De tanto ouvir falar bem dessa autora, decidi pegar Sob a ponte do mal para ler, já que ele estava juntando poeira no meu Kindle. Gosto muito de thrillers investigativos e suspense, então sabia mais ou menos o que esperar. Mas o livro me pegou de surpresa no final!
O livro
Clayton Jay Pelley está preso há mais de 20 anos. O orientador educacional foi preso após confessar o brutal assassinato de Leena Rai, uma adolescente da cidade de Twin Falls, na Ponte do Mal, uma região perigosa. As motivações sempre foram um mistério, pois como ele confessara o crime, nunca foi a julgamento e também nunca explicou o que houve. Mas entra em cena Trinity Scott, uma ambiciosa podcaster de true crime, que revisita o caso em episódios semanais, soltando a bomba: Pelley alega ser inocente e que o verdadeiro agressor ainda está solto por aí.
As pessoas que não querem falar têm as melhores coisas a dizer. Entrevistados que vivem fugindo das redes sociais e da sociedade em geral normalmente escondem coisas ótimas (...).
Sabendo que essa informação é uma bomba, ela decide ir atrás da principal investigadora do caso, Rachel Walczak, a detetive aposentada que desvendou os segredos de Pelley e o colocou atrás das grades. O crime foi tão brutal que toda a comunidade, principalmente os policiais, se viram motivados a encontrar os responsáveis, mesmo que isso custasse suas vidas pessoais, como bem podemos ver pela relação de Rachel com sua filha. Rachel não quer nem saber do podcast, mas se vê atraída por ele e começa a revisitar o passado.
É desta maneira que o livro segue até bem perto do final. Revisitamos as memórias de Rachel sobre o que aconteceu e voltamos para o presente para acompanhar os personagens que estão acompanhando o podcast. E são vários. Além dos policiais relacionados ao caso, há também os antigos colegas de escola. Fiquei com pena da forma como Leena Rai foi retratada pelos colegas. Sabemos que a escola pode ser um ambiente muito hostil, ainda mais para imigrantes e White não esconde essa antipatia em nenhum momento. Leena se esforçava tanto para ser como as outras garotas, querendo ser aceita e amada, que chegava a ser patética e a tornava uma presa fácil para qualquer um.
O livro constrói sua história de maneira gradual. Quem curte uma pegada mais rápida, com um plot twist a cada página, pode acabar desanimando com esse aqui. O ritmo não me incomodou em nada, ao contrário, me via cada vez mais presa no enredo, querendo logo descobrir o que foi que aconteceu com Leena e quem era o culpado. Será que Pelley é mesmo inocente? A polícia, na pressa de pegar um culpado, prendeu um inocente? Conforme as informações vão sendo colocadas no enredo, percebemos que essa cidade esconde segredos demais. Ninguém ali é tão inocente, culpado ou indiferente. Por menor que seja a informação, alguém sempre sabe de alguma coisa.
Esse tipo de pacto de silêncio acabou por enterrar o caso de Leena sob uma grossa camada de segredos e mentiras. Segredos esses que podem ser bem desconfortáveis para quem lê, pois a autora lida com temas bem pesados em alguns momentos. Mesclando trechos do podcast com o texto corrido, vamos pulando de cenários e de personagens ao longo dos 20 anos da morte de Leena, uma adolescente que só queria ser aceita e amada.
A verdade nunca é tão perigosa quanto uma mentira no longo prazo.
O livro só entrega suas verdades lá para o final. Admito que esperava algumas coisas, mas em outras fui pega de surpresa, algo que adoro neste tipo de livro. Impressionante como a cidade prontamente aceitou a história de Pelley e deu o caso como encerrado, sendo que havia muito mais. Rachel e Trinity formam uma dupla improvável ao longo da leitura, já que elas se bicaram no começo e Rachel deixou claro que o caso de Leena estava encerrado. Além de Rachel, Trinity também vai atrás dos colegas de escola de Leena, que seguiram com suas vidas, se casaram, tiveram filhos e parecem todos sustentar a mesma versão dos fatos. Estariam eles escondendo coisas também? Foi o que Rachel também pensou na época.
Uma coisa que me peguei pensando conforme a leitura prosseguia era sobre a culpabilidade de Pelley: se ele é culpado de algo, então do que é? Percebi logo que White não facilitaria em nada a minha vida e não tive outra opção a não ser ler até altas madrugadas e comprometer meu trabalho no dia seguinte. Pra quem curte este tipo de literatura, fica aí o aviso de que você também não vai conseguir parar de ler.
O livro está bem diagramado e revisado, com uma ótima tradução de Júlia Serrano. Não encontrei grandes problemas de revisão nele.
Obra e realidade
Podcasts de true crime já ajudaram as autoridades às autoridades a rever ou resolver casos da vida real. Adnan Syed cumpriu mais de 20 anos de prisão por um crime que não cometeu e que foi anulado pela Justiça americana em setembro de 2022 graças ao podcast Serial. Em sua primeira temporada, o programa abordou o caso e os erros que levaram à condenação de Syed.O podcast sobre o assassinato da socialite brasileira Ângela Diniz, em uma casa na Praia dos Ossos, com apresentação de Branca Vianna, também chamou a atenção para o caso e ajudou a despertar o interesse das autoridades em reabrir o caso.

Loreth Anne White é uma jornalista e escritora sul-africana, radicada no Canadá, autora de vários livros de suspense.
PONTOS POSITIVOS
Podcast
Rachel e Trinity
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Temas pesados
Descrição dos crimes
Preço
Podcast
Rachel e Trinity
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Temas pesados
Descrição dos crimes
Preço
Avaliação do MS?
Não comecei com expectativas muito altas e terminei a leitura satisfeita com o enredo. A autora teve a sensibilidade de tratar de temas muito pesados, dando grande humanidade aos seus personagens e se utilizou do formato dos podcasts para dar vazão à sua ideia. Se você curte esse tipo de livro, pode se jogar nesse aqui. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você também ler.
Até mais!
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