Quando vi o trailer da nova versão de Perdidos no Espaço, produzida pela Netflix, fiquei bem ansiosa com o que encontraria. Eu nunca fui muito fã da série original, especialmente a visão de família perfeita norte-americana vivendo aventuras espaciais. O filme de 1998 pode não ser muito bom, mas na época lembro de ter curtido bastante. A versão da Netflix segue o modelo de outras séries, reinventando conceitos e trazendo novas roupagens, mas diferente do que foi feito em Star Trek Discovery, aqui a reinvenção deu certo.
Família Dó Ré Mi, adiós!
A família Robinson enfrenta um drama familiar. O casal está para se separar, a Terra está passando por grandes mudanças climáticas e ambientais e quem pode está se mandando para Alfa Centauro depois de uma série extenuante de testes. Maureen Robinson (Molly Parker) é engenheira aeroespacial - diferente da série clássica, em que ela era bioquímica - e seu marido, John Robinson (Tobby Stephens), é fuzileiro naval, que passava boa parte do tempo longe da família, alistado. Os três filhos do casal, Judy, Penny e Will estão bem acostumados com a ausência do pai.Aqui já temos uma grande mudança em relação à família original. O verdadeiro cérebro da família é Maureen, que projetou a Júpiter e é responsável por uma boa parte do planejamento da missão. Nota-se a tensão entre ela e o marido, que embarcou com a família para Alfa Centauro. A filha mais velha, Judy, não é filha de John, mas isso não os impede de ser uma família. Aliás, isso mal é mencionado no episódio, eles são pai e filha, ponto. Esse novo arranjo e as tensões familiares geradas por eventos externos deixaram a família mais real para os tempo atuais, sem ter que replicar o "modo de vida americano" vigente na época da série clássica.
Quando o primeiro episódio começa, a família cai com sua Júpiter - já que a missão possuí dezenas delas - em um planeta habitável, porém hostil. Eles terão que se valer de técnica, inteligência e conhecimento para poderem sobreviver sem sua nave. Como várias outras naves sofrem acidentes semelhantes, logo encontramos a famigerada Dra. Smith.
Quem é a Dra. Smith?
Devo dizer que a atriz Parker Posey está de parabéns. Eu sempre achei o Dr. Smith um vilão caricato e meio mala, mas a Dra. Smith está de fato e verdadeiramente má e leviana nesta série. Seus atos de bondade e compaixão são friamente calculados, ela não perde a máscara nem por um instante. Quando ficamos sabendo de suas verdadeiras motivações, aí é que dá mais raiva mesmo.A forma como ela manipula a todos com quem convive já mostra o quanto Smith está determinada a se sair bem nessa história toda. Você fica deste lado, acompanhando os episódios, torcendo para que ela dê alguma mancada, contudo ela é inteligente demais para fazer isso. Temos partes de sua história e seu passado a cada episódio novo, isso talvez nos dê uma compreensão maior de suas motivações. Resta saber agora o que ela fará na segunda temporada.
Perigo, Will Robinson
O robô ganhou uma repaginada completa nesta nova jornada. O que antes era fruto de engenharia humana, agora ganha uma origem misteriosa e com uma nova configuração. Mesmo sem possuir uma "cara", o robô consegue ser bastante expressivo. Uma mistura de efeitos gerados em computador com um ator de verdade usando uma pesada roupa de robô, ele tem um papel central na trama e será o catalisador de muitas cenas de tensão e reviravoltas, em especial no último episódio, que é fantástico.A presença do robô explicita várias coisas, mas a explicação mesmo deve vir só na segunda temporada. Por exemplo, o fato de a raça humana ter uma tecnologia espacial avançada em um período tão breve no futuro, apenas 47 anos a partir de agora; o que aconteceu na Resolute, que é a nave rumo a Alfa Centauro onde as Júpiteres estão atracadas e como a Júpiter da família Robinson vai, de fato, se perder. Atente-se para as cenas do robô, há muito o que se ler nas entrelinhas das mensagens que ele passa.
