Resenha: Hathor, de Markus Thayer

Enquanto temos ótimos livros nacionais de ficção científica, também temos aqueles que são desperdícios de papel. Desde que comecei a fazer resenhas aqui no Saga que tenho evitado resenhar os livros ruins. Foram poucos aqueles em que dei uma classificação baixa, porém acho que os leitores têm o direito de decidir por si próprios se alguma obra vale à pena, não importando minha opinião. Ainda assim, não recomendo a leitura deste livro de jeito nenhum.

O livro
Inglaterra, 1856. John McBrian, ao se preparar para fazer um trabalho para a faculdade, se depara com um livro que, estranhamente, contém duas páginas coladas. Ao mostrar para seu colega William e para seu professor, Sir Oliver Stwart, eles partem em busca do que acreditam ser um tesouro, de acordo com o mapa que encontraram nas páginas coladas. Porém, um grupo de ladrões descobre sobre a busca do acadêmicos e parte para o mesmo local. O mais estranho acontece: todo mundo fica super amigo após algum tempo, quando a namorada de um dos ladrões chega com a mãe para impedir que o namorado cometa alguma besteira. Ahh, também tem um grupo de ninjas atrás da chave que abre o tal tesouro. Enfim...


O tal tesouro não é o que eles imaginaram. E eles acabam embarcando para o Brasil, para buscar a Serra do Roncador, local para onde aponta o mapa. São seguidos, obviamente, mas com a ajuda de um índio, eles encontraram o tal lugar. E o que descobrem na serra é a entrada para uma cidade subterrânea, Hathor, assentada no interior da crosta do planeta (!), onde só existem mulheres (!!), todas lindas, jovens, loiras platinadas (!!!) e que andam de salto agulha e roupas esvoaçantes para cima e para baixo (!!!!).

A ideia da Terra Oca - não dá para chamar isso de teoria - afirma que o planeta não é composto pelas camadas concêntricas de núcleo interno, núcleo externo, manto e crosta (tô simplificando), mas que na verdade ela é habitada por seres fantásticos inclusive alienígenas. E que eles estariam esperando pelo momento certo para se mostrar aos humanos da superfície. Por mais estapafúrdio que esse papo de terra oca seja, se ele fosse bem trabalhado, poderia ter virado uma ótima aventura. Não foi o que aconteceu.

Outro problema: os personagens são rasos, sem graça, totalmente caricatos, sem nenhuma personalidade. Seus diálogos são pobres, redundantes e as coisas acontecem com tanta facilidade que o leitor desanima. Como a amizade súbita e repentina entre os ladrões e os acadêmicos. Também temos diálogos parecidos com isso:

_ Bem, vamos?
_ Sim, claro, vamos!
_ Ok, então vamos!
_ Muito que bem, portanto vamos!

E o problema mais grave de todos: erros crassos de português, de conjugação verbal à concordância. Não li o livro físico, li apenas o ebook, mas não dá para colocar algo no ar daquele jeito. Isso queima o filme do autor e da própria editora, que é a Novo Século. Aliás, encontrei problemas de revisão em outro livro da mesma editora, Rio 2054, de Jorge Lourenço.

Obra e realidade
O livro trata de tantas pseudociências que fica até fácil encontrar similaridades com o mundo real. Pseudociências sendo tratadas na ficção especulativas não são ruins se forem tratadas direito, se tiverem um bom enredo. Lucy é um filme que trata de pseudociência e é bom. Hathor também lida com pseudociência e é ruim. Portanto, o problema não é o tema e sim o modo como o autor trabalhou com isso.

Primeiro de tudo, a questão das alienígenas loiras e lindas. O autor usou a alegoria dos aliens nórdicos para habitar Hathor, e de quebra ainda os coloca como sendo os verdadeiros responsáveis pela raça humana no planeta. Não pude deixar de lembrar de Stahma Tarr, de Defiance, outra série que apostou num visual de aliens nórdicos para uma de suas principais raças, os Castitans, os mais avançados, dominantes, os fodões do enredo.

Quem não conhece os aliens nórdicos, procure pelo Google e em pouco tempo você achará as teorias de conspiração. O mais ariano dos alienígenas - a supremacia branca da galáxia - é toda composta por aliens brancos, de olhos e cabelos claros. Li em algum lugar que alguém dizia que Jesus não poderia ser pardo ou negro, porque ele era um alien nórdico. Sim, está neste nível.

PONTOS POSITIVOS
Visão otimista da raça humana


PONTOS NEGATIVOS
Personagens são toscos
Diálogos longos e rasos, além de erros de norma culta
Muitos clichês óbvios

Título: Hathor
Autor: Markus Thayer
Editora: Novo Século
Páginas: 352
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Não cativa, não anima, não traz surpresa nenhuma. Problemas que vão desde à norma culta ao enredo sem pé nem cabeça. Um alien para Hathor.


Até mais!

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