Resenha: A Ilha dos Dissidentes, de Bárbara Morais

A terceira resenha do mês da literatura nacional no blog é uma distopia com mutantes! O livro é o primeiro da trilogia Anômalos, de autoria de Bárbara Morais. Temos adolescentes com poderes especiais e uma protagonista, chamada Sybil (não é parente!), que tenta encontrar seu lugar no mundo depois de um naufrágio.





O livro
Às vezes, a diferença entre a vida e a morte são alguns segundos. Segundos preciosos que as pessoas perdem ao ficarem surpresas ou temerosas.

Sybyl Varuna vivia em Kali, uma província que sofria com pobreza extrema, fome e que estava em uma zona de guerra entre a União e o Império. Ela estava em um navio, que a levaria para um lugar seguro, mas ocorre um naufrágio e ela é a única sobrevivente. Órfã, tendo sido abandonada, Sybil acaba adotada por uma família que vive em Pandora e que também é composta por anômalos, ou seja, pessoas dotadas com poderes especiais. E ela nem sabia que era uma até a tragédia acontecer.

Adorei a capa.

Pandora é uma província para anômalos e é necessário usar uma cor que os identifiquem, amarelo. E a vida de Sybil muda completamente. Tudo é diferente. Ela fica completamente surpresa ao ver uma piscina pela primeira vez. Se delicia com comidas que nunca vira antes e que em Kali são impossíveis de encontrar. Faz amizades e tem uma família adotiva que se preocupa e cuida dela. Na escola, ela tenta se ajustar à grade de aulas e aos novos colegas, cada um com características irritantes, mas adoráveis, como todo amigo tem. Os colegas de Sybil, aliás, me pareceram muito mais desenvolvidos do que a própria protagonista.

Mas nem tudo no mundo de Sybil é perfeito. Se em Pandora as coisas parecem andar muito bem, fora dela Sybil percebe que os anômalos sofrem com preconceito. Placas na frente de estabelecimentos impedem sua entrada e algumas pessoas têm reações asquerosas quando se encontram com um anômalo. Foi impossível não pensar no Apartheid e nos lugares para negros e para brancos em separado. Gostei muito do tom de crítica à esse preconceito e curti muito a diversidade sexual e de etnias que o livro apresenta. Brancos, negros, orientais, casais gays. O pai de um dos amigos de Sybil se veste de mulher e apresenta um famoso programa de culinária na TV. Representatividade importa muito!

O vergonhoso Apartheid na África do Sul. 


Algumas coisas me incomodaram no livro. A primeira parte dele é meio morosa, depois tudo vai muito rápido. Algumas coisas poderiam ter sido melhor desenvolvidas e senti falta de um mapa para localizar algumas coisas. Peguei uma palavra ou outra usada de maneira errada, como 'água salubre', quando ela deveria ser 'água insalubre'. O livro também deixa perguntas em aberto, mas como é o primeiro da trilogia, acredito que nos dois volumes seguintes tenhamos todas elas.


Ficção e realidade
Num mundo em que as pessoas evoluíssem para terem super poderes, é mais que certo que o preconceito cairia matando. Se temos hoje um mundo ainda racista, misógino e homofóbico devido à cor da pele, gênero e orientação sexual, o que dirá de alguém que possa dar gritos supersônicos ou que possa controlar mentes? X-Men tem o grande mérito de tratar de preconceito de forma espetacular e A Ilha dos Dissidentes também faz isso, em um grande paralelo com o Apartheid. Até quando vamos ignorar nossos semelhantes a ponto de tirar deles seu direito à vida, liberdade e felicidade apenas por que temos medo ou não compreendemos?

Admitir que às vezes precisamos fazer o que parece absurdo para garantir o bem-estar de quem amamos é meio caminho andando para lidar com a dor.

Além disso, temos mais uma obra que mostra que adolescentes podem fazer coisas incríveis. Comentei sobre isso na resenha de Rani e O Sino da Divisão de como gostaria de ter tido livros assim quando eu era adolescente nos anos 90. Queria ter tido essas aventuras, esses personagens, gente com quem eu pudesse me identificar naquela época. O grande preconceito de muitos leitores com este tipo de literatura é infundado. Livros bons e ruins existem em todos os segmentos e gêneros. Dê uma chance, em especial os livros escritos por mulheres e à literatura nacional.


Pontos positivos
Protagonista feminina
Distopia
Autora nacional
Pontos negativos
Protagonista mal trabalhada
Começa devagar
Não tem mapa


Título: A Ilha dos Dissidentes
Trilogia Anômalos
1. A Ilha dos Dissidentes
2. A Ameaça Invisível
3. A Retomada da União
Autor: Bárbara Morais
Editora: Gutenberg
Ano de Lançamento: 2013
Páginas: 303
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Literatura nacional, distópica, com protagonista feminina, com ação, tiro, porrada, bomba! É isso o que você deve esperar de A Ilha dos Dissidentes. Estou ansiosa para ler o próximo volume e fico feliz de ver tanta produção nacional boa pululando por aí. O livro traz nomes que fogem do padrão anglo-saxão, traz personagens cativantes e muitos segredos em torno de nossos queridos anômalos. Admito que a forma de revelar esses segredos são bem irritantes, com frases cortadas no meio. Quatro aliens para o livro e uma recomendação para que você também leia.



Até mais!


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