Não é só aventura
Em um determinado momento Don West (Ignacio Serricchio) comenta que as pessoas vão ao espaço em busca de algo que muitas vezes elas mesmas carregam. Ao tentar deixar um planeta para trás, com sua corrupção, ganância, medo, elas acabam levando consigo tudo isso, junto e misturado. Por mais treinamento que uma pessoa receba para situações assim, não dá para impedir que o lado irracional de um ser humano acabe surgindo.O que antes eram episódios focados em aventuras espaciais com um final feliz, voltam-se para investigar as ações e reações humanas enquanto precisam batalhar pela sobrevivência. A televisão mudou muito da época do lançamento de Perdidos no Espaço e os episódios tentam balancear a nova roupagem com as dinâmicas sociais atuais, o que leva a episódios que trazem o drama familiar dos Robinsons, a tensão pelo ambiente em que estão (e se vão sobreviver a ele) e a luta para conseguir voltar para a Resolute antes que ela deixe todos para trás.
Vários episódios foram roteirizados e dirigidos por mulheres, o que me agradou muito, ainda mais em uma série de ficção científica. Os efeitos especiais estão balanceados e na medida, as cenas não dependem exclusivamente deles para funcionarem. E atente-se que existem easter eggs pelos episódios, como o Will Robinson original, Bill Mummy! E claro, nem Debbie ficou de fora da nova versão e você vai torcer por ela ao longo dos episódios!
No mais, se você me perguntar "e aí, posso assistir?", minhas resposta será DEVE. Eu não ficava tão empolgada com uma série de FC desde a estreia de Humans.
Até mais!
Fui criança nos anos 1960 e os sábados a noite eram sagrados para assistir a Perdidos no Espaço tudo em bom preto e branco das TV brasileira da época.
ResponderExcluirQuando saiu a serie em DVD comprei e assisti novamente todos os episódios. A série dos anos 60 mostrava o mundo de outra forma, onde os assuntos sérios e divergentes eram mantidos atras das portas dos quartos do adultos. As crianças da minha geração basicamente viviam em outra realidade onde tudo era perfeito. O resultado é que alguns de nós não amadureceu preparado para enfrentar a crueza da vida. Falo aqui da família classe media brasileira onde fui criado.
Esta nova série, da qual só assisti a três episódios ate agora foi, como você relatou, totalmente repaginada, um upgrade completo. E o resultado para mim, fã de carteirinha radical, foi muito positivo, a nova Dra Smith, ideia sensacional de mudar o personagem em 360º, está realmente brilhante, o robot original era, bem sem comentários, este novo creio que nos dará boas doses de diversão daqui para frente, gostei de tudo até aqui.
O único ponto é, não devemos comparar os personagens atuais com os anteriores, porque são pessoas totalmente distintas com o mesmo nome.
Sua resenha foi no ponto e bem acertada, parabéns por compartilhar suas ideias.
Olá!
ResponderExcluirAh, a série é boa! Principalmente pelo arco familiar ter ficado mais real e maduro. A vilã é bastante complexa, muito legal.
E a trilha sonora de suspense dá uma seriedade à série.
Mas no geral, não deixam de cada personagem ter um "clichê", mesmo que bem trabalhados e com novidades. Muito legal o "lugar de fala" original de cada personagem, ainda não tão comum nas fic. científicas.
A série se resume, em cada episódio: "1 tá tudo bem - 2 acontece um problema - 3 meu Deus, vai morrer todo mundo - 4 ufa, uma solução científica de último momento". Então é uma série legal e até leve, mas é uma série estilo "sessão da tarde".
Poderia ser sobre colonos no Velho Oeste, mudando um pouco a tecnologia (ainda a combustão!), mas a série não mudaria em nada!
(só o Robô seria difícil de substituir nesse cenário rsrs)
Espero ter mesmo a segunda temporada, se o arco do Robô "monofrásico" não for explicado, sobretudo com um final tão aberto, vai ser aguniante!
Só para constar, o Don West (até o número de letras bate com Han Solo) é de longe um dos personagens mais divertidos de todas séries de Ficção Científica hahaha
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