Siga a @Sybylla_
Eu entrei na área da educação bem consciente da situação em que ela se encontra. Caí na escola pública enquanto ainda estudava, lidando com adolescentes cujas ideias e vidas eram as mais diversas possíveis e e com isso aprendi muito, talvez mais do que ensinei. É difícil ser professor. Seja no sistema que for, pois lidar com o ser humano não é uma tarefa das mais fáceis. Não interessa se ele ganha muito ou pouco, o ser humano é um agente complexo, cujo cuidado deve ser intenso, ainda mais na educação.
E vendo a situação da escola pública estadual de São Paulo - que acredito ser um exemplo, mas que não ilustra a situação nacional, que em alguns casos é bem pior - posso assegurar que o professor é tanto culpado quanto vítima do abismo educacional do país. É vítima dos parcos salários, do descaso do governo, do sucateamento escolar, dos pais e dos alunos. É culpado por dizer que não liga para alunos, que quer que eles se danem, que está lá apenas para pôr a comida na mesa, que por estar numa escola pública se acha no direito de dar um lixo de aula.
Eu entendo que alguns colegas professores possam ficar indignados com o que eu disse acima, pois poderia ser um reflexo de tudo o que temos que aguentar, em especial com relação ao descaso. Mas eu ouvi e vi professores precarizando suas próprias aulas, desamparando alunos que precisavam da figura dele em sala de aula, dizendo que não ganhavam por isso. Prestou concurso? Assinou contrato? Então é preciso cumprir com seu papel acertado com o estado. Não está feliz? Exoneração e um abraço. Na escola particular ou na prefeitura, todo mundo fazia um bom trabalho. Já onde ganhava menos, deixava se lascar.
O professor é o agente capaz de tornar um ser humano em um cidadão. Ele atua junto com a família para tornar isso possível, além de ensinar. Mas ele próprio está engessado em um sistema precário de ensino, que perpetua o Ratio Studiorum, que mantém a tarefa de aprender e de apreender como algo exclusivo do aluno. Quem aqui nunca ouviu um professor dizer: "Não aprendeu? Problema seu, minha aula eu dei". Quem nunca teve um professor que enchia a lousa de conteúdo, explicava, dava exercícios de fixação e saía quando o sinal tocava?
A revolução no ensino brasileiro tem começar urgente em dois lugares:
- Universidades - os professores são mal formados em especial nas universidades particulares. A tão propagada expansão do ensino superior multiplicou cursos de licenciatura cuja qualidade é muito questionável e a duração é menor que os bacharelados. E isso gera professores também questionáveis muitas vezes.
- Escola - se bem preparadas e bem equipadas, seguras, com normas rígidas de disciplina e com projetos político-pedagógicos, a forma de ensinar também muda. Aluno gostaria muito mais da escola se ela oferecesse algo palpável para suas vidas, e não o decoreba que ainda os aflige.
Como educação é algo que dá frutos a longo prazo, eu prevejo um período negro para a nação se não formarmos mais professores dispostos a entrar na sala de aula para trabalhar. O número de professores doentes, desanimados, frustrados todos os anos está causando um esvaziamento da escola da parte dos docentes e não vejo melhora. Professor é alvo de chacota, professor é alvo de preconceito, de violência, de risadas e de pena. Ele não é mais visto como o mestre, como alguém que é essencial para a sociedade, ele é visto como algo dispensável e futuro não se dispensa.
Portanto, neste dia do professor, lembre-se daquele especial que fez a diferença e pense no quanto ele trabalhou, no quanto ele se frustrou e pense também naqueles que desistiram, que adoeceram e naqueles que estão empurrando com a barriga. E pense se a educação nacional tem alguma solução.
Até mais!
A situação não é ruim só aqui (em inglês) - Sad Teacher
Sugestão de filmes:
Escritores da Liberdade
Meu Mestre, Minha Vida
Mentes Perigosas
Ao Mestre com Carinho
Sociedade dos Poetas Mortos
Entre os Muros da Escola