Já me perguntaram isso algumas vezes. Ficava com a impressão de ser o crânio, aquela chata, que sabia de tudo, que não podia errar nem se enganar e que as pessoas olhavam torto quando passava ou que procuravam quando precisava de ajuda em alguma coisa. Nunca fui a excelente aluna na escola que muitos pensam que fui, só me tornei a aluna exemplar quando a necessidade aumentou e quando a falta do estudo me mostrou que eu tinha uma deficiência a sanar. Mas estava pensando cá com meus botões estes dias e pensei de onde vem esse meu interesse por ciência...
Três grandes incentivos na infância e na adolescência me fizeram ter predileção e paixão pelas ciências em geral, em especial para com a geografia, geologia, química, astronomia, astrofísica e oceanografia. Como toda criança da geração Nescau, eu sempre assisti muita televisão. Então dois estímulos vieram daí com a série Jornada nas Estrelas, a série clássica e com O Mundo de Beakman.
Jornada nas Estrelas, os episódios clássicos passavam nas tardes da Record quando eu era criança e eu lembro que o programa conseguia me prender com suas aventuras por planetas alienígenas, com sua "avançada" tecnologia, mesmo que hoje os efeitos especiais pareçam amadores e com os conflitos humanos mais comuns. Eu ficava vidrada nas explicações científicas de Spock e nas suas constantes rusgas por conta de sua lógica vulcana. Lembro que a partir daí, minhas séries prediletas de TV seriam todas de ficção científica. Tanto que acompanhei todos, absolutamente todos os episódios de Jornada nas Estrelas, a nova geração, Arquivo X, Stargate, Babylon 5, Batllestar Galactica...
O Mundo de Beakman foi para mim um divisor de águas no segmento das coisas que eu normalmente via na televisão. O mundo parava quando começava o programa, não importava o que estivesse passando em outro canal ou quem estivesse assistindo. Eu parava o que estava fazendo para assistir. Acredito que programas que falam de ciência não precisam ser chatos, ao contrário, ciência deve ser divertida, interessante, deve mostrar às pessoas que ela está ali presente o tempo todo nas situações mais cotidianas. E esse era o jeito do programa. Além de ser engraçado, as explicações não exageravam em contas, números e termos complicados. Era a ciência experimental aliada à diversão e às explicações que se podem entender. Uma pena que não há nada no Brasil assim, pois ninguém importou o modelo e tentou por aqui.
E o terceiro estímulo? Foi a revista Superinteressante. Eu comecei a ler meio que sem querer, pois minha mãe trazia do trabalho. Em pouco tempo eu já estava fisgada pela revista de capa vermelha com tantos textos interessantes e fáceis de ler. Comecei a assinar um tempo depois e assim como com Beakman, enquanto eu não lesse minha edição da Super, eu nada fazia. Lia de uma ponta a outra, sem pausa. Mesmo que hoje eu não goste de seu estilo e formato, ela me prestou um serviço que vários professores de ciência não fizeram: ler e gostar de ler. Hoje minhas revistas prediletas de ciência são a Scientific American e a Pesquisa Fapesp, altamente recomendadas.
Quando eu vejo professores e pais de alunos dizendo que as crianças e os jovens não se interessam por ciência ou pela busca do conhecimento, eu sinto vontade de dizer que a culpa é deles, não só dos jovens. Como eu mostrei acima, os meios para se obter existem e muita coisa eu aprendi sozinha por pura curiosidade, por não conseguir sossegar enquanto tal fato, tal dado, tal evento fosse elucidado. Isso me foi proporcionado da maneira correta. Por que não pode ser para os outros também? Por que não investir em cientistas, ainda mais em um país que carece deles? Se uma coisa que o entretenimento como Jornada nas Estrelas e O Mundo de Beakman mostram é a possibilidade de se aliar o espetáculo com o conhecimento, sem ser chato, empoeirado e ultrapassado. Ninguém precisa ser tapado, isolado, sem vida social para ser inteligente.
Até mais!
22 ago. 11
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