O mundo vem passando por uma crise de refugiados sem precedentes. Milhões de pessoas deixaram e ainda deixam suas casas rumo à Europa, andando, em botes, em busca de uma vida segura, de emprego, de felicidade. Encontram truculência, péssimas condições, frio, violência e preconceito. Alguns voluntários tentam tornar a vida dessas pessoas menos miserável e uma delas era Kate Evans, ilustradora, mãe e ativista francesa.
O livro
Kate começa contando sobre o panorama dos refugiados em 2015: mais de 1 milhão deles chegaram à Europa; cerca de 3400 morreram no caminho. Desta massa humana, muitos acabaram em Calais, (França) na esperança de atravessar para a Inglaterra. Calais é famosa por suas rendas, tanto que o livro tem várias delas ilustrando as contra capas e até a fitinha de marcação é de renda. Kate precisou alterar nomes para preservar identidades e em alguns casos fundir histórias, mas o que ela ilustra na obra realmente aconteceu.![Resenha: Refugiados - A Última Fronteira, de Kate Evans](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLvd1GJy_GZSjUnDNHMUh6tSRcBH_M-LPdJt2ZllVK5mdvUJkmj8jdu1MEWWAKdpixAj_2mWv6u-jZQB_v89VNzkV_zP8UseFdummE6jyS1N_5sR9Bxu4sjAiHgiZNu5L09hQovAPjKIE/s1600/resenha-refugiados-kate-evans-darkside.jpg)
O campo de refugiados era um imenso aglomerado de pessoas das mais diferentes nacionalidades. Como Kate chama, "um microcosmo das Nações Desunidas". As pessoas precisam de tudo, principalmente de esperança e interpelam todo mundo na tentativa de pedir ajuda para atravessar. Ela estava lá para ajudar a construir abrigos improvisados e acabou como testemunha dos eventos. Enquanto acompanha as histórias das pessoas com quem conversa, Kate coloca pontos de vista preconceituosos que recebe em seu celular e de alguns políticos, como Marine Le Pen.
Refugiados tentam invadir o Eurotunel para chegar ao outro lado do Canal da Mancha, tentam carona em caminhões, alguns morrem tentando. Kate muitas vezes olha para as crianças do campo e pensa nos filhos e nos privilégios deles quando comparados com aqueles meninos e meninas, muitos deles órfãos. Chegaram sozinhos e assim permaneceram no campo, alguns deles desapareceram dali e nunca mais se teve notícia.
O que estamos fazendo, falando sobre Calais, nos parabenizando pelo nosso fabuloso esforço de socorro? A questão não é sobre um bando de benfeitores brancos de classe média numa festa de caridade.
Página 55
Mesmo aqueles que tinham parentes na Inglaterra eram proibidos de entrar no país. O parente podia ir pessoalmente a Calais e não conseguia levar o parente para casa. Truculência da polícia era comum, além de suas regras arbitrárias, como proibir a entrada de pão e até lençóis. Doações chegavam todos os dias e um batalhão de voluntários se prontificava a separar o que era bom do que não era.
Há muito lixo, muita lama e restos espalhados pelo lugar e no meio disso crianças, mulheres grávidas, gente que não tem nada, mas sorri e prepara um chá com as poucas condições que têm. Na tentativa de fazer algo por eles, Kate começa a fazer retratos, conforme conversa com eles. Jovens que fugiram para não serem obrigados a servir em exércitos, famílias inteiras fugindo de bombardeios.
No centro de arte do campo, voluntários levaram papel, canetas, tinta e pincéis. Adultos e crianças começam a criar, pintar, rabiscar, qualquer coisa para esquecer o que viviam. A falta de saneamento básico levou os Médicos Sem Fronteiras a processar o governo francês e eles foram obrigados a fornecer banheiros químicos e coleta de lixo. São coisas tão básicas, tão primárias, que você se pega pensando nisso e em como sobreviver sem elas.
