Professores do Brasil - Parte II

Todo começo de ano letivo é um momento de expectativa para professores, pais e alunos. Falei recentemente dos professores ruins do sistema educacional com base na minha experiência na rede pública do estado de SP. A estabilidade do funcionalismo público acaba protegendo os maus professores que quase nunca são punidos por seu péssimo trabalho. Mas ainda existe gente boa trabalhando. Por quanto tempo, aí é que está a questão.

Professores do Brasil - Parte II




A má educação no Brasil tem dado origem à toda uma leva de maus professores, mal formados, dando aulas precárias em muitas escolas do país. Licenciatura é muito procurada entre os cursos de nível superior, pois dura apenas três anos e em geral as mensalidades são muito baratas nas universidades particulares.

Mas isso não quer dizer que elas formem maus professores. Tampouco significa que as universidades públicas tenham um bom ensino. É muito simplista apontar um dedo para o professor que veio de uma particular e dizer que seu ensino foi e é um lixo. Conheci excelentes professores que nunca pisaram em uma universidade pública.

Eu costumo dizer que sou um bom fruto da suplência, ou o conhecido EJA - Educação de Jovens e Adultos. Fiz 2º e 3º anos do ensino médio nesta modalidade de ensino que pouco ensina e pouco motiva alguém a prosseguir seus estudos. Ganhei bolsa de 100% em uma universidade particular, e para não perder parte dela, minha nota tinha que ser igual ou superior a 8 todo semestre.

Tive vários professores bons e outros nem tanto. Uma professora doutora em Geografia Física fora contratada para nos dar aula em um dos semestres do curso. Se eu disser que lembro alguma coisa que ela disse em suas aulas, estarei mentindo. Não lembro de nada de tão medíocre que era sua aula. Ela não dominava sua área, não sabia passar nenhuma informação à turma, tampouco aplicava atividades e tarefas coerentes. Quando tirou licença-maternidade, ficamos aliviados, porém preocupados de ter outro professor daquela categoria.

O professor que entrou em seu lugar não era mestre, nem doutor. Fora contratado como auxiliar de ensino justamente por ser apenas bacharel e licenciado em Geografia. Dava aulas em uma escola particular bastante conhecida da cidade e suas aulas eram excelentes. Aprendemos mais com ele do que com qualquer outro professor daquela modalidade e fizemos uma pressão tão grande que a universidade acabou efetivando o professor. Mas para isso, ele precisava ao menos estar cursando um mestrado, o que ele fez no ano seguinte para permanecer lá.

Metade dos meus professores eram formados na PUC-SP, a outra metade da USP, só uma era da UNICAMP. Mestres, doutores, bacharéis, e ainda assim nem todos eles eram bons. Assim como muitos dos meus colegas deram professores medíocres e nunca pisaram numa sala de aula.

Tive o prazer de trabalhar com ótimos professores nas escolas em que dei aula. Poucos deles vieram das universidades públicas. Eles faziam um ótimo trabalho, tinham grandes ideias em sala de aula, pude trabalhar com eles em projetos e feiras e nenhum deles deu uma desculpa esfarrapada para não dar aulas ou precarizá-las. Eram professores que ganhavam pouco, tinham acúmulo (professor pode ter dois cargos públicos por concurso), alguns vinham de ônibus para o trabalho, mas nem por isso deixaram de dar boas aulas e fazer um bom trabalho. E por que eles faziam isso? Porque tinham prestado um concurso, o que firma um compromisso com sua tarefa e gostavam.

O que diferencia então o mau professor do bom? É a formação? É o talento? É a didática? Didática é algo que se aprende e desenvolve. Talento é questionável. O que é talento? Todo mundo tem? É nato? A formação, por sua vez, é de grande influência, mas nem por isso forma um bom professor. Estar diante de uma sala com 35 adolescentes requer mais que um bom histórico da graduação ou um título de mestre. Requer força de vontade, requer disciplina e autoridade, coisa que muitos professores não têm.

Eu era rígida com meus alunos, pois sabia que se os deixasse montar, nunca conseguiria as rédeas da sala novamente. Ninguém tocava na porta antes de mim, mesmo que o sinal tivesse tocado. Celular tocou na aula, saiu sem minha autorização, não trouxe material, foi pego colando, entre outros, a punição era menos 1 ponto na média da sala inteira e eram cumulativas. Eu não mandava o aluno para a direção, pois sabia que a suspensão não seria punição. Ele ficaria em casa no MSN ou jogando. Então eu resolvia tudo com o aluno em sala mesmo. Eu verifica os trabalhos deles no Google. Se fosse cópia do Wikipedia, era zero no ato e pegava o próximo. Mas ao mesmo tempo em que era rígida, eu dava festas em sala de aula, dava aulas diferentes com vídeos que eu mesma fazia, com músicas, apresentações em PowerPoint, fazia dinâmicas e debates, tudo para sair do sistema GLS (giz-lousa-e-simpatia). Nunca tive problema com aluno, mesmo com tanta rigidez. Sério.

Muitos professores disseram para mim que eu estava "perdendo o meu tempo". Dedicar-se tanto assim aos alunos era um "erro". Felizmente, outros professores me apoiavam e fazíamos muitos bons projetos e atividades em conjunto. Até atividades com origamis eu fazia, tudo para botar os alunos para trabalhar. Mas era mal vista por "trabalhar demais".

O que eu vi com frequência era que bons projetos morriam na cabeça do professor por falta de apoio dos próprios colegas e às vezes da direção. Um professor também de Geografia uma vez me disse assim:

Eu não faço projetos no estado porque aqui eu não ganho pra isso. Mas na prefeitura, aí sim eu faço. Lá eu tenho material, tenho bons colegas e os alunos são melhores.


E ele era formado pela UNESP, uma das melhores universidades do país e da América Latina. Ou seja, é algo que desmistifica a visão de professor bom vir de uma universidade pública. Acredito que a formação de professores deveria ser totalmente reestruturada, devia ser mais rígida e não poderia existir em qualquer lugar. Além disso, deveria existir plano de carreira para atrair os profissionais que querem trabalhar na educação, coisa que praticamente inexiste no sistema público. Escolas precisam ser locais respeitados e vistos não como depósito de alunos e professores, mas como um local de trabalho da parte dos professores (que muitas vezes a tratam como um clube de férias) e como local de formação de cidadãos da parte da sociedade. Este não é o único problema da educação nacional, mas é o mais sério e urgente para se resolver.

Este é outro post de desabafo. Mostra especialmente o que eu vi no meu tempo de professora e o desgosto que peguei da profissão. Deixe seu comentário. Quais foram suas experiências com professores bons e ruins?

Até mais!


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