O pequeno indígena da Turma da Mônica entra em uma perigosa jornada para salvar sua tribo e seus amigos. Esta é uma história de terror, apesar de eu ter achado mais uma aventura do que terror em si, bem adulta e diferente das aventuras do nosso herói.
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A graphic novel
Papa-Capim é um pequeno indígena que está tentando se provar como guerreiro e como homem. Precisamos ter em mente aqui que para a cultura dele essa é uma idade de transição, não podemos encará-lo como uma criança branca. Um dia, ele encontra um guerreiro quase morto na floresta, tanto de corpo quando de espírito, sendo ele o último sobrevivente do ataque da Noite Branca. Ela está a caminho da tribo de Papa-Capim.O problema é que ninguém realmente acredita nele até que o perigo esteja próximo demais. Seus amigos, seus familiares, estão todos em risco. Papa-Capim vê seu espírito desafiado, sua capacidade de defender seu povo questionada e sente que chegou a hora da jornada. Papa é um personagem ativo, que pula de um quadro para outro enquanto busca uma maneira de impedir a aniquilação de sua tribo. É uma jornada do herói com roupagem indígena bem evidente.
A pesquisa dos autores é evidente e elaborada. Há muitas referências à cultura indígena, como o poema de I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias. Há referências a personagens do folclore descritos em livros do historiador Luís da Câmara Cascudo. A obscura lenda a respeito dos antagonistas também foi resgatada e trabalhada na obra. Marcela Godoy usou a lenda dos Tatus Brancos, indígenas canibais que amedrontavam os bandeirantes. Porém, utilizar o mito do vampiro europeu não foi tão legal assim. Não acho que havia necessidade de colocá-los no enredo. Usar os Tatus Canibais, que viviam em cavernas, pálidos e que enxergavam no escuro era o suficiente.
Os autores fizeram um grande trabalho com Papa-Capim, tirando dele a infantilidade que vemos no personagem original. Cafuné e Jurema também foram bem trabalhados e acho que simpatizei mais com os personagens aqui na graphic novel do que nos quadrinhos originais da Turminha. O clima obscuro foi bem trabalhado com a paleta de cores e as cenas de ação saltam aos olhos. Senti que da metade em diante a ação corre demais, numa tentativa de fazer caber tudo nas 82 páginas. A mensagem é positiva, mas só é possível captá-la ao ler os extras no final da graphic novel.
Ficção e realidade
Achei bem curioso o fato de ver tanta gente reclamando da graphic novel, porque os "brancos" são os "vilões". Sério, as pessoas faltaram nas aulas de história e esqueceram todo o genocídio indígena perpetrado pelos colonizadores, cuja herança ainda se sente nos dias de hoje? Não se engane, padawan, as Américas foram construídas sobre o sangue do povo indígena, na demarcação de reservas para povos originalmente nômades, na aculturação e doenças e opressão e preconceito. Reconhecer isso é o mínimo que qualquer pessoa decente deveria fazer.Porém, quem leu e não percebeu que há um componente de corrupção dos povos indígenas também faltou nas aulas de história. A lenda do Noite Branca como foi contada na graphic novel coloca que há sim participação dos brancos na destruição de povos indígenas, mas é fato que eles se uniram a outros povos para combater outras tribos, que usando da máxima de "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", não perceberam que isso contribuiria para a destruição de todos. Com a floresta em perigo, todos estariam arruinados, inclusive os povos brancos.
Eu era um menino, mas começava a tomar consciência das coisas. Foi lá que comecei a crescer e descobri os brancos. Eu nunca os vira, não sabia nada deles. Nem mesmo pensava que eles existissem. Quando os avistei, chorei de medo. Os adultos já os haviam encontrado algumas vezes, mas eu, nunca! Pensei que eram espíritos canibais e que iam nos devorar. Eu os achava muito feios, esbranquiçados e peludos. Eles eram tão diferentes que me aterrorizavam.
Davi Kopenawa Yanomami
Pontos positivos
Povos indígenasTerror e aventura
Jurema, Cafuné e Papa-Capim
Pontos negativos
Poderia correr menos da metade para o finalAvaliação do MS?
Mesmo com os evidentes problemas da produção e do enredo, a graphic novel é válida pela reformulação de um personagem que nunca me atraiu muito e por mostrar povos indígenas como protagonistas de suas vidas, chamando a ação para si e embarcando em uma jornada do herói. Ela poderia ser menos apressada e ter aproveitado melhor as lendas brasileiras ao invés de usar mitos externos, mas ainda é uma boa graphic novel. Quatro aliens.Até mais!
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