Resenha: Nêmesis, de Isaac Asimov

Um bom livro para quem procura obras de Asimov que não envolvam robôs é Nêmesis. Tem gente que torce o nariz para o livro, justamente por ele fugir do tema que consagrou o autor. Mas não espere muito também. Asimov era um bom contador de histórias, porém o livro tenha alguns sérios problemas.



O livro
Cerca de duzentos anos no futuro, a humanidade se estabeleceu em colônias mais ou menos próximas da Terra. Cada uma se tornou uma espécie de comunidade fechada, com certo preconceito para com terráqueos. O próprio planeta é mau visto. Com uma gravidade regular por toda a sua superfície, suja, super povoada, com graves problemas como miséria, fome e, portanto a entrada de nativos em tais colônias é rigidamente controlado.

Não consegui achar uma capa decente da versão brasileira.

Uma colônia em especial, Rotor, está não apenas cansada da Terra como também do Sistema Solar. E quando dois fatos acontecem, o administrador de Rotor, um homem ganancioso e muito inteligente vê a oportunidade de abandonar o Sol, a Terra e tudo o que de negativo essas palavras representam. Os cientistas desenvolveram a capacidade de voar acima da velocidade da luz, à frente de todas as outras colônias e da própria Terra. E uma astrônoma descobre que uma estrela gigante vermelha, que sempre esteve encoberta por nuvens de poeira é na realidade mais próxima do Sol do que Alfa Centauro. Ela a nomeia como Nêmesis.

A Terra fica atônita quando uma de suas colônias simplesmente acelera e se manda do sistema solar. Ninguém sabe responder para onde foram ou porque se foram, mas Crile Fisher, um dos poucos terráqueos a viver em Rotor ao se casar com uma rotoriana - a cientista que descobriu Nêmesis - tem uma ideia do porquê e relata o que viu e ouviu na colônia. Eles então descobrem por conta própria a gigante vermelha e descobrem também que ela se aproxima da Terra e causará mudanças climáticas drásticas o suficiente para a vida no planeta não sobreviver.

Começa então uma corrida contra o tempo para desenvolver uma tecnologia para chegar até Nêmesis e para evitar uma catástrofe. Enquanto isso, no sistema Nêmesis, Rotor vai muito bem. Se estabeleceu ao redor de Megas, um gigante gasoso que possui um planeta-satélite chamado Eritro. Um domo é construído na superfície para abrigar uma pequena população humana, mas alguns que ousaram andar pelo planeta desenvolveram um tipo de loucura chamado A Praga. Menos Marlene, filha de Fisher e a cientista, Dra. Insigna. Marlene sente uma atração quase obsessiva por Eritro faz de tudo para ficar nele.

Mas os problemas do livro já aparecem no começo. Os diálogos - que praticamente sustentam toda a obra - são excessivamente longos. Muito mesmo. E chatos. CHATOS. As explicações científicas também são, mas não chegam perto ao tamanho dos diálogos dos personagens e não te fazem perder a paciência como o blá blá blá. Além disso, estes personagens chegam a ser muito planos, previsíveis, tamanho o tempo que perdem falando, falando, falando, falando... Chega um determinado momento em que você pensa, "lá vem eles falar de novo sobre o mesmo assunto".

Red Giant, por Fei Fong Wong.

Não é um problema um livro ter longos diálogos, mas isso tem que ser bem feito. Sinto que Asimov se perdia muito nessas longas elucubrações e acaba perdendo o fio da meada, deixando a gente na mão. Em contos ele se saía melhor do que nos romances.


Ficção e realidade
Muito já se especulou se o Sol teria um companheiro. Assim como já se especulou que a Terra teria uma parceira do outro lado da sua órbita, bem como já se especulou que um planeta errante estaria a caminho do nosso planeta... O que fica claro no livro é que nem no futuro próximo, com a capacidade técnica de construir colônias autosustentáveis, ou de criar um motor capaz de viajar à velocidade da luz, pode nos preparar para os mistérios do espaço.

Não vou soltar o grande spoiler do livro, mas também não temos como adivinhar como a vida vai se comportar em ambientes diferentes da Terra e em estrelas diferentes do nosso Sol. A grande sacada do livro é que algumas coisas você não pode prever: o comportamento humano e o comportamento da vida pelos astros no espaço.

Pontos positivos
Visão otimista da raça humana
Foge dos enredos de robôs
Ficção científica
Pontos negativos
Longos e óbvios diálogos
Personagens óbvios
Final deixa perguntas

Título: Nêmesis
Título original: Nemesis
Autor: Isaac Asimov
Lançamento: 1989
N.º de páginas: 396
Editora: a última edição foi da Record e está fora de catálogo


Avaliação do MS?
Para quem quer ler um Asimov sem os robôs, Nêmesis pode ser uma boa pedida. Fala da ganância humana, do avanço tecnológico e a corrida pela melhor tecnologia de viagem espacial. Mas não crie muitas expectativas. O livro é um tanto previsível e tive a impressão que o autor enrolou em várias partes, deixando outras totalmente sem explicação. O vilão não é tão mau, a heroína não é tão salvadora da pátria... Uma pena.


Até mais!

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