Depois de um longo tempo lendo livros em português e depois de mais de ano de Nexus, meu primeiro e último livro em inglês de FC, resolvi me arriscar novamente. Tinha começado outros livros, mas consegui me dar muito bem com o estilo de John Scalzi e acabei lendo cinco livros dele, um seguido do outro. Para começar o período de resenhas de livros em inglês, temos aqui um universo meio cyberpunk, meio distópico, com robótica e muita representatividade.
O livro
O mundo foi assolado por uma doença cujos sintomas parecem com os da gripe. Mas para 1% das pessoas, o vírus deixa o corpo imobilizado e o cérebro totalmente consciente. Os nervos apenas ficam desconectados, por isso elas ficam trancadas dentro do corpo (lock in, síndrome do encarceramento). A doença acaba sendo chamada de Síndrome de Haden e os doentes chamados de Hadens, pois a primeira-dama dos Estados Unidos foi a sua primeira vítima e tinha esse sobrenome. Cerca de 1 bilhão de vítimas fatais da doença pelo mundo.Poderíamos esperar um mundo destruído por uma doença, certo? Mas a humanidade encontrou uma saída científica para a crise. Os Hadens que estão trancados em seus corpos podem trabalhar, estudar e ter uma vida praticamente normal através do uso de robôs controlados através de implantes neurais. O corpo permanece numa cama, mas suas mentes trabalham intensamente e controlam robôs que podem sair por aí na boa. O protagonista é Chris Shane, um Haden que é agente do FBI.
Chris Shane começa no bureau com uma parceira casca-grossa e em um crime muito estranho. Ele chega na cena do crime e já começa a gravar o local - afinal ele tem uma poderosa tecnologia à sua disposição - o que ajuda muito na hora de investigar o que aconteceu. Sua parceira, Leslie Vann, é uma farrista conhecida, que curte sexo casual e bebida, mas que tem faro para casos envolvendo Hadens. E este é um deles. Não só envolve Hadens como envolve pessoas que carregam Hadens em seus cérebros, servindo como corpos de aluguel, os chamados Integrators.
O universo criado por Scalzi é rico em detalhes. Rico também em diversidade e representatividade, pois mostra pessoas com deficiência interagindo com a sociedade, estudando, indo ao cinema, trabalhando, sem nenhum impedimento. Claro que existe preconceito e o livro mostra como os "threeps" (uma gíria derivada de C-3PO) são tratados pelas ruas. Temos um protagonista rico e negro, uma mulher que foge dos estereótipos femininos, comunidade Navajo, casais homossexuais e uma intrincada conspiração tecnológica por trás disso.
O livro também é divertido. Ri alto com várias situações estranhas com as quais Chris precisou lidar. Sendo um Haden, ele poderia viajar pela rede e assumir um robô em qualquer escritório do FBI do mundo. E ao chegar em um deles, o único robô disponível era um que não tinha pernas e que ainda por cima era prova de um crime. A agente oferece levar o threep de cadeira de rodas até onde ele quiser. O próprio Chris tira sarro disso, recusa e aluga um robô do próprio bolso.
Por ser tão rico em detalhes, tão carregado de críticas e de personagens, achei o livro um tanto curto. É possível entender perfeitamente bem tudo o que acontece, mas algumas coisas poderiam ter sido melhor trabalhadas com um pouco mais de páginas. Não sei se foi obra do editor, por ter cortado partes do livro, ou se Scalzi realmente escreveu assim.
Obra e realidade
A síndrome do encarceramento é uma condição real. O jornalista e escritor Jean-Dominique Bauby (autor de O Escafandro e a Borboleta) é uma de suas notáveis vítimas, após sofrer um acidente vascular cerebral e entrar em coma. Nela os movimentos do corpo inteiro são paralisados, mas as faculdades mentais se mantém perfeitas. Lock In nos mostra o quanto a tecnologia pode ajudar pessoas com movimentos e mobilidade restritas.Uma das coisas que mais gostei desse livro é que Scalzi mostrou algo que eu cobro há muito tempo da ficção científica: a capacidade da raça humana de resolver problemas. Temos pessoas encarceradas em seus corpos? Sem problemas, vamos investir tecnologia e dinheiro e descobrir uma forma de de dar-lhes uma vida melhor. Os robôs não são tão bons assim? Sem problemas, vamos investir mais em pesquisa. Poderíamos esperar uma distopia terrível, mas no lugar temos um universo cyberpunk onde, apesar das adversidades, os problemas foram pensados e resolvidos.
John Scalzi é um escritor norte-americano de ficção científica e ex-presidente da Science Fiction e Fantasy Writers of America.
Pontos positivos
ThreepsConspiração
Tecnologia e robótica
Pontos negativos
Muitos nomes complexos e detalhes
Avaliação do MS?
Fiquei tão viciada em John Scalzi que li cinco livros dele na sequência. É um disparate o Brasil ainda não ter nenhuma de suas obras traduzidas, enquanto tem editora que fica lançando edição de luxo de livros que já estão saturados de edições. John Scalzi se preocupa com a representatividade, criando enredos e narrativas muito boas, divertidas e com ação. Temos personagens instigantes e tecnologia plausível, que podemos entender sem problemas. Quatro aliens para Lock In e uma forte sugestão para que você também leia.Até mais!
Valeu a dica Sybylla ^^
ResponderExcluirIrei atrás de ler esse livro