Resenha: O Enigma da Borboleta, de Kate Ellison

Eu curto livros juvenis, desde que não sejam idiotas, do estilo menina-conhece-menino e vivem felizes para sempre depois do baile de formatura. Este livro me fez sair de uma ressaca literária tão ferrada, que até Isaac Asimov eu larguei pela metade. Achei que merecia uma resenha.




O livro
Penelope "Lo" Marin é uma adolescente de 15 anos. Está no ensino médio, estuda, mas é estranha. Não é a garota popular. Ela, na verdade, é obsessiva-compulsiva, sofre de TOC. Possui uma série de manias e um impulso de roubar tão forte que a faz perambular por um bairro meio barra pesada de Cleveland, chamado de Neverland, em busca de peças que a "a chamem". Percebemos de imediato que, além de estranha e compulsiva, Lo é sozinha. Os roubos, a compulsão por organização, por contar tudo, desde às rachaduras na calçada, tudo esconde uma vida recheada por tragédias.

Resenha: O Enigma da Borboleta, de Kate Ellison


Enquanto executa mais um de seus roubos em Neverland, ela sente que alguém está em seu encalço - ou pode ser sua paranoia - e se esconde ao lado de uma casa amarela, onde um tiro quase acerta sua cabeça. Lo volta para casa desesperada, achando que era a polícia. Pouco depois ela sabe que o tiro não era para ela. Uma stripper ali mesmo de Neverland tinha sido assassinada com um tiro na cabeça, em sua casa no dia anterior. A mesma casa em que Lo se escondeu.

Nos dias com três sílabas - você logo percebe a compulsão dela pelo 3 e por seus múltiplos; 4 não é bom, nem seus múltiplos - ela sai cedo de casa e vai ao mercado de pulgas para ver as belas coisas a venda, em geral antigas, onde pessoas buscam levantar uma grana. Alguém esbarra em Lo, que despenca sobre uma banquinha onde ela se interessa por várias coisas ali dispostas. Quando o homem conta como as conseguiu, ela logo percebe que tem ligação com a morte da stripper e toma a missão de descobrir o que estava por trás daquelas peças e quem a matou. Começa aí sua busca para descobrir mais sobre Sapphire, a moça sozinha, sorridente, sem amigos, estranha, que morreu dias antes. Ela se envolve tanto com a vida da stripper que chega a usar seu espartilho e ler seus diários na tentativa de tentar descobrir quem a matou.

A obra prende muito, do início ao fim. Você quase enlouquece junto de Lo, pois ela tem a compulsão por contar e por fazer tap tap tap banana, batendo a mão nas coxas várias vezes, sempre múltiplos de três, e falando isso alto. Sua mãe vive dentro do quarto, sob efeito de remédios, ligada na televisão, após a má notícia trazida pela polícia, um ano antes, sobre Oren, o irmão mais velho de Lo. O pai trabalha mais de 16 horas por dia, mal tem tempo de ficar em casa e se irrita com as compulsões da filha. Lo é sozinha. Terrivelmente sozinha. Se acha feia. Ajeita a franja três para um lado, três vezes para o outro, três vezes para o outro de novo. Quando fica nervosa, precisa parar para tocar os pés várias vezes seguida. Somente Flynt, seu amigo misterioso de Neverland a entende.

O livro dá uma derrapada perto do final, ao ficar um tantinho confuso. Acho que a escrita ficou bastante adequada para o público juvenil e adulto jovem e não encontrei erros de digitação. A tradução de Alice Klesck está muito boa. Você se sente um pouco maníaco, obsessivo, exatamente como Lo ao acompanhar sua jornada para ajudar a stripper assassinada. Não posso entregar o spoiler da borboleta, apenas digo que ele vira um amuleto importante para a garota.


Ficção e realidade
O que achei mais interessante do livro foi mostrar a vulnerabilidade dos jovens aos transtornos e ao perigo. Lo perde horas a fio em seu quarto, arrumando um por um todos os seus objetos, que são vários, de tudo, tudo mesmo. De máquinas de escrever a sapos de cerâmica e placas de carro. Seu pai fica furioso ao ver a situação do quarto da filha ao entrar lá e se desespera, tacando tudo no lixo. Também mostra o quanto ela é pouco compreendida ao procurar a ajuda da polícia, pois sua própria vida corre perigo e ela é confundida com uma menina drogada de um bairro pobre, tendo alucinações.

O principal ensinamento aqui é que se uma pessoa pede ajuda, devemos ouvi-la. Lo tenta, desesperadamente, ser ouvida, ser querida, ser amada. Várias vezes ela relembra o passado. Quando a casa era alegre, quente, a mesa posta, com comida apetitosa, com Natais felizes e família unida, tudo o que ela não tem naquele momento.

Pontos positivos
Bem escrito
Suspense e ação
TOC e seus problemas
Pontos negativos
Perde um pouco do ritmo perto do final
Alguns personagens mal construídos

Título: O Enigma da Borboleta
Título original: The Butterfly Clues
Autora: Kate Ellison
Tradutora: Alice Klesck
Páginas: 312
Editora: Leya
Ano: 2013
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Avaliação do MS?
Muita gente pode torcer o nariz por se tratar de um suspense juvenil. Lo investiga por conta um crime (às vezes parecem cenas forçadas, mas nada que prejudique a narrativa) e é bem desenvolvida e bem descrita pela autora em todos os detalhes de sua compulsão. Os outros personagens poderiam ter sido descritos com esta mesma precisão. Mas é um livro que indico, sem dúvida, pois foi uma ótima surpresa em tempos onde a leitura estava prejudicada por uma tremenda ressaca literária. Quatro aliens para a menina que sofre de TOC.




Até mais!


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