Resenha: A Estrada da Noite, de Joe Hill

Em busca de diversificar mais meu repertório literário, comecei a ler mais livros de terror, coisa que não fazia antes. Não por medo, nem nada disso, mas é que eles não me assustavam o suficiente, ou me prendiam o tanto que prometiam em suas sinopses. Nunca foi meu estilo predileto de livro, na verdade. Acabei colocando A Estrada da Noite no Kindle para ler e a narrativa me pegou desde o início.





O livro
Judas Coyne, conhecido como Jude, é uma lenda do metal. Sua banda é conhecida pelo mundo a fora com seu som estridente e pesado. Seu visual gótico meio macabro domina sua vida cotidiana, onde ele se tornou um colecionador de peças bizarras, desde fitas de assassinato até livros com receitas canibais. Muitos de seus fãs até mandaram estes presentes estranhos. Mas um dia, seu assessor e secretário recebe um email de um site de leilões: há um fantasma à venda. Basta comprar o terno e leve de graça o fantasma do padrasto de alguém que tem rondado a casa da família. Judas, sem pensar muito, dá um lance alto e já arremata o terno.

Resenha: A Estrada da Noite, de Joe Hill

Jude é um astro cinquentão com problemas com o pai, a quem odeia com todas as forças por tudo o que ele o fez passar. Ele se arrepende de perder os amigos de banda, da mulher que usou e jogou fora, da esposa que simplesmente partiu e ele nada fez para segurá-la. Sai com moças trinta anos mais novas, como Morphina, sua nova namorada, gótica e escandalosa que só ela. Ele vive uma rotina caseira, cuidando de seus cães e da coleção de memórias e bizarrices quando o tal terno assombrado chega em uma esquisita caixa em forma de coração.

A partir daí, sua vida se torna rapidamente um inferno. O fantasma de fato aparece no corredor, um sombria criatura de chapéu, sentada numa cadeira perto da porta. É possível sentir o suor frio de Judas descendo pela coluna. Nesse meio tempo, sua namorada acorda com o fedor horrível de um cadáver, mas é o terno deitado ao seu lado, onde ela espeta o dedo em um alfinete e sua mão infecciona. Com um pouco de investigação, ele descobre que o morto é Craddock McDermott, padrasto de uma namorada que ele despachou para casa por não aguentar as crises depressivas da moça. O fantasma promete: vai matá-lo, vai fazê-lo matar todo mundo ao seu redor e não há nada que ele possa fazer para impedir isso. Este não é um fantasma qualquer e Jude logo percebe que seu embate com ele não será nada fácil.

O livro parece entregar o jogo logo de cara, mas não. As revelações são feitas aos poucos por Joe Hill, que é filho de Stephen King. Você começa a entender a personalidade não apenas do fantasma, de Jude e de Morphina como também de Anna, a problemática moça que se matou - ou é o que todo mundo acha - depois de seu relacionamento não dar certo com Jude. Começamos a entrar mais neste miolo em doses homeopáticas, com muitas cenas sombrias, onde parece que ninguém está a salvo. Chega uma hora em que o desespero de Jude o faz sair de casa com a namorada, tentando se proteger do fantasma.

Achei o começo um tanto confuso, pois o autor jogou alguns nomes ali sem muita explicação. O final é bom, mas achei que o autor se demorou para terminar e deixar tudo bem explicadinho. Um final mais aberto talvez tivesse coroado o livro como sensacional do início ao fim. Temos personagens tão conflitantes e bem construídos que acho que ele poderia ter pensado num final um pouco menos certinho, deixando que o leitor preenchesse o restante. Mas ainda assim, não chega a estragar a obra. Para quem quer ver o que de fato aconteceu com Jude, vai ter que ler.


Ficção e realidade
Vou ser sincera. Sou cética até o talo, mas alguns filmes de terror me perturbam. Acho que por isso que nunca fui aquela fã incondicional do gênero, como a Camila, do blog Goticity. Eu assisti O Grito no cinema e passei uma semana ouvindo o murmúrio daquela infeliz na minha orelha, fiquei sem dormir, foi um horror. Até então, o único livro de terror que eu tinha lido, e que me deixou com uma baita má impressão, foi Sete Gritos de Terror, ainda na escola. Então, por aí você imagina há quanto tempo eu não lia terror.

Joe Hill
Joe Hill

Li este livro em um dia. Ele é curto, com uma narrativa intensa. Acho que na posição de Jude eu não teria enfrentado esse fantasma com tanta coragem como ele a encarou. Sou patife, já disse. Mas acho que o principal fator do livro não é sobre o fantasma, mas sobre o medo. Mesmo com aquela carranca de astro de rock, Jude tem medo de muitas coisas e evita encará-las durante a vida. Mas aqui ele é testado por uma força superior e sua sobrevivência dependia disso. É nessas horas que vemos até onde uma pessoa pode ir para sobreviver.


Pontos positivos
Terror
Fantasma
Universo gótico
Pontos negativos


Livro se arrasta em algumas partes

Título: A Estrada da Noite
Título original: Heart-Shaped Box
Autor: Joe Hill
Tradutor: Mário Molina
Editora: Sextante
Páginas: 256
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Avaliação do MS?
Aos fãs de terror e suspense, não deixem de ler A Estrada da Noite. Só o universo gótico sombrio da vida de Jude já vale à pena de ser lida. Ainda mais com um fantasma vingativo espreitando pelos corredores, mandando mensagens bizarras, com brincadeiras letais pela casa. Percebemos logo que as motivações do fantasma não são bem aquilo que ele afirma desde o início. Quatro aliens.


Até mais!

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