![Marine Le Pen discursando contra os refugiados, dizendo que os países deveriam erguer muros em suas fronteiras para impedi-los de entrar](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJFOzc1XKYQKU-17pA_yirS-7K8gbHhW-6tt23m93jWzJbw5fD5sAE6w0zgQc_kVS2KAG9aDe4Y1rGgWWScANwim5nL6Y4CDOsDh6am4bQ7qOxoM8b8bH0pIO0oOR46DKus4pwBg-pB4s/s1600/Marine-le-pen-refugiados-kate-evans.jpg)
As ilustrações são coloridas, vívidas, algumas delas entremeadas com fotos reais tiradas por Kate. São muitas histórias, muitas tragédias que deveriam e poderiam ter sido evitadas se um esforço real existisse da parte dos governos. Políticos da extrema direita acusam imigrantes de serem a causa de tanta pobreza e erguem discursos populistas na tentativa de causar ainda mais discórdia.
A edição contra com o capricho demoníaco da DarkSide. É em capa dura, muito bem acabada e com papel nobre. Uma fita de renda serve de marcador. A leitura é rápida, mas achei que alguns balões de texto em diálogos e descrições parecem meio desconectados. Voltei a leitura várias vezes em alguns momentos porque fui para uma linha que não devia.
Obra e realidade
129 crianças solitárias desapareceram do campo durante os despejos.
Ninguém jamais saberá o que aconteceu com elas.
Página 166
Em 2016, alguns dos refugiados foram para um novo campo aberto por organizações humanitárias, como os Médicos Sem Fronteiras e a prefeitura de Dunquerque. Mas os despejos ocorridos em Calais foram violentos, desumanos, cruéis. A polícia francesa vinha cometendo excessos desde o início da crise e dessa vez não foi diferente. O campo de Dunquerque é urbanizado, com cozinhas comunitárias e com cômodos privados para as famílias ao invés de casas de lonas. Mas nunca serão um lar. Kate sabe disso e se ressente por não ter condições de ajudar todo mundo. Acredito que qualquer pessoa com um mínimo de empatia se sentiria assim também.
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Kate Evans |
No final, Kate mostra alguns dados sobre o impacto econômico da imigração. Se as barreiras contra ela caíssem, o PIB dos países poderia dobrar. O que de fato impede os imigrantes de entrar em uma nação é o preconceito. E aponta que os mesmos países contra a imigração, que mais se usam de truculência contra eles, são alguns dos maiores exportadores de armas do mundo. Guerra traz lucro, lutar contra a desigualdade não.
A desigualdade prejudica nossa economia, enfraquece o tecido da nossa democracia e fortalece a ascensão da extrema direita. De alguma forma é mais fácil culpar as pessoas mais pobres da nossa sociedade por nossas dificuldades do que as mais ricas.
Página 175
PONTOS POSITIVOS
Ilustrações e arte
Histórias reais
Colorido
PONTOS NEGATIVOS
Balões de textos
Ilustrações e arte
Histórias reais
Colorido
PONTOS NEGATIVOS
Balões de textos
Avaliação do MS?
![Essencial!](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBMoIMl_sSx65I-NB_HY6B1tERmuvbZsb1YKNtWsASECPozXDE3Q_qjnwkc8gqMCoGoqUmCVsMzqB8TDG9IfD0KzJ5E231JpizK9gOJ2m6K8AQAEmCppE5wLQKx5vatFvhXeQCoelRkoQ/s170/essencial.png)
Até mais!
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Me interessei bastante pela leitura. Agora estou na pegada de ler livros mais políticos (até mesmo pela nossa conjuntura atual, o que acredito ser muito importante para entender e poder também debater). Refugiados é um tema que estou sempre lendo sobre, e é bizarro para mim enxergar como os políticos de alt-right ganharam tanta força. Brasil, França, Itália, EUA. Eles estão todos aí, ameaçando a democracia e incitando o ódio.
ResponderExcluirA Darkside é uma das minhas editoras favoritas e sempre capricha nas edições.
Beijo (http://elasdisseram.com)