Resenha: Gênesis, de Bernard Beckett

Este livro pequeno é surpreendente na forma de contar seu enredo e nos personagens que, inicialmente, são tão humanos. Mas é conforme você acompanha a narrativa pela voz de Anaximandra que percebe que nada aqui é o que parece. Bernard Beckett foi extremamente criativo em sua maneira de recriar este mundo distópico, assolado por doenças e guerras.

O livro
Depois que a Terra foi arrasada pela Peste, os sobreviventes se reuniram em uma nova sociedade. Separados do mundo exterior por uma cerca em pleno oceano, vivem em absoluto isolamento – aviões que se aproximam são abatidos; refugiados são executados. Até que um soldado escolhe romper com as regras e, em vez de disparar, resgata das águas uma menina. Seu nome é Adam Forde. Ele muda para sempre o curso da História.

Resenha: Gênesis, de Bernard Beckett

Anaximandra está ansiosa. Ela está prestes a encarar a entrevista para a admissão na Academia e precisa ter o conteúdo na ponta da língua. Ela vive em uma sociedade utópica, a República e conhecemos a história das ilhas e sobre as guerras que as levaram até aquele determinado ponto através das respostas que Anax dá para a banca. Seu tema, principalmente, é sobre a história de Adams, tido como o herói que levou ao modelo de sociedade onde vivem.

Eu não sou uma máquina. O que uma máquina pode saber sobre o aroma da relva molhada de manhã ou sobre o som de um bebê que chora? Eu sou a sensação do calor do sol sobre minha pele; sou a sensação da onda fria que se quebra de encontro ao meu corpo. Sou os lugares que nunca vi, mas que posso imaginar quando meus olhos estão fechados.

É interessante este tipo de narrativa, pois é como se você começasse do fim para o começo, pois o mundo de Anax já está pronto. E junto de Anax começamos a descobrir que nem tudo o que consta dos arquivos históricos da República realmente contam a história verídica. Muita coisa foi deixada de fora a fim de manter a população ignorante a respeito de suas origens. Adams não é o que todo mundo espera que seja.

Ele contrariou as regras e deixou que uma moça que naufragou na tentativa de entrar nas ilhas sobrevivesse. Para isso, a escondeu em uma caverna, deixando que seu lado humano falasse mais alto, ao invés de seguir ordens. Sua punição, ao ser descoberto, era conviver com Art, uma máquina.

E aqui começam profundos questionamentos sobre a humanidade. O que nos separa das máquinas? O limite entre nossa biologia e o maquinário é tão importante assim para decidir o que vive e o que morre? Art nos leva a questionar até mesmo se podemos nos chamar de humanos diante de uma inteligência artificial que parece ser tão consciente quanto nós mesmos.

Eu sou o meio pelo qual o universo teve consciência de si próprio. Sou aquela coisa que nenhuma máquina será capaz de fabricar. Eu sou feito disso: de significado.

Mesmo sendo um livro curto, ele é rico em conteúdo, o que prova que nem todo livro tijolão é profundo. A narrativa cobre muitos eventos e o final é simplesmente impensável. Você nunca imaginaria a situação do final do livro, pois tudo o leva para outra direção e quando você menos espera... um fato novo se descortina e o deixa atônita. A tradução é de Bráulio Tavares e está muito boa. Não encontrei problemas de revisão ou tradução.

Obra e realidade
Não duvido nada que, se a humanidade continuar aperfeiçoando as máquinas, tenhamos os mesmos conflitos apresentados em Gênesis. Máquinas questionando seus criadores sobre por que não são considerados seres vivos, com certeza, mexeria com nossa ideia geral de humanidade. Ser humano é ser orgânico? Uma criação nossa, que nos imite, que seja construído à nossa semelhança, que pensa e que é consciente de si mesma e de seu ambiente não é um ser vivo? Que tipos de conflitos podemos ter com este simples questionamento?

Bernard Beckett

Bernard Beckett é um escritor neozelandês de ficção para jovens adultos. Seu trabalho inclui romances e peças de teatro.

PONTOS POSITIVOS
Sobrevivência
Distopia
Reflexão sobre a humanidade
PONTOS NEGATIVOS

Alguns personagens mal trabalhados

Título: Gênesis
Título original: Genesis
Autor: Bernard Beckett
Tradutor: Braulio Tavares
Editora: Intrínseca
Páginas: 173
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Avaliação do MS?
Gênesis é um livro que a gente pega para ler sem muita expectativa, mas que se surpreende ao chegar ao final, pois o autor vira o enredo do avesso e a gente pensa: "mas como eu não percebi isso?". Nós sempre pensamos nos personagens de livros com um mesmo estereótipo e é ele que nos leva ao final surpreendente. Vale à pena a leitura.


Até mais!

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