Resenha: Ave de Rapina, de Dave McKean

Conheci o trabalho de McKean depois de ler Black Dog - Os Sonhos de Paul Nash, de 2018. Também lançada pela DarkSide, a graphic novel fala das experiências de Paul Nash, pintor surrealista britânico, nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. Assim, já sabia o que esperar do trabalho de McKean em seu novo trabalho, Ave de Rapina.

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

A graphic novel
A trama de Raptor é dividida em dois mundos. Em um deles, o caçador de monstros Sokół vagueia por uma paisagem feudal mística, matando feras bizarras como ganha-pão para aqueles que podem pagar. O outro reino é o País de Gales do século XIX, lar de um autor de histórias de fantasmas cuja dor pela morte da esposa o leva a círculos ocultistas na esperança de fazer contato com ela mais uma vez. O vínculo que os une é inexplicável, mas cada protagonista entra em um espaço onde as linhas entre a verdade e a imaginação se confundem e desaparecem.

Resenha: Ave de Rapina, de Dave McKean

Começamos com nosso protagonista, que usa uma máscara e tem uma ave de rapina de estimação. A primeira parte do livro é narrada de maneira bela, enquanto Sokół fica parado na praia e seu pássaro luta contra o que parece ser um crustáceo gigante. Após a luta, ele encontra na praia uma moeda antiga, cujo dono passa a ser “maer” da cidade, mas Sokół não a quer e a dá a um dos moradores da cidade.

Em seguida, estamos em Gales, onde um jovem Arthur acaba de enterrar sua esposa. Seu irmão o convence a ir com ele a uma sociedade secreta, onde possam se comunicar com o além-mundo. Enquanto isso, Sokół vagueia por um bosque, encontra um prédio em ruínas, tira um livro da estante e começa a lê-lo. O livro nos parece um pouco familiar e, mais tarde, quando Sokół está em um pub, ele percebe que as palavras do livro mudaram desde que ele o leu, algumas horas antes. Acontece que Sokół é o personagem do último livro de Arthur, e quando Arthur mudou algumas coisas que havia escrito, Sokół viu as mudanças aparecerem no livro que estava lendo. Cada um deles descobre rapidamente que pode “se comunicar” dessa maneira e, portanto, o livro assume um aspecto um pouco mais metafísico. O autor é Arthur Machen, famoso por seus enredos sobrenaturais.


A atração pode ser súbita e impulsiva, escarlate nos dentes e nas garrras.

Como era de se esperar de McKean, Ave de Rapina é impressionante de se ler e cheio de uma beleza sombria e encantadora. Em termos de história, acho que os personagens precisavam de um pouco mais de espaço para se desenvolver, mas como uma história de perda, tristeza e o poder da conexão entre mundos, é um trabalho intrigante e introspectivo, do qual McKean faz bom uso do meio, misturando perspectivas e as duas realidades uma na outra como Arthur se esforça para apenas mais um vislumbre de sua esposa recentemente falecida.

A graphic novel é uma meditação sobre a dor, sobre como superar perdas que parecem insuperáveis. Arthur está deprimido pela perda da esposa, não sabe como viver sem ela e não vê outra maneira de sanar essa dor sem o uso do sobrenatural. Escrever sobre Sokół é um tipo de catarse para ele, mas até onde Arthur pode ir sem fazer com que seu personagem passe por situações terríveis?

McKean conta uma história de superação com muita maestria, conectando os personagens através dos mundos. O autor sabe lidar com coisas que não se parecem monstros, mas que são igualmente monstruosas. O autor nunca entrega coisas demais, mantendo tudo com certa opacidade, mas sempre mantendo o subtexto. Arthur demora, mas começa a superar sua dor, vendo o mundo de uma nova maneira, enquanto Sokół começa a se abrir ao mundo, pensando que seu propósito nele pode ser maior.

A arte de McKean é sublime. Não tem outra palavra. Desde as cores, indo para as formas e a combinação de cenários com as formas dos personagens, os quadros trazem tantas informações que é preciso tomar um tempo para admirar toda a composição da cena antes de seguir adiante com a leitura. A edição é em capa dura, com papel branco no miolo. A tradução está ótima e ficou com Bruno Dorigatti e Paulo Raviere. Não encontrei problemas de revisão ou diagramação.

Obra e realidade
Arthur Machen, pseudônimo de Arthur Llewellyn Jones foi um escritor, tradutor, crítico literário, jornalista e ator de teatro galês, famoso por seus contos e novelas de terror e fantasia no final do século XIX e começo do século XX. É o autor de O grande deus Pã, obra que inspirou vários autores contemporâneos, como Stephen King. Publicado originalmente em 1894, as resenhas da época exaltaram seu conteúdo de horror e sexual e o livro foi um sucesso, ganhando inclusive uma segunda edição.

McKean se interessou por Arthur Machen, em especial por seu envolvimento com a Ordem Hermética da Aurora Dourada após a morte da sua esposa en um desejo desesperado de vê-la novamente. Esse foi o ponto de partida para as narrativas gêmeas e os mundos separados por um véu que pode ser penetrado sob pressão, colapso, tristeza, amor, criatividade e que se tornaram a estrutura do livro.

Dave McKean
Dave McKean

David "Dave" McKean é um quadrinista e ilustrador inglês, além de cineasta e músico. Seu trabalho incorpora desenho, pintura, fotografia, colagem digital e escultura.

PONTOS POSITIVOS
Sokół e Arthur Machen
Empatia, solidão, luto
Referências literárias
PONTOS NEGATIVOS

Preço


Título: Ave de Rapina
Título original em inglês: Raptor: A Sokol Graphic Novel
Autor: Dave McKean
Tradutores: Bruno Dorigatti e Paulo Raviere
Editora: DarkSide
Páginas: 144
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Este livro é mais uma obra de arte de Dave McKean. Dentro de nossas cabeças e vidas existem mais aspectos sombrios do que qualquer artista poderia ilustrar e ele soube muito bem como conectar ficção e realidade usando a figura de Arthur Machen. Cinco aliens para Ave de Rapina e uma forte recomendação para você ler também.


Até mais! ♥️

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