Resenha: Eva, de Anna Carey

Eva é mais um livro YA (young adult) a chegar ao Brasil. E também é mais uma distopia. E também é mais uma distopia YA com uma personagem central que precisa sobreviver em mundo hostil e, de quebra, se apaixona. Mais uma fórmula repetida à exaustão, mais personagens mais do mesmo em uma obra mais do mesmo. Se estiver operando máquinas pesadas, nunca leia esse livro.

O livro
E mais uma vez temos uma obra falando sobre um vírus mortal que aniquilou quase toda humanidade. Surgiu então um novo país, sob as ruínas do anterior, chamado Nova América, governada por um rei que determinou a total segregação entre homens e mulheres. As meninas vão para uma escola, para aprenderem uma profissão, enquanto os meninos são mandados para um campo de trabalhos forçados. Isso eu já achei errado e até meio bizarro para uma distopia, onde você tem que reerguer a humanidade. Para que segregar?

Resenha: Eva, de Anna Carey

Mas enfim. Numa dessas escolas para meninas temos Eva, a aluna mais aplicada, mais inteligente, oradora da turma, aquela que muitas odeiam por sempre ser a melhor em tudo. Ela e suas amigas estão prestes a mudar de prédio, indo para uma nova etapa de seu aprendizado, onde devem aprender um ofício, para daí partirem para a cidade onde serão úteis para a reconstrução da civilização. Mas Eva, então, percebe que uma das colegas, a arredia e metida Arden, está se preparando para fugir. Justo na véspera de saírem da escola e irem aprender uma profissão, essa resolve acabar com a festa. Mas Arden manda que Eva abra os olhos. Elas não vão estudar, elas se tornarão parideiras presas a uma cama, dando à luz todos os anos para repovoar o país.

À noite, Eva sai da cama, pula a janela e se esgueira até o prédio próximo. Quando olha pela janela, percebe que Arden tem razão. Ela viu a turma do ano anterior presa a camas, barrigas imensas, chorando e se debatendo. Assustada e temendo esse lugar, ela volta para a escola, onde é pega no corredor. Para sua sorte, uma das professoras a ajuda a fugir. Ela pega uma mochila, alguns poucos pertences e segue pela floresta rumando para um conhecido campo de refugiados, quilômetros dali.

O que Eva aprendeu em tantos anos de estudo só a atrapalham. Na escola, ela aprendeu que todos os homens não prestam, que são ardilosos, que só querem sexo e vão usá-la indiscriminadamente para depois largar. Que amor é uma coisa perigosa e suja, que desvirtuará sua mente. Ela teve aulas sobre como os homens usavam de subterfúgios para iludir as mulheres e como isso era perigoso no passado. Tanto que o primeiro rapaz que Eva conhece, ela logo o acusa de querer ter sexo com ela. O rapaz, Caleb (por quem ela se apaixona e deseja ardentemente e por quem acaba cometendo uma cagada homérica perto do final) cai na risada. Ele, então, resolve ajudar Eva e sua colega Arden - que tinha fugido e se refugiado na floresta - e as leva para um acampamento só de meninos fugidos de campos de trabalhos forçados. E o romance, praticamente, toma conta da narrativa a partir daí.

O que eu não entendo é por que diabos um rei vai segregar meninos e meninas numa sociedade que foi arrasada por um vírus. Sério, isso não fez sentido para mim. Tratar ambos de maneiras desumanas é dar munição para uma futura revolta e até uma guerra civil que pode tirá-lo do poder. E se ele é homem, todas as mulheres que crescerem neste sistema o verão da mesma maneira que sempre ouviram: vil, mau, ardiloso, praticamente um estuprador em potencial. Achei uma baita contradição, pois a escola ensina que homens não prestam, menos o rei (oi?).

E aqui também critico uma cena deplorável em que Eva quase é estuprada por um dos rapazes mais velhos do acampamento masculino: Caleb pega o ato quando a ouve gritar por ajuda. E ele a culpa, achando que ela estava desejando o cara!! (exclamações infinitas). Este foi aquele momento #facepalm em que eu falei "CA-RA-LHO! Como que essa autora coloca uma merda dessa na narrativa?" Olha que cena ~genial~: o cara pega um colega de acampamento tentando estuprar a moça por quem está apaixonado. Ele tira o cara de cima dela, mete a porrada nele, mas aí ele vira e olha para Eva e tem a capacidade de perguntar se ela estava querendo o ato?? Como ela não consegue responder direito - por que né?, ela quase foi estuprada - ele sai do lugar, puto, e desaparece. Será que ela não precisa de ajuda, um conforto emocional, um copo d'água?? O que essa autora andou bebendo enquanto escrevia a cena?? Ela balbucia um "não sei" porque se sentia culpada pelo o que quase aconteceu.

Lembra que eu comentei sobre a cagada homérica que Eva comete? Por causa de Caleb ela entregou um esconderijo rebelde e levou à morte 3 pessoas. E por que, você pergunta? Tudo para pedir desculpas a ele pelo o quase-estupro que ela sofreu, porque Eva se sente culpada por talvez, quem sabe, pode ser?, ela tivesse algum sentimento por Leif, o rapaz que quase a estuprou. Eva é ingênua, é idiota, é jovem, mas acho que aí já foi demais. Ela não pediu um estupro em nenhum momento, a culpa nunca foi dela. Ahh, não contei também que no meio desse imbróglio ridículo, o Rei todo-poderoso a quer. Por que? Sei lá, mas quer. ~Genial~.


Ficção e realidade
Tirando os eventos sem noção do livro - que é muito ingênuo praticamente o tempo todo, destilando estereótipos, tanto masculinos quanto femininos - temos mais uma distopia, mais uma vez causada por um vírus mortal. Temos também um povo tentando se reorganizar, por mais ridícula que tenha sido essa tentativa. Como este livro é o primeiro de uma trilogia, talvez a autora explique que decisão demente foi essa de segregar a população, mas não consigo ver essa separação em um mundo pós-apocalíptico de verdade, onde precisaríamos ter cooperação.

Anna Carey

Anna Carey é uma escritora norte-americana de livros juvenis e jovens adultos.

Pontos positivos
Personagem feminina
Distopia

Pontos negativos
Sobrevivência fica de lado
Namorico
Final óbvio

Título: Eva
Título original em inglês: Eve
1. Eva
2. Renascer
3. Uma vez
Autora: Anna Carey
Tradutora: Fabiana Colasanti
Editora: Galera Record
Ano: 2013
Páginas: 288
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Olha... se depois de tudo o que eu disse acima sobre esse livro tão bobo você ainda quiser ler, é por sua conta e risco. Ele é curto - ainda bem - então a leitura acaba rápido e flui igualmente rápido. Mas se você tiver coisa melhor para ler, é melhor deixar esse aqui de lado.


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Puxa vida, comecei a ler Eva e achei bastante ruim e fraco. Daí, porque pensei que podia melhorar, comecei o segundo livro. Mas não desce. É muito ruim. Estou desistindo! Gostei muito da sua resenha. Parabéns!

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