A ficção científica tem um certo gosto em destruir nosso querido e lindo planeta. As formas costumam ser mais ou menos as mesmas: meteoros, guerras, invasões alienígenas. Mas existe uma questão mais profunda em explodir em pedaços nosso pequeno corpo rochoso chamado Terra. Existem questões envolvidas na perda do lar ancestral de nossa espécie. Como ficaria a cabeça dos sobreviventes? Como você ficaria?
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Destruir um planeta não é fácil. A menos que você tenha uma nave destruidora de planetas como os Vorlons (Babylon 5) ou tenha uma Estrela da Morte, temos que contar com elementos naturais que possam detonar com a Terra inteira. Um meteoro ou um cometa com alguns quilômetros de diâmetro poderia dar conta do recado. Mas teria que ser bem grande mesmo para vaporizar tudo e riscar o planeta do mapa. Não poderia ser um evento que leve à extinção, tem que acabar com tudo mesmo. Em O Guia do Mochileiro das Galáxias, queriam passar uma via hiperespacial e nosso planetinha foi para o saco logo depois. Eles alegam que avisaram, mas o memorando deve ter ficado na mesa de alguém e nunca foi lido.
Uma destruição desse porte tem que ser desencadeada mesmo por um evento enorme. Algo como a explosão do nosso Sol, sendo que muitos estimam que ele pode nem ser destruído quando nossa estrela se tornar uma gigante vermelha. Até lá, ou a raça humana já entrou em extinção, ou se mudou, ou evoluiu para um novo plano de existência. Temos que ter consciência que nossa presença neste planeta é transitória, ou seja ela dura pouco. Pouquíssimo se compararmos com as idades da própria Terra e do universo. Mas podemos usufruir de nossa estadia, pois vivemos tão pouco, que temos a impressão errônea que tudo vai durar para sempre. Não dura.
Se a Terra fosse destruída hoje, estaríamos certamente extintos. Nada de nossa civilização, nossa cultura, nossos feitos e grandes obras sobrariam. Restariam apenas os sinais de rádio e televisão vagando pelo espaço. E quem sabe um dia algum alien, ao sintonizar sua TV capte nossos shows, telejornais e novelas... Ou seja, além de termos uma existência transitória, podemos ser vaporizados no espaço sem que nada possamos fazer a respeito. Trágico, não?
Mas vamos supor que temos um cenário no estilo de Pandorum (2009). Uma nave ruma para um planeta (Tanis) a 123 anos-luz de distância, levando uma tripulação de 60 mil pessoas capazes de colonizar este novo mundo. Levam equipamentos, sementes, a biodiversidade terrestre, agricultores, toda uma estrutura. Mas a nave recebe um aviso final: a Terra foi destruída. Ela sumiu do mapa e todos os sinais enviados de lá pararam. O filme aborda bem como a cabeça de algumas pessoas ficaria com uma notícia dessas. O personagem de Dennis Quaid, que recebeu a transmissão final, perdeu todas as amarras da moralidade. Sentiu-se um deus, com poder sobre a vida de todos a bordo. Quem o questionaria, sendo que não tinha a quem se reportar?
O personagem vinha sofrendo da Pandorum, ou Síndrome Disfuncional Orbital, que podia desencadear transtornos mentais e surtos psicóticos, mas a situação piorou com a transmissão. Como se comportar ao ver que seu mundo foi destruído, o lugar onde todas as referências de vida que você conhecia sumiu da noite para o dia? O que esperar do futuro sendo que seu passado foi destruído junto com seu lugar de origem? Talvez esta seja uma carga grande demais para qualquer pessoa carregar e não é de estranhar que na Elysium (a nave colonizadora do filme) tenha surgido o canibalismo, a violência, o caos e, em seguida, uma nova espécie de humanos, adaptados ao ambiente da nave.
Pandorum |
Eu comentei na postagem sobre a missão sem volta para Marte que aquelas pessoas estão prontas para praticar um completo e total desapego de seu lugar de origem. Elas estão dispostas a arriscar suas vidas para colonizar Marte e nunca mais voltarem. Mas a sensação de segurança ao olhar para o céu marciano e ver nosso pálido pontinho brilhando servirá como um norte para esta população pioneira. O que aconteceria se, de repente, o ponto se apagasse e eles estivessem sozinhos no planeta? Será que alguém se desprenderia das amarras sociais e morais para fundar um sistema de caos no planeta?
Não podemos imaginar que tudo acabará mal também. Em Tau Zero, de Poul Anderson, eles conseguiram manter um certo controle na nave, mesmo sabendo que a Terra e o sistema solar tinham perecido há muito tempo. Talvez uma população preparada e devidamente treinada consiga contornar os problemas da perda da Terra e do isolamento que sucederia e conseguissem prosperar. No entanto, sou bem pessimista quanto a isso. Nós já tentamos reproduzir condições de isolamento e de reprodução de biomas terrestres na Biosfera 2 e a coisa não foi tão boa quanto o esperado. Houve problemas internos com a tripulação, a perda progressiva dos biomas instalados, proliferação de pragas e até fome, já que os sistemas agrícolas também falharam.
O planeta vai ter seu fim. Sabemos disso. Mas espero, sinceramente, que até lá não estejamos mais por aqui. E certamente não estaremos. Se estivermos, talvez tenhamos evoluído física e mentalmente, e sejamos capazes de colonizar planetas para espalhar a semente humana por aí. Porém, até lá, corremos um sério risco de loucura e transtornos mentais caso percamos nosso referencial de vida e sociedade, já que todo mundo ainda reside na Terra. A perda dela não apenas seria nosso fim, mas seria o fim de uma história evolutiva, civilizatória e de sobrevivência em um universo hostil que não liga a mínima para nós.
Até mais!
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