Uma família perfeita. Um casal que se ama, um bebê amado e bem cuidado. Uma casa paradisíaca em um recanto na Suécia. Que vida perfeita, não é mesmo? Só que não. Este livro tem uma coleção de personagens dúbios, que guardam segredos, personagens capazes de crueldades inimagináveis se você quiser acompanhar seus atos e seus passos.
O livro
Sam e Merry se mudaram para a Suécia para uma casinha provinciana e isolada. Parece que o casal vive um conto de fadas. Com um bebê e uma casinha aconchegante e tranquila, com uma horta e uma floresta ao redor, eles parecem a família perfeita. Merry parece bem ajustada à sua vida de mãe e dona de casa, servindo ao marido e ao filho. Sam parece um marido atencioso, dedicado à família, dedicado a fazer a todos felizes. Mas tudo isso depende das aparências. Depende de Sam parecer um bom homem, depende de Merry parecer uma mulher que ama o filho e que ama ser dona de casa.É bem óbvio que aquela felicidade cristalina do casal não passa de uma farsa. Achei bastante pertinente que a autora tratasse de um tema que é quase tabu entre as mulheres: o fato de muitas delas terem filhos e não se sentirem mães. Muitas nem mesmo conseguem se conectar aos seus filhos. É o caso de Merry. Não são poucas as situações em que ela larga o bebê no quarto e passa o dia vendo televisão quando o marido não está em casa. Há uma infelicidade latente na personagem de Merry que muitas mulheres em sua condição logo se compadeceriam.
Se compadecer dos personagens não significa perdoá-los ou até mesmo simpatizar com eles. Cada um ali tomou uma decisão rumo à escuridão que se agiganta diante deles. Cada um carrega e vai carregar segredos terríveis para sempre, cientes de que tiveram uma parte nisso. A vida do casal já não era perfeita antes que a melhor amiga de Merry, Frank, chegasse para passar algumas semanas com o casal e quase monopolizar o bebê Conor e a casa de Merry. A inveja, a competição entre elas, as histórias de uma infância não resolvida, tudo isso borbulha até explodir.
Às vezes acordo e encontro o bebê em meus braços, mas não me lembro de tê-lo pegado. Ele grita e acorda e vou até o berço e o vejo ficar vermelho e irritado, lágrimas escorrendo por seu rosto, berros violentamente presos na garganta. Um metamorfo feroz e furioso da floresta. Refuto em pegá-lo no colo, odeio reconfortá-lo - apesar de ser isso ser tudo o que ele quer de mim, tudo o que me pede. Não posso lhe dar. Só consigo ficar parada observando, quieta e imóvel, até ele parar de chorar, exausto demais para continuar.
Página 29
Admito que me perdi durante a leitura pela forma como a autora coloca os diálogos. Sem travessão ou aspas, os diálogos começam e param no meio das frases e se você não souber onde parar ou começar, pode perder informações. Isso é superado pela forma como vamos conhecendo os personagens. Quando você acha que não vai ter mais surpresas a respeito de cada um deles, POW, surge algo que te atordoa e te faz compreender as ações que leu páginas atrás.
Cada personagem compete para ser o mais odioso da história, até o vizinho simpático do casal, porém é Sam quem realmente se destaca pela falsidade e nojeira. Quer engravidar Merry de novo de qualquer jeito, mesmo que ela não queira, mas mantém casos em tudo quanto é canto. Um homenzinho de merda da pior espécie que ainda culpa as mulheres por seu comportamento. Quantos desse tipo a gente já não viu por aí? Aí que tá: cada personagem parece ser uma pessoa qualquer com quem você trabalha. Eles foram bem construídos, até mesmo nas partes mais sombrias.
É um livro bem curto, menos de 300 páginas, coisa que dá para ler em um dia. Justamente por ser um livro curto que achei que o final não ficou bem amarrado, apesar de resolver boa parte dos problemas dos personagens. Mais umas páginas teria amarrado melhor o final. Talvez a autora esperasse que a gente preenchesse os espaços, mas para mim faltou coisa.
A edição em páginas amarelas e brochura pintada de vermelho está bem revisada e diagramada, com pouquíssimos erros de digitação ou tradução, que ficou nas mãos de Carolina Selvatici. Continuo aqui o meu apelo para que a editora Intrínseca reconheça o trabalho dos tradutores e coloque o nome ao lado do nome do autor na página de apresentação de seus livros nas livrarias online.
Sam gosta de mim ao natural, diz ele. Isso significa magra. Bem-arrumada. Depilada. Lavada e hidratada, macia como uma fruta madura.
Página 39
Obra e realidade
Desde Garota Exemplar que nós temos uma leva criativa e sombria de autoras trabalhando o lado sombrio da feminilidade. Se eu não gostei de Garota Exemplar, este livro aqui foi diferente. Gostei e me indignei com os personagens num nível que eu não fazia há muito tempo. Acho de extrema importância tratar de temas como a solidão feminina, a maternidade compulsória, os instintos assassinos e problemas psiquiátricos que muitas autoras estão discutindo, além de claro contar boas histórias. Quantas mulheres pensam, com culpa e medo, o quanto suas vidas seriam diferentes sem filhos? Elas precisam ser acolhidas e ouvidas e não abandonadas como Merry foi neste livro.Michele Sacks nasceu na África do Sul e mora na Suíça. Mestre em literatura e cinema, foi indicada ao prêmio da Commonwealth para contos em 2014 e duas vezes ao South African PEN Literary Award. Você nasceu para isso é seu romance de estreia.
PONTOS POSITIVOS
Bem escrito
Aventura
Cachorro Tim
PONTOS NEGATIVOS
Muito curto
Pode ser lento em algumas partes
Bem escrito
Aventura
Cachorro Tim
PONTOS NEGATIVOS
Muito curto
Pode ser lento em algumas partes
Avaliação do MS?
Um livro que você lê rápido porque não quer parar, um livro que vai te deixar surpresa e sem fôlego pelas implicações de cada ação daqueles personagens. Quem é fã dos thrillers psicológicos, o lado sombrio da maternidade e personagens cruelmente humanos, vai curtir este livro. Quatro aliens e uma forte indicação para você ler também.Até mais!
Botei esse livro na minha lista de leitura e comecei hoje. Achei lento e enjoativo o começo, a felicidade descrita me deixou um pouco agoniada. Vim atrás de resenhas pra ver se ia ser só isso mesmo, mas não hahaha Muito obrigada pela resenha esclarecedora!
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