Resenha: No meio da noite, de Riley Sager

Riley Sager virou minha obsessão em 2025. Li quase todos os seus livros, mas alguns deles foram decepcionantes. Então, assim que esse aqui surgiu no meu radar, fiquei pensando se valeria à pena me jogar na leitura ou deixar passar. Mas sabe como é, né? Eu não aguentaria esperar muito tempo para ler um thriller, então tinha que pegar e ler madrugada a dentro!

O livro
Ethan Marsh está de volta à casa dos pais, em Hemlock Circle, um subúrbio calmo de famílias de classe média e média alta. Depois de alguns problemas pessoais, Ethan está passando um tempo na casa de sua infância durante as férias de verão. Mas voltar para aquele lugar não é fácil. Trinta anos antes, Ethan e seu amigo Billy acampavam no quintal dos Marsh. Na manhã seguinte, Ethan acordou com a luz do sol no rosto e percebeu que estava sozinho. Durante a noite, alguém cortou a lateral da barraca com uma faca e levou Billy.

Resenha: No meio da noite, de Riley Sager

Grande parte da infância é ser enganado por adulto, porque eles acham que suas mentiras pouparão os sentimentos das crianças.

Aquela noite mudou a vida de Ethan. Ele sofre de uma insônia crônica e nunca mais conseguiu pisar no quintal. Ao longo da leitura, percebemos que sua vida ficou marcada pelo trauma e pelo desenrolar dos fatos nos anos seguintes. A mãe de Billy enlouqueceu e seu filho mais novo sumiu. O mistério sobre o desaparecimento do menino impactou tanto a vida de Ethan, que ele acabou moldado por ele. Houve vezes em que Ethan desejou ser a vítima, não Billy.

Uma coisa que gosto muito na narrativa de Sager é que seus personagens são muito humanos. É como se conhecêssemos cada um deles, pois ali todo mundo é imperfeito, sensível e imoral de alguma maneira. Todo mundo tem segredos e eles são revelados conforme a trama avança. E há consequências para esses comportamentos, sentimentos e pensamentos. O que parece muito simples no começo da leitura, vai se tornando mais e mais complexo, até que no final você de cara com o cinismo das pessoas, com sua capacidade de dissimular.

Hemlock Circle é praticamente um personagem, pois conhecemos sua configuração e as casas da rua, suas famílias e suas conexões. Os capítulos se intercalam, mostrando a vizinhança durante a época de Billy, um garoto esquisito que adora fantasmas, que tem manias que irritam Ethan, e as consequências no futuro sobre aqueles que cresceram e envelheceram após seu desaparecimento. Os dois garotos são muito amigos, mas até Ethan se incomoda com as obsessões de Billy e grande parte deste comportamento será crucial para os eventos a seguir. O autor não diz se Billy é autista, mas seu hiperfoco em fantasmas parece indicar isso.

Algo interessante de se apontar é que crianças podem esconder segredos e se comportar de maneiras que podem chocar até os adultos. E conforme nos aproximamos do final, percebemos que aquele grupo de crianças e adolescentes escondem vários. A noite na barraca possui antecedentes chocantes que só serão revelados lá bem no finalzinho mesmo. Ainda que eu tenha desconfiado de alguns deles, nada me preparou para a última revelação. O autor foi amarrando as pontas soltas, aqui e ali, e aí fica impossível não se sentir amarrada aos personagens e seus destinos.

Há também um certo componente sobrenatural que me incomodou no começo. Ethan, por exemplo, sente a presença de Billy em vários momentos. As luzes com sensor de movimento na garagem dos vizinhos acende e apaga sem que ninguém esteja por perto. Bolas de beisebol surgem no quintal de Ethan e objetos aparecem em locais sem que ele se lembre de ter colocado lá. Ethan está ficando louco? Ou seria o fantasma de Billy lhe assombrando? Ele estaria mesmo morto ou será que, agora crescido, estava em busca de vingança contra aquele grupo de crianças?

Não havia vilões na história. Nem heróis. Apenas um bairro de pessoas imperfeitas, algumas mais do que outras.


Ainda que Ethan seja o protagonista, ao lado de Billy, cada um dos personagens tem seu momento de brilhar. Eles têm seus medos e comportamentos descritos, o que pode mudar cenários. Os antigos vizinhos de Ethan, com Russ, Ragesh, a antiga babá das crianças, Ashley, seus pais, cada um deles também carrega segredos que estão relacionados em maior ou menor grau àquela noite na barraca.

O livro tem tradução de Renato Marques e está ótima. Não encontrei grandes problemas de revisão ou diagramação. Mas gostaria de ter tido um mapinha de Hemlock Circle no começo, teria sido interessante.

Obra e realidade
Os livros anteriores de Sager tiveram protagonistas femininas. Depois de sete livros, ele apostou em um personagem cheio de defeitos e problemas, e por isso muito humano. Outro ponto que diferencia este livro dos anteriores: os vários pontos de vista. Como eu disse acima, cada personagem tem seu momento de brilhar e de nos mostrar se está ou não envolvido no desaparecimento de Billy. E por mais que essas partes soem meio cansativas, vale à pena. E não tem como não ler, a gente precisa saber!

Na época em que Sager escreveu este livro, ele morava em um subúrbio de Princeton, Nova Jersey, local onde fica Hemlock Circle. Sua inspiração veio justamente deste subúrbio que parece seguro, onde nada ruim de acontece, onde os vizinhos se conhecem e se protegem. Será?

Riley Sager

Riley Sager é um escritor norte-americano de suspense.

PONTOS POSITIVOS
Ethan e Billy
Hemlock Circle
Suspense
PONTOS NEGATIVOS

Começa devagar

Título: No meio da noite
Título original: Middle of the Night
Autor: Riley Sager
Tradutor: Renato Marques
Editora: Intrínseca
Ano de lançamento: 2025
Páginas: 368
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Comecei a ler sem saber se gostaria do livro ou não, já que as duas últimas leituras de Sager não foram muito boas. O autor se arrasta em alguns momentos, demora em outros, mas entrega um livro com começo, meio e fim. Se você curte livros de suspense, então se joga nesse aqui. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Muito bom!

Até mais! 🔪

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