Olaf Stapledon é um dos patriarcas da ficção científica e um dos grandes escritores ingleses. Professor de filosofia da Universidade de Liverpool, a trajetória de Olaf na ficção científica é um tanto incomum. Ele não escrevia para entereter, mas sim para ensinar. Ele entendia que a ficção era uma excelente maneira de levar conceitos filosóficos para a população em geral e usou esse formato para falar de tudo, desde fascimo até evolução.
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Nascido em 1886, Olaf vinha de uma família proeminente. Até os seis anos morou em Port Said, no Egito, onde seu avô tinha um escritório naval. Na Primeira Guerra Mundial, Olaf foi um objetor de consciência e passou parte do conflito dirigindo ambulâncias no front ocidental, trabalho pelo qual foi condecorado com a Cruz de Guerra de Operações no Exterior, por bravura.
Suas experiências na guerra influenciaram seus princípios pacifistas e o desejo de um governo mundial capaz de advogar por toda a humanidade. Influenciaram também sua visão de que, sem uma evolução mental e psíquica, o ser humano não sobreviveria muito tempo. Os desejos pacifistas precisaram ser postos de lado com a ascensão do nazismo, pois Olaf entendia que a única maneira de vencer o nazi-fascismo era através de um conflito armado.
A escrita
Preocupado em ensinar e não entreter, os livros de Olaf possuem longas explicações sobre conceitos e ideias que podem desagradar a algumas pessoas. Porém é notável como ele se distancia da ficção científica padrão que vinha sendo produzida na época. Ao invés de ver uma expansão humana no futuro por meio de naves estelares, robôs e colônias, Olaf entendia que era essencial haver uma evolução mental e psíquica. A menos que conhecesse a si próprio, o ser humano não sairia do lugar.Arthur C. Clarke é o escritor que mais bebeu da fonte psicodélica de Stapledon. Livros como O Fim da Infância e o próprio 2001: Uma odisseia no espaço, mostram essa evolução mental dos personagens como um requisito para a evolução da raça humana.
[Nossa] concepção do próprio tempo está se tornando muito incoerente e superficial. Talvez (quem sabe?) do ponto de vista da eternidade o fim do cosmos seja também sua fonte e seu começo no tempo.
Interplanetary Man?
A obra-prima de Stapledon, Starmaker, foi publicado em 1937. Às portas da Segunda Guerra, o autor tratou de preconceito, fascismo, discutiu papéis de gênero e estrutura social em sua viagem astral pelo cosmos. O protagonista não nomeado se vê separado de seu corpo. Sua consciência viaja pelo espaço, encontrando outras espécies alienígenas, criando mentes coletivas com elas, aprendendo sobre as idiossincrasias e semelhanças entre as espécies, aprendendo a respeitar o diferente e visitando seres muito diferentes de nós.
Depois de testemunhar o destino de miríades de planetas e espécies inteligentes, Stapledon, agora um espírito cósmico, tem um breve encontro com Deus – o Criador de Estrelas (Starmaker). Em um sonho dentro do sonho, Stapledon aprende sobre o criador e suas criações. E descobre que este ser é indiferente às suas criações, ainda que aprenda com elas constantemente. Diz-se que as colocações de Stapledon a respeito de Deus neste livro ofenderam o devoto cristão C.S. Lewis a ponto de ele escrever uma trilogia inteira só para refutar.
Olaf precisa ser resgatado e lido, ainda mais em tempos como o nosso. Starmaker é uma obra profunda e cheia de significados que merece ser mais conhecida e lida. Infelizmente, ele nunca foi publicado no Brasil e espero que um dia seja.
Até mais!
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