Através do vazio vem sendo comparado imediatamente a Perdido em Marte, uma comparação que acho bem injusta, apenas porque os dois falam de uma luta pela sobrevivência no espaço. Uma astronauta da NASA luta para voltar para casa após uma misteriosa falha na missão que levou os seres humanos a Europa, a lua de Júpiter.
O livro
Nossa jornada começa com Maryam Knox, ou May, acordando na enfermaria da nave Hawking II. Ela está desidratada, fraca, confusa, sem entender o que está acontecendo, nem porque ela está ali. Sua memória está fragmentada, instável. Ela lembra de eventos do passado, mas não consegue lembrar do que aconteceu na nave. A enfermaria está em completa desordem e a inteligência artificial da nave não tem muitas informações para ajudá-la a entender o que estava acontecendo. Se a nave não for colocada no curso e rápido, May nunca voltará para casa.O livro sinaliza uma mudança de alvos preferidos para missões espaciais no sistema solar que vem em curso nas últimas décadas. Se antes nossos alvos favoritos eram a Lua ou Marte, com o avanço da ciência e da observação estamos expandindo os limites das viagens pelo sistema solar na ficção científica. Europa Report, um filme que eu adoro, também usou como enredo uma viagem tripulada a Europa, uma lua de Júpiter que, acredita-se tenha um oceano aquecido sob o manto de gelo e condições de abrigar vida. A missão da Hawking era levar uma imensa equipe de cientistas e tripulantes para uma expedição em Europa, para trazer amostras e quem sabe provar que há vida sob o manto de gelo.
Quem ajuda May a se erguer e a começar a compreender a situação em que está é a inteligência artificial da nave, que ela apelida de Eva, em homenagem à mãe. E isso é algo extremamente importante para a exploração espacial poder vicejar no futuro, uma IA capaz de ajudar a tripulação e a manter a nave funcionando. Sem uma pesquisa de ponta nas IAs e em exploração espacial, acredito que não teremos mais missões tripuladas no futuro.
A mente humana não foi concebida para compreender a expansão infinita do universo e o silêncio frio e absoluto do vácuo.
Página 121
Este é daquele tipo de livro que você vê que o autor não teve NENHUMA noção do que é ser uma mulher no espaço nem como a NASA trataria de certas questões ao enviar mulheres em uma longa missão espacial. É mais um caso de um homem que sentou a bunda numa cadeira e achou que estava fazendo um excelente trabalho ao colocar uma mulher negra no comando de uma nave estelar sem uma pesquisa mais profunda. Mas tudo o que ele fez foi mirar no protagonismo e acertar no estereótipo batido. A missão espacial tão incrível do começo, toda a sensação de solidão e vazio da personagem do começo do livro foi deixado de lado pelo dramalhão de novela mexicana que domina o restante da narrativa.
Uns anos atrás em um podcast eu comentei que Perdido em Marte seria muito diferente se fosse uma Marta Watney no lugar do Mark. Muitos autores ainda carregam suas personagens femininas com a emoção, com o drama, com os chiliques, com as crises, que seus personagens masculinos não têm. Ainda se vê a mulher como uma criatura sensível, instável, que vai pirar numa situação tão adversa como estar longe de casa em uma nave espacial ou uma base marciana. E May não foge UMA VÍRGULA desse estereótipo. É tanto erro, tanto, que eu cheguei num momento de leitura dinâmica porque não aguentava mais a vergonha alheia. E a missão para Europa, sabe? Essa some do contexto.
May é uma personagem péssima. Mas não por ser bem construída ao ponto de ser irritante, ela é má construída pela mão negligente do autor. Os outros personagens também são meras caricaturas. São tantos problemas, que não dá para detalhar todos eles aqui, ou darei spoilers do enredo. Apenas queria dizer que existem coisas ali que o autor não parou um segundo para pensar para perceber que não ocorreria em uma missão espacial, ainda mais para um lugar perigoso como uma lua de Júpiter. Simplesmente não dá para suspender a descrença assim. Nem dinamitando a descrença de tanta coisa simplesmente inverossímil para uma história que deveria se basear em uma missão espacial dentro do sistema solar.
O livro em si tem uma capa lindíssima, está bem traduzido por Renato Marques e bem diagramado. Apenas questiono porque NASA saiu em letras minúsculas no livro todo.
Obra e realidade
Apesar de amar ficção científica e ser fã de livros de exploração espacial, é preciso ser realista quanto às limitações da nossa tecnologia e boa vontade para enviar missões ao espaço. Se a ciência tivesse a mesma verba que as guerras recebem, por exemplo, é bem capaz que essa missão para Europa já tivesse saído do papel há muito tempo. Temos muito o que fazer na Terra ainda, mas não podemos deixar de olhar para o céu e imaginar o que tem lá fora à nossa espera.S. K. Vaughn é o pseudônimo de um roteirista de Hollywood do qual nada se sabe (mentira, é o Shane Kuhn), nem sei se quero saber mais e este é seu primeiro, e espero que seja seu último, livro de ficção científica.
PONTOS POSITIVOS
Inteligência artificial
A capa
PONTOS NEGATIVOS
Cansativo
Longos diálogos ruins
Personagens mal construídos
Inteligência artificial
A capa
PONTOS NEGATIVOS
Cansativo
Longos diálogos ruins
Personagens mal construídos
Avaliação do MS?
É, uma pena. O começo do livro é bom, a missão em si, a solidão do espaço, os problemas tecnológicos apresentados à personagem. Mas o autor não fez a lição de casa e escreveu sem controle algum sobre as coisas que fazia e estragou o livro da metade em diante. Saber que os direitos para o cinema já foram vendidos dá até aquela dor no coração. Três aliens para o livro. E olhe lá.Até mais!
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