perdem eficiência a 1300 metros de altitude. Porém os experimentos do grupo começaram a dar resultado e o Exército resolveu financiar a equipe, criando assim o Air Corps Jet Propulsion Research Project, que viria a se tornar o Jet Propulsion Laboratory, JPL.

Usar computadores humanos não era algo novo. Já na Primeira Guerra Mundial, homens e mulheres faziam cálculos de alcance de rifles, metralhadoras e morteiros no campo de batalha. Em 1700, vários computadores foram usados para calcular a trajetória do Cometa Halley. Esses computadores eram mal pagos, trabalhavam muito e eram pouco valorizados pelas empresas e pelo governo. Com a criação do JPL e com muitos homens na Europa lutando, sobravam esses empregos para mulheres e elas foram recrutadas, muitas vezes, direto nos campi das universidades. Com o tempo, as recrutadoras escolhiam apenas mulheres.

Departamento de Computação da JPL, anos 1940. Caltech/NASA/JPL

Entrelaçados com as histórias dessas mulheres, temos os eventos históricos acontecendo, como a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a derrocada da Alemanha, a vinda de cientistas nazistas para trabalharem na indústria aeroespacial, como Wernher Von Braun, o satélite soviético Sputnik e a ida de Yuri Gagarin ao espaço. Temos também a luta dessas mulheres em tentar conciliar carreira, com maternidade e com o casamento. Era injusto elas terem que abandonar o emprego que amavam para terem que se casar e ter filhos, pois não havia o conceito de licença maternidade nessa época.

A maioria era simplesmente mandada embora quando estava grávida e retornava anos depois porque precisavam de seu conhecimento. Muitas se divorciaram, algo não muito bem visto, para que pudessem continuar trabalhando. Apenas 25% das mulheres casadas e mãe de filhos com menos de 18 anos estavam no mercado de trabalho. O número cresceu nos anos após a Segunda Guerra, mas elas ainda enfrentavam uma grande diferença de salário quando comparadas aos homens e não tinham nenhum apoio federal para licença maternidade.

Além das vidas pessoais dessas mulheres e de seu trabalho, o livro aborda a burocracia para se conseguir financiamento em muitos projetos importantes, como o do Hubble e como os trabalhos delas ficaram anos engavetados até que saíssem do papel. A chegada de computadores eletrônicos não as afastou dos laboratórios, ao contrário, elas se tornaram programadoras e, posteriormente, engenheiras.

Encapsulado em alumínio, um tesouro dorme nos bancos de memória da Voyager. Escrito em apenas 40KB de memória, milhares de vezes menor que a capacidade de um iPhone, estão programas escritos à mão, com lápis e papel por um extraordinário grupo de mulheres. Estes programas representam apenas uma pequena parte de seu trabalho, mas foram construídos no ápice de suas carreiras. Estes programas estão vagando pela poeira espacial. São o legado destas mulheres escrito nas estrelas.

(tradução livre)

Gostaria muito de ver este livro traduzido para o português, pois ele é rico demais em informações as quais normalmente nunca teríamos acesso. O livro conta com algumas fotos no final, mas gostaria de ver mais fotos dessas mulheres pioneiras ao longo do livro.

Obra e realidade
Em todos os filmes que vi sobre a corrida espacial e a conquista da Lua, nunca vi essas mulheres sendo representadas. Nem mesmo na festa de 50 anos do projeto Explorer 1, do JPL elas foram convidadas, em janeiro de 2008, uma festa que acontecia a pouco quilômetros da casa de Barbara Paulson. E Barbara estava na sala de controle na noite do lançamento do Explorer 1. Ou seja, não é como se ela não fizesse parte.

Madrugada a dentro, essas mulheres ficavam nas salas de controle de missões, fazendo cálculos à mão para assegurar que o foguete, o satélite ou a sonda estavam na direção e caminho certos. Muitas horas foram sacrificadas, horas de descanso, horas com os filhos, para que as missões foram bem sucedidas e nunca seus nomes foram mencionados nas aulas de história quando se falava da corrida espacial. Mulheres fazem parte da computação desde seu início. Em 1984, 37% dos alunos de graduação em computação eram mulheres. Hoje o número é menor que 18%. Elas foram afastadas pela má remuneração, por serem mulheres e pela falta de reconhecimento de suas habilidades.

Nathalia Holt

Nathalia Holt é uma escritora norte-americana de não ficção.

Pontos positivos
Ciência aeroespacial
A vida das mulheres computadores
Biografias
Pontos negativos
Em inglês
Poucas fotos


Título: Rise of the Rocket Girls
Autora: Nathalia Holt
Editora: Large Print Press
Páginas: 352
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: na Amazon!



Avaliação do MS?
Fica aqui o meu pedido para que este livro receba uma carinhosa tradução. Me contratem, eu faço! Pois é um livro especial, bem escrito, informativo, que nos leva em uma viagem de décadas, até os dias de hoje, ressaltando a importância do trabalho dessas mulheres para tantas missões espaciais que adoramos e para o avanço da ciência em si. Lembrar das pessoas e de seus feitos é fazê-las viver, para sempre. Não podemos deixar que seus nomes sejam novamente esquecidos. Leitura obrigatória!

Até mais! 🚀

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)