A ficção científica nacional tem se fortalecido nos últimos anos, impulsionada por editoras de menor porte, que estão acreditando no potencial brasileiro. Ainda vejo muito preconceito com os autores nacionais, mas acredito que a situação tende a melhorar conforme o mercado amadureça, bem como os leitores, para aceitar essa nova leva de autores. O livro resenhado de hoje é de um autor brasileiro já veterano na área.
O livro
A Guardiã da Memória se chama Clara, uma predadora das Planícies Vermelhas de Ahapooka, o Mundo-Sem-Volta. É um planeta onde diversas raças alienígenas caíram com suas naves e se estabeleceram nele com suas culturas e civilizações. Os humanos estão por lá também, mas são vistos como uma praga intergaláctica em alguns setores, uma raça indigna de ter evoluído por seleção natural em um único planeta. Ela só pode ter evoluído por conta de patronos alienígenas que erraram feio no nosso design.Clara trabalha para o governo de Rhea, a nação humana em um dos lados de Ahapooka. Quando uma missão para resgatar um espécimen paleontológico que pode provar de uma vez por todas as origens evolutivas dos humanos dá errado, ela se vê isolada em uma embarcação com um centauro, uma das muitas raças radicadas no planeta, com quem desenvolve um picante romance.
É também uma situação inusitada para ambos, já que ela é terrícola, bípede e ele um centauro, mas ainda assim Clara vivencia um prazer nunca antes sentido com nenhum humanoide antes. Mas os centauros passam por uma metamorfose, onde se transformam em humanoides, e nada da vida passada fica na nova forma. A tendência, é que ele a esqueça completamente depois de morfar.
O começo do livro é difícil. São muitos termos, muitas palavras, muitos conceitos para o leitor lidar de uma vez, numa avalanche de informações que passa muito rápido. Um glossário poderia ajudar e muito a não cansar a memória do leitor. A leitura é truncada em vários momentos, fica difícil acompanhar, pois ele perde o ritmo em vários momentos, mas do meio para o final, ele ganha mais ritmo e deixa a sensação de que haverá continuação.
Este é um livro de ficção científica erótica, portanto, não recomendo para menores, já que as partes sexuais do livro são intensas e bem descritas, ainda que muitas delas sejam de extremo mau gosto. O tal espécimen acaba esquecido diante de todas cenas de sexo. Fiquei com a incômoda sensação de ter uma personagem que é boa em tudo, sabe tudo, se vira bem em tudo e ainda está lá para ter e dar prazer. Ao menos o autor se atentou para o prazer da personagem.
A editora Draco está de parabéns pelo capricho na arte da capa e do miolo.
Ficção e realidade
O interessante do livro é mostrar uma raça humana muito avançada no futuro, que perdeu a Terra, desacreditada por sustentar que provém de evolução seletiva ao invés de ação de patronos alienígenas. A raça humana caiu em Ahapooka 300 mil anos antes do enredo apresentado no livro e evoluiu de maneira a viver vários séculos, com tecnologia implantada no corpo, uso de roupas simbiontes e contatos com alienígenas muito diversos e dos mais variados formatos, inclusive com contato sexual. Podemos imaginar que as formas de vida pelo universo sejam de fato diferentes... ou não. Pode não existir coisa alguma lá fora. Não sabemos ainda, mas o contato de Clara com tantos alienígenas diferentes é engraçado, tenso e inusitado em alguns momentos.Assim como aconteceu com os antepassados do Homo sapiens, que conviveram com representantes de outras linhagens humanas, em um planeta tão miscigenado como Ahapooka é mais do que natural que a cultura esteja habituada com estes contatos. Mas ainda existe xenofobia e preconceito, como era de se esperar.
Pontos positivos
Ótima análise da raça humanaNovela espacial intensa
Erotismo
Pontos negativos
Excesso de detalhes e termos
Começo muito difícil
Avaliação do MS?
Até este livro, nunca tinha lido ficção científica erótica. É uma mistura inusitdade e que possibilita romper barreiras e preconceitos que nossa cultura apresenta. Uma maneira interessante de apresentar a sexualidade humana num possível cenário como este. Três aliens para a guardiã.Até mais!