Olaf Stapledon e fascismo

Um escritor que descobri recentemente é Olaf Stapledon. Quase um desconhecido no Brasil e praticamente relegado ao ostracismo lá fora, o autor escreveu pouco, mas deixou um legado impressionante para gerações de escritores como Arthur C. Clarke, Brian Aldiss e Doris Lessing. Um de seus livros mais importantes, Star Maker, foi publicado em 1937, no auge do nazismo, e ele não poupou palavras para combater tal visão de mundo.

Olaf Stapledon e fascismo




Uma coisa em que acredito é no poder transformador da ficção científica e em como ela pode ser uma forma de resistência a todas as formas de opressão. Temos vários exemplos de obras que discutem ditaduras, opressão, racismo, nazismo, fascismo e como combater tais mazelas. E mesmo que o nacionalismo, nazi-fascismo e outras ideologias de extrema direita tenham sido duramente combatidas, aqueles que ainda as defendem botam suas asinhas de fora e estão assumindo seus lugares em vários governos pelo mundo e tomando conta da internet.

Olaf Stapledon lançou em 1937 um livro seminal para a ficção científica: Star Maker. No livro, um protagonista sem nome começa uma viagem astral pelo cosmos, onde se une a outras consciências alienígenas e passa a visitar e a viver em outros mundos, onde tece críticas políticas, sociais, econômicas, voltando para o momento da criação até encontrar o Criador de Estrelas, o Star Maker do título.

Em seu prefácio, Olaf comenta sobre o terrível momento que o mundo vivia. Era o auge do nazismo na Europa, dois anos antes da deflagração da Segunda Guerra Mundial. Olaf se questiona sobre o papel do escritor em momentos tão difíceis.

O fascismo é cada vez mais imprudente e implacável em suas aventuras internacionais, mais tirânico para com seus próprios cidadãos, mais bárbaro em seu desprezo pela saúde mental. Mesmo em nosso próprio país, há razões para temer a tendência à militarização e às restrições às liberdades civis. Mais do que isso, enquanto os anos passam, nenhum passo decisivo é dado para diminuir a injustiça na esfera social. Nosso sistema econômico desgastado condena milhões de pessoas ao desespero.

Nessas condições, é difícil para os escritores cumprir sua vocação com coragem e julgamento equilibrado ao mesmo tempo. Alguns se contentam em dar de ombros e abandonar a luta central de nosso tempo.

Olaf faz questão de apontar que um risco central para qualquer escritor, artista ou criador de conteúdo diante do terror é ocultar-se, eximir-se. Mas ele também vê um risco igual e oposto para escritores que “pegam em armas” como ativistas políticos.

Além da experiência individual do escritor, o esforço de Olaf Stapledon era o de tentar ver a raça humana além da visão única de cada um. Além de qualquer ideologia política, além de qualquer opinião pessoal, nós precisamos aprender a ver a raça humana pelo todo, pela perspectiva cósmica. Ele acreditava que vendo o nosso mundo além do céu repleto de estrelas talvez pudéssemos superar as diferenças e agir para a formação de uma verdadeira comunidade humana.

Como filósofo de formação, Olaf não pensava, exatamente, em entreter seus leitores. Suas obras possuem um profundo viés filosófico, com exemplos e discussões feitos com uma base ficcional. Para ele, a ficção era uma forma de ensinar algo aos leitores que, sem formação universitária, poderiam ser levados a pensar e questionar seu mundo.

O fascismo só pode vencer reduzindo-nos às formas mais tacanhas e preconceituosas de ver o mundo. A ficção científica é uma maneira perfeita de mostrar às pessoas as maneiras mais amplas, imaginativas e esperançosas de se ver e viver em sociedade. Como leitores e escritores de FC, podemos escolher o ativismo, podemos escolher a retirada. Mas se realmente queremos fazer a diferença, nossa melhor ferramenta é escrever, ler e promover a ficção científica.


Até mais!


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