Resenha: Trilogia Padrões de Contato, de Jorge Luiz Calife

A ficção científica brasileira está crescendo aos poucos. Nos últimos anos ela ganhou um novo fôlego com novas obras, reedições de clássicos e pelo surgimento de uma cultura nerd que voltou a se interessar pelo assunto. Uma das novas reedições traz um dos clássicos da FC hard brasileira, lançado na década de 80 e trazida pela Devir, selo Pulsar em uma única obra.




O livro
Em uma única obra temos três livros, Padrões de Contato (1985), Horizonte de Eventos (1986) e Linha Terminal (1991). Mas no geral, as três obras contam a vida de Ângela Duncan, a linda mulher feita imortal pela Tríade, uma entidade alienígena cristalina que habita o núcleo galáctico.


Em Padrões de Contato, temos a visita de um Batedor, uma sonda robotizada que ruma para o sistema solar, portanto más notícias para o planeta. Temos uma visão da sociedade humana do futuro, como ela conseguiu abandonar o caos da sociedade industrial, temos os primeiros contatos com raças alienígenas e vemos o desenvolvimento da tecnologia espacial avançada.

Em Horizonte de Eventos, o livro que mais gostei, temos um grande salto no tempo, indo para depois do ano 3000, onde a raça humana abandonou a Terra e o sistema solar para conquistar a galáxia. Temos raças alienígenas fascinantes, algumas humanoides, outras que nem respiram oxigênio, ou que mal se parecem com uma forma de vida. A tecnologia espacial avançou de tal maneira que a raça humana agora vive em anéis de habitação que viajam pela galáxia. Mas nem tudo é benigno pelo espaço e eles se deparam com aliens obscuros que querem usar os seres humanos como hospedeiros.

Em Linha Terminal, vemos que a tecnologia evoluiu ao ponto de Ângela Duncan criar uma máquina para voltar no tempo. Obcecada pelo passado e marcada por eventos descritos no livro anterior, ela consegue criar a primeira máquina do tempo a fim de ir para a Terra do século XX. Ela precisa achar uma civilização alienígena que pode ser a salvação para a Tríade, que corre o risco de ser extinta e com isso acabar com o universo.

O livro tem problemas. As longas explicações científicas podem pegar as pessoas desprevenidas, em especial àquelas que nunca leram algo do tipo. Neste tipo de FC, a ciência e a tecnologia são mais importantes do que as relações sociais e humanas, portanto isso pode desagradar alguns. Além disso, fiquei com a impressão que o último livro, Linha Terminal, foi terminado às pressas, pois ele termina de forma abrupta, sem mais delongas. O primeiro livro também parece ser muito diferente dos livros seguintes e isso pode causar uma sensação de estranhamento.

Também achei que a visão dada às mulheres durante toda a obra foi fraca e pretensiosa. São todas lindas, praticamente todas loiras, de pele clara, de corpos atléticos e esculturais, onde andam quase todas nuas e, de quebra, inteligentes. Várias e várias vezes, o autor repete que elas são lindas e incríveis e que tiveram a sorte de serem inteligentes. FC é um gênero majoritariamente produzido por homens, pontuado por exceções, para homens, mas escrever algo diferente deve ser tentado e experimentado justamente para expandir o gênero. Permanecer nas mesmas fórmulas mofadas não ajuda a ficção científica em nada.

A revisão da Devir também apresenta problemas. São vários os trechos com palavras erradas, seja por problema de digitação, seja por falta de concordância. Dá uma impressão de amadorismo ou falta de atenção do revisor. Mas acredito que o principal ponto positivo do livro seja a visão otimista da raça humana, algo que anda em falta na ficção científica.

Ficção e realidade
Mesmo se atendo à uma tecnologia mais plausível e com longas explicações técnicas, é possível perceber que a raça humana conseguiu vencer vários obstáculos não apenas técnicos, mas também sociais, para se livrar de várias das nossas amarras atuais, como a exploração humana, dos recursos naturais e de investimentos. A raça humana tem a capacidade de resolver problemas e isso é pouco explorado na ficção científica, o que é uma pena, pois acreditar que um futuro melhor é possível faz parte da nossa civilização.

Não consigo imaginar a raça humana do século XXXII, mas imagino que o que é importante nunca muda. Continuaremos a fundar comunidades, teremos os triviais problemas relacionados a isso e ao uso da tecnologia, veremos muitas maravilhas e teremos problemas, com certeza. Mas o importante é sempre poder solucioná-los para que possamos perdurar.


Pontos positivos
FC nacional e hard
Visão otimista da raça humana
Boa análise da sociedade e tecnologia
Pontos negativos
Erros de digitação e revisão
Longas explicações científicas
Final deixa perguntas


Título: Trilogia Padrões de Contato
Autor: Jorge Luiz Calife
Páginas: 646
Editora: Devir
Ano: 2009
Onde comprar: na Amazon


Avaliação do MS?
É um livro bom, uma ficção científica nacional e por ser a obra de FC hard mais importante da nossa literatura. Infelizmente, o livro não me empolgou tanto (eu demorei a ler por isso) e muita gente não acostumada à esse tipo de leitura pode estranhar. Vale à pena para sair da zona de conforto e para ver que a raça humana conseguiu vencer vários obstáculos.



Até mais!


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