A Passagem é um livro que assusta muita gente, especialmente, por contar com mais de 800 páginas. Confesso que tive um pouco de preguiça de começar esse livro e mais preguiça ainda para terminá-lo. Livrões não me assustam, mas livrões chatos me incomodam muito. E em A Passagem temos alguns problemas.
O livro
Amy é uma menina retraída e assustada. Temos sua vida inicial contada com detalhes, a forma como foi concebida, um pai que batia na mãe, a falta de comida, a estrada e o carro onde morava com a mãe que precisava se prostituir. Enquanto temos flashes da sua vida, recebemos dados a respeito de um estranho vírus encontrado que aumenta e muito a longevidade do ser humano. Mas ele também pode matar e transformar as pessoas de uma maneira assustadora.
Algum tempo depois, dois agentes do FBI recolhem prisioneiros condenados à morte para serem usados em uma experiência do Exército. Eis então que chega uma ordem estranha, que o agente Wolgast treme ao pensar em cumprir: uma órfã foi deixada em um convento, cuja mãe foi acusada de assassinato. A experiência agora requer uma criança para testar o vírus. Ele não consegue deixar de pensar em sua própria filha, morta tão jovem e em seu doloroso divórcio.
O problema desse vírus é que ele tem transformado esses prisioneiros em seres abomináveis. Uns os chamam de virais, ou de fumaças, mas eles são parecidos com vampiros. Possuem uma grande sede por sangue, hipersensibilidade à luz e matam indiscriminadamente. Apenas alguns se transformam em virais, e somente Amy não foi transformada pelo vírus. Ela ficou com sensibilidade à luz, mas não se transformou. O agente Wolgast consegue tirá-la da base militar onde tinha passado por vários experimentos e se refugia nas montanhas. Conforme o tempo passa, ele recebe poucas informações de fora, mas sabe que tem algo errado. Até que Amy acaba sozinha.
O tempo então pula para mais de 90 anos. Temos alguns flashes sobre o desespero dos últimos dias, de como crianças foram embarcadas em trens, dos ataques, da escuridão e de como somente a luz potente poderia manter os virais longe. Até que chegamos à Primeira Colônia, onde alguns sobreviventes conseguiram se manter por décadas usando potentes holofotes sobre os muros para manter os virais longe. Poucos dados existem sobre "os dias de antes" e as pessoas vivem sem conseguir ver as estrelas nem se sentem tranquilas sob a escuridão.
A narrativa de Cronin é boa, mas poderia ser muito melhor se ele não ficasse narrando todo mero e mínimo pensamento de cada um dos personagens, da garçonete sem nome ao coronel responsável pelos experimentos. Isso quebrou a narrativa várias e várias vezes tornando-a exaustiva, porque você está naquela tensão e de repente cai na lembrança adolescente de um dos personagens secundários e de como ele ficou tímido de beijar alguém que não devia numa noite atrás do barracão ou sei lá o que. Ou então da lembrança da mãe de alguém morrendo, ou a lembrança de estar, pela primeira vez, no muro sob uma noite, tendo que abater os virais. Isso encheu o saco e tirou o gosto pela leitura.
Este é um recurso que, quando bem usado, é muito interessante. Mas Cronin exagerou nas lembranças secundárias e aí, de repente, você tem uma caralhada de pensamentos aleatórios que em nada contribuem para a narrativa. Além disso, o autor usou de eventos sobrenaturais e inexplicáveis para vários momentos do livro, como quando Amy está num zoológico, antes do experimento, os animais se aproximam dela e "dizem" o que ela é (e você não sabe o que ela mesmo depois de acabar o livro). Este tipo de evento sem explicação pode cair bem em algumas narrativas, mas ficou completamente aleatório em A Passagem e foi desnecessário.
Não li o livro físico e sim o ebook que está bem diagramado e bem traduzido por Ivanir Calado. A leitura foi lenta em alguns momentos, principalmente nas passagens sobrenaturais, que sinto que não tinham espaço nesse tipo de livro.
Obra e realidade
Uma coisa que o livro narra bem é o desespero que acomete o mundo com a chegada dos virais e o que restou das construções humanas após o apocalipse. Temos a sensação de estar em locais abandonados e toda a cena de Las Vegas foi carregada de tensão pela cidade vazia, abandonada, a decadência das construções. Isso passa uma sensação de extremo isolamento que os personagens também sentiam, pois acreditavam serem os únicos humanos no país, até mesmo do mundo.
Justin Cronin é um escritor americano.
Pontos positivos
DistopiaPersonagens femininas fortes
Pontos negativos
Narrativa arrastadaEventos sobrenaturais
Personagens aleatórios
Avaliação do MS?
Sou muito fã de distopias, mas Cronin errou a mão neste livro que é o primeiro de uma trilogia. O segundo volume, Os Doze, já foi lançado no Brasil e não estou com a menor pressa de ler. A Passagem tem eventos, personagens e situações aleatórias que o deixam exaustivo. Passei os olhos em vários momentos pelos parágrafos porque sabia que viria mais um pensamento aleatório daquele personagem que não ia viver muito tempo. Tive a nítida impressão que o livro não teve edição nenhuma, pois existem eventos demais ali que de nada servem. E mesmo os virais sendo essas criaturas vampirescas horríveis que deixam todo mundo cagando de medo, o leitor não sente esse medo todo. Três aliens para o livro.
Até mais!
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