Resenha: Naondel, de Maria Turtschaninoff

Naondel é o segundo livro das Crônicas da Abadia Vermelha, mas é o prelúdio de Maresi, ou seja, conta a história da fundação da Abadia e das mulheres que a criaram. Mas se em Maresi nós temos uma leitura por uma perspectiva quase que infantil, ainda que tenha seus episódios de violência, Naondel tem um ambiente muito mais opressor e agressivo com as mulheres. Por isso já deixo aqui um alerta de gatilho por violência.



Parceria Momentum Saga e
Editora Morro Branco


O livro
Naondel fala sobre a jornada de sete mulheres que passaram por todo tipo de abuso ao longo da vida. Este é um mundo onde às mulheres sua única função é obedecer e submeter. Este também é o mundo onde o palácio de Ohaddin é envolto em uma falsa luz de perfeição. Em seu harém estão mulheres assustadas demais para se revoltar, oprimidas e dominadas por Iskan, o antagonista e uma das pessoas mais desprezíveis que você terá que ler na vida.

Resenha: Naondel, de Maria Turtschaninoff

Você não precisa ter lido Maresi para ler esse aqui, pois são obras independentes. Mas o clima de Maresi é totalmente diferente de Naondel, que é bem mais opressor, obscuro e violento. É um livro onde a violência está presente na vida das mulheres o tempo todo. Temos sete protagonistas, uma sacerdotisa, uma manipuladora de sonhos, uma guerreira, uma vidente, uma marinheira, uma serva e uma sobrevivente. Cada uma está bem descrita e trabalhada, cada uma possui sua própria voz e maneira de se expressar.

Elas vivem no palácio de Ohaddin, onde Iskan usa e abusa de suas concubinas de tal forma que para algumas delas a violência é um sinal de que ainda se está viva. Pense a respeito, pense em que nível de desumanização uma pessoa precisa chegar para poder ansiar pela violência. Iskan se deleita com a violência que impõe às mulheres e elas estão tão rendidas e resignadas, que apenas fecham os olhos e esperam que o abuso acabe. Aqueles que acham que elas vivem uma vida de privilégios e luxo no palácio, não conhecem suas dores e desespero.

Iskan não quer meninas, quer meninos para serem seus herdeiros, então há cenas de aborto e violência contra as mulheres para que percam seus bebês. Há cenas com forte sugestão a estupros e violência física, coisas que não estão presentes em Maresi, então fique atenta para não acionar gatilhos durante a leitura. Se eu pudesse resumir o livro seria que ele é uma obra sobre submissão e de como as mulheres são vistas como meros objetos, incapazes de ter um pensamento independente. É aqui que reside a força do livro, pois essas mulheres vão provar que são pessoas e que podem sim se unir e mudar seus destinos.

Não foi uma leitura fácil. O começo do livro é bastante lento conforme a autora vai construindo o mundo para nos situar e para nos apresentar suas protagonistas. Essa é uma característica da autora que já senti desde Maresi. Seja seu estilo de escrita, seja a estrutura narrativa finlandesa, o livro demora a passar. E quando se tem cenas tão brutais como as que lemos aqui, parece que o livro tem 900 páginas. É um livro que choca, ainda que seja bem escrito e ambientado.

Uma coisa é inegável, que é a qualidade da construção do universo e a forma como ele é descrito. Desde a geografia das ilhas e o mundo que pouco vimos em Maresi e que aqui se amplia, às roupas usadas pelas mulheres, os cheiros que sentem, tudo está bem escrito e colocado. Inclusive há um belo mapa no começo do continente, da ilha de Menos e um detalhe do palácio de Ohaddin.

O livro em si é muito bonito, com capa azul seguindo o padrão da capa de Maresi. Mas o livro carece de uma revisão mais cuidadosa. Há vários problemas bobos que passaram batido na revisão, desde problemas de concordância a erros ortográficos, letras faltando ou sobrando. O livro acabou com um ar amador, o que é não é comum da Morro Branco. A tradução ficou na mão de Lilia Loman e Pasi Loman e está muito boa.

As histórias encontraram seu caminho até meninas que foram espancadas, perseguidas, torturadas. Elas passaram por grandes perigos para nos encontrar. É bom que tudo o que construímos aqui não vai se desfazer e cair no esquecimento. Nós criamos algo novo, que não existe mais nenhum lugar do mundo escuro e problemático. Aqui as meninas encontram paz, segurança e conhecimento. Aqui elas aprendem que são valiosas e fortes. Talvez as sementes da mudança que espalhamos desta ilha possam transformar tudo em dia.

Página 424


Ficção e realidade
A primeira coisa que o livro faz é nos botar para pensar. A vida das mulheres aqui no mundo real já é regrada e pensada a fim de evitar muitas situações. É desde a escolha da roupa à escolha do táxi, à escolha de qual opressão teremos que escolher para viver mais um dia. Para suportar esses dias tão difíceis, Naondel nos dá a resposta, que é a união entre as mulheres. Somente unidas podemos nos curas dos traumas e das violências, somente unidas podemos formar uma resistência capaz de alcançar a cura. O mundo quer mulheres desunidas justamente por saber da força que temos juntas.

Não sei dizer se o livro chega a ser feminista, mas acredito que ele seja um exemplo de como performar o feminismo e o feminino, uma vez que temos mulheres diferentes, de diferentes origens, mas que sofreram as mesmas violências e que encontram uma na outra uma forma de sobreviver.

Maria Turtschaninoff

Maria Turtschaninoff é uma escritora finlandesa de fantasia.


Pontos positivos
As irmãs
Bem escrito
Poder feminino
Pontos negativos
Violência
Pode ser meio lento
Estupro

Título: Naondel
Título original em finlandês: Naondel (Krönikor från Röda Klostret #2)
As Crônicas da Abadia Vermelha
1. Maresi
2. Naondel
Autora: Maria Turtschaninoff
Tradutoras: Lilia Loman e‎ Pasi Loman
Editora: Morro Branco
Ano: 2019
Páginas: 416
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Não foi uma leitura fácil. Este não é um mundo fácil, pois se fosse mulheres não precisariam se isolar em uma ilha para poderem sobreviver. A violência que a autora escancara é muito familiar para mulheres, pois a ameaça paira sobre nossas cabeças o tempo todo. Mas é também um livro sobre esperança e resistência. Poder feminino, sororidade, combate à opressão, tudo isso está nessas páginas. Quatro aliens para o livro uma forte sugestão para você ler também!




Até mais!


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