A sinopse realmente chama a atenção. Altos elogios, "uma declaração de amor aos anos 1980". E como fui criança durante os anos 80, obviamente que o livro me chamou a atenção. Porém, muita coisa aqui poderia ter sido diferente e deixado o livro muito melhor do que o apresentado aos leitores.
O livro
Três amigos de 14 anos moram em uma cidade provinciana no estado de Nova Jersey, chamada Wetbridge. Will, Alf e Clark são os típicos garotos tímidos, que não namoram, mas que admiram as mulheres nas capas das revistas. Will adora programação e costuma programar jogos em seu computador em casa. Os três ficam eufóricos quando descobrem que Vanna White, apresentadora do Roda da Fortuna, está na capa daquela edição. Como são menores, porém, não podem comprar a revista. Começa aí um plano perigoso para adquirir a revista.Eles são aqueles típicos adolescentes irritantes que conhecem todas as piadas indecentes, preconceituosas e machistas como qualquer garoto da idade deles, além de terem um profundo desconhecimento do corpo feminino. São tão obcecados por mulheres, que eles alugam Kramer vs Kramer diversas vezes apenas por uma cena de dez segundos de nudez. Isso é particularmente irritante durante a leitura, mas OK, a ideia do autor de juntar Will com uma garota programadora e até melhor do que ele foi bem legal.
A mãe de Will trabalha duro para sustentar o filho, trabalhando de madrugada, por isso o garoto fica quase que sem supervisão. Suas notas são uma desgraça e ele inventa mentiras ao chegar atrasado às aulas. Seus amigos pedem então a ajuda de um garoto mais velho para conseguirem a Playboy tão desejada e a opção que ele lhes dá é de roubar a loja do sr. Zelinsky, onde estão as revistas. Will não concorda, mas acaba entrando no plano pois sabe que a filha do dono da loja, Mary, é ótima com programação e pode ajudá-lo a ganhar um concurso. Preferia que ela inscrevesse um jogo seu, mas OK de novo, o jogo do garoto já estava pronto e assim eles começam a trabalhar na programação do Fortaleza Impossível.
Mary é gorda e os amigos de Will fazem questão de contar todo tipo de piada idiota. Alf, o mais escroto dos três, dá a ideia de fazer Will tentar "comer" a garota para conseguir o código do alarme da loja. Ou seja, é uma ideia imbecil depois da outra em todo o livro, com slutshamming e gordofobia rodando a torto e a direito. Entenda o seguinte: se faz sentido para a narrativa que o personagem seja escroto, tudo bem. Mas o autor pesou a mão. Demais. Muito. Ficou chato. Por ser gorda, eles acreditam que é só jogar um charme, que ela despejaria todos os seus segredos.
O segredo de Mary, que é inclusive o motivo para ser gorda, foi mal e porcamente explorado pelo autor. Tive a nítida impressão que ele não conversou com nenhuma garota daquela idade e naquela situação para saber como é, pois Mary simplesmente "não está nem aí" para o que aconteceu. A situação foi criada apenas para fazer Will se sentir ainda mais mal pelo que fez à ela e ao pai, para que ele aprendesse uma lição e não porque a personagem poderia aprender algo com isso ou crescer na trama. Foi desleixo mesmo, sr. Rekulak.
Há erros de digitação e revisão também. No começo de cada capítulo, há códigos de programação para um Commodore 64. No site do autor dá até para jogar o Fortaleza Impossível.
Existe uma porção de coisas que um garoto adolescente não conta para a mãe. Conforme envelhecemos, escondemos cada vez mais coisas, coisas que são muito difíceis de falar ou constrangedoras para explicar. Fazemos isso para proteger tanto nossas mães quando a nós mesmos, pois, sejamos francos, a maioria dos nossos pensamentos é realmente inconcebível.
Página 197
Obra e realidade
Lembrando dos garotos com quem convivi no colégio, vi algumas semelhanças entre os garotos do livro e os meus colegas. Se eles eram tão escrotos quanto esses três, alguns guardaram muito bem a idiotice. Alguns dos meus colegas eram na verdade bem legais e não contavam essas piadas babacas de Alf e Clark. Acho que foi isso que faz falta no livro. Will é, óbvia e descaradamente uma inspiração no próprio autor e o único garoto que tem algum remorso com as merdas que faz. Se ele realmente teve esses amigos descritos no livro, só posso imaginar como foi a adolescência dos três.Jason Rekulak é um escritor norte-americano. Fortaleza impossível é seu livro de estreia.
PONTOS POSITIVOS
Mary
Programação
PONTOS NEGATIVOS
Will
Alf
Clark e o resto
Mary
Programação
PONTOS NEGATIVOS
Will
Alf
Clark e o resto
Avaliação do MS?
Uma pena que um livro que fale de programação, de uma garota nerd e de um jogo em 8 bits, se passando nos anos 80, tivesse a péssima execução conduzida pelo autor. Só Mary se destaca, mas porque o protagonista precisa dela. As outras mulheres são a mãe de Will, que não tem bem função, você pode removê-la que o enredo prossegue. E Vanna White, o objeto de desejo dos garotos. Garotos podem ser podres sim, a gente sabe disso, mas até nisso a execução ficou ruim. Dava para fazer muita coisa no livro, inclusive os conflitos apresentados, sem apelar. Dois aliens apenas e só porque Mary Zelinsky merece.Até mais.
Eu amei esse livro, a leitura foi rápida e cheia de referências aos anos 80. O machismo contido no livro me pareceu bem desconstruído através da Mary... Mas de fato, você apontou coisas importantes como a falta de desenvolvimento da personagem com relação à revelação final. Ficou mais como um conflito do Will do que um conflito da Mary. Gostaria de ter entendido melhor toda aquela situação com o Tyler... Ótima resenha!
ResponderExcluirA parti de que idade indicaria este livro?
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