Resenha: Dezoito de Escorpião, de Alexey Dodsworth

Devo admitir que este foi um livro que precisei digerir com calma depois de ler. Estranhei várias coisas nele, mas tem uma explicação para isso. Tenho lido meio que "mais do mesmo" ultimamente: YAs distópicas, especialmente de fora. Quando, de repente, a gente pega uma obra nacional que escapa do óbvio, uma sensação de estranhamento acaba surgindo.




O livro
Temos três partes neste livro. Na primeira, temos enredos paralelos, mas trata basicamente da descoberta da estrela Dezoito de Escorpião, estrela gêmea à nossa, o que causa um rebuliço entre as pessoas. Junto disso temos a Hipersensibilidade Eletromagnética, doença que causa grande desconforto aos afetados por ela, causando surtos, dores de cabeça, volta e meia confundida com esquizofrenia e doenças mentais diversas. É aqui que conhecemos o protagonista, estudante da USP, Arthur, que há anos sofre com a doença, mas que toma anti-psicóticos para poder levar uma vida normal.


Arthur, então, conhece alguém que diz que há uma chance de atenuar seus sintomas e até de curá-los. A Vila Muhipu foi feita para isso, onde pessoas com a mesma sensibilidade podem viver tranquilamente. Curioso, e pensando em um futuro doutorado, Arthur termina a faculdade e viaja para Muhipu. Acha estranho fato de ter que ser sedado para que ninguém descubra a localização da vila. Mas ao acordar lá, percebe que já se sente muito melhor. Mas não entende a estranha proibição de nunca sair dos alojamentos à noite. Também não entende qual é o problema com seu gatinho, que parecia ter problemas para andar.

Arthur conhece Laura, uma moça que sofrera abusos sexuais e bullying na escola, e Martin, negro e ex-detento da Fundação Casa. Percebe muita harmonia na vila, apesar das estranhas restrições. Intrigado com uma série de eventos estranhos, Arthur começa a investigar a vila e vira frequentador assíduo da biblioteca onde encontra um livro de física com estranhas anotações de uma antiga moradora de Muhipu. E há qualquer coisa de errado com o norte-americano da vila, um tal de Lionel.

Meu primeiro estranhamento foi com relação aos diversos fatos que pareciam não ter conexão alguma. Você fica meio perdido no começo. Além disso, a insistência por uma visão meio "natureba", com forte pegada de preservação ambiental também é algo ao qual não estou acostumada. Por isso que, de início, fiquei indecisa sobre ter ou não gostado do livro de Dodsworth. Me peguei pensando na Síndrome do Capitão Barbosa e pensei que se esses indígenas não fossem brasileiros e sim de tribos como os Sioux e os Navajo talvez eu não estranhasse tanto. Ponto para o autor em situar o enredo quase que, integralmente, no Brasil.

Muita gente também pode ficar com um pé atrás com certos personagens. Nem todo mundo aqui é bonzinho, nem todo mundo é o que parece. Algumas figuras macabras aparecem na narrativa. O final me decepcionou um pouco, porque fiquei com a nítida impressão de que teremos uma continuação. Dessa forma, algumas coisas se resolvem, mas não tudo. Ainda assim, algumas das revelações do final são incríveis. Não gostei, contudo, de alguns clichês, em especial sobre as personagens femininas.


Ficção e realidade
Uma estrela idêntica ao Sol abre um leque de implicações. Teria Terras ao redor? Essas Terras teriam água líquida? Há vida? Há vida inteligente? Podemos ir até lá? No âmbito religioso, podemos prever os questionamentos sobre novos messias, caos, até mesmo suicídios em massa? Arthur C. Clarke já dizia que é igualmente aterrorizante pensar que estamos sozinhos no universo ou não estamos. Sabemos que o universo não liga a mínima para nossa existência, ele é totalmente indiferente à nós... Ou será que não estamos lendo seus sinais corretamente?


Pontos positivos
FC brasileira
Não é distopia
Muitas surpresas
Pontos negativos
Final em aberto
Diálogos podem ser longos
Clichês óbvios

Título: Dezoito de Escorpião
Autor: Alexey Dodsworth
Editora: Novo Século (o livro foi relançado pela Editora Draco)
Páginas: 350
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Quem estiver buscando uma literatura nacional, que saia do lugar comum, pode apostar em Dezoito de Escorpião. Até mesmo os dados científicos são explicados de maneira didática, sem aquela tecnobaboseira que muitos livros carregam, o que pode afastar muitos leitores. Não sei se terá uma continuação, mas gostaria de saber o que acontecerá com os protagonistas e com a estrela. Quatro aliens e uma recomendação para que você leia.


Até mais!


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