Tecnologia e democratização da leitura

Assim como o iPod trouxe um mundo inteiramente novo à música, os ereaders e aplicativos estão revolucionando a maneira de ler e de se relacionar com os livros. Hoje, mais do que nunca, cresce o mercado literário com títulos e equipamentos que fazem chegar às pessoas obras e autores. Mas ainda assim, tem gente que não lê.





Eu digo e repito quantas vezes for necessário: a fotografia não substituiu a pintura, a televisão não substituiu o cinema, o ebook não vai substituir o livro físico. Ainda hoje existe mercado para o vinil, em plena época do mp3. Então quem vem com esse papo que o papel está condenado, melhor rever seus conceitos. A tecnologia tem facilitado nossa vida desde a invenção da roda, mas não é por isso que temos que condenar algo ao esquecimento só porque apareceu uma tralha tecnológica.


Chamo de tralha, pois sem energia, sem bateria, você não pode usar, diferente de um livro físico, por exemplo. Mas sou uma defensora de seu uso, com certeza. Minha vida de leitora mudou muito desde a chegada do Kindle. Tenho lido mais rápido e tido acesso à livros que se eu fosse procurar em livrarias dificilmente acharei, ou até mesmo em sebos. Tenho conhecido outras obras e lendo livros em inglês também.

Era de se esperar então que com a expansão do mercado literário e os porrilhões de títulos lotando as prateleiras e os sites, com equipamentos e aplicativos para leitura e o acesso da população à estas novas tecnologias, que este fosse um hábito que crescesse cada vez mais e que se popularizasse de uma vez por todas. No entanto, não é incomum alguém me perguntar, quando estou com o Kindle no ônibus, ou esperando em algum lugar, se o que eu estou segurando é um tablet. Eu respondo que não, que é um leitor de livros digitais. A pessoa esnoba, falando que um tablet é mais prático.


Com certeza, os tablets têm suas funcionalidades e facilidades. Ele é um ótimo recurso didático, por exemplo. Para quem quer sempre andar conectado, com uma ferramenta multiuso, de fato, um tablet é uma grande ferramenta. Quem curte quadrinhos pode usufruir de sua tela para ler confortavelmente e a cores. Mas quem é leitor viciado como eu sabe que muitas vezes é bom ter dispositivos separados. No momento em que me encontro, não tenho necessidade alguma de um tablet, então nem vou me esforçar para comprar um, apenas por ter. Enquanto um ereader está na faixa de 300-400 reais, um modelo básico, um tablet sai pelo menos três vezes esse valor.

Se por alguma razão eu não posso levar meu Kindle para algum lugar, estou sempre com o smartphone na bolsa. Desta forma, baixei o aplicativo do Kindle e leio o que eu quiser, já que tenho um pequeno estoque de ebooks ali armazenados. E este é só um entre os vários aplicativos existentes tanto para smartphone quanto para tablets para leitura. Por sua vez, estes aplicativos fazem menos sucesso que o Angry Birds por exemplo.

Temos tecnologia para ler em qualquer lugar. Temos ereaders, aplicativos para tablets e celulares, livros a torto e a direito em livrarias, nos sites e blogs, promoções... E ainda assim o brasileiro não lê. Não adianta dizerem que agora o brasileiro tem lido mais, pois não é verdade. Se assim fosse, livros seriam baratos, bem como toda a tecnologia envolvida hoje no ler de cada cidadão. Então qual é o problema?

Quem aqui compra produtos pelos catálogos da Avon já deve ter notado que em um deles tem uma parte de livros. O autor brasileiro Eduardo Spohr tem por livros lá. O projeto chamado Leitura Alimenta quer colocar ao menos um livro em cada cesta básica distribuída, cujo objetivo é diminuir a fatia da população que não lê. Segundo esse mesmo projeto, 55% da população se considera leitora de verdade e 75% dela nunca entrou em uma biblioteca. Ou seja, falta cultura de leitura na população. É triste constatar isso em um momento onde os livros inundam as livrarias.

Uma vez um cara bateu boca comigo no Facebook dizendo que os livros são caros porque as editoras o fazem ser caro. Para mim, a culpa de nosso mercado literário estar nesta situação é da falta de leitores e dos analfabetos funcionais, pessoas que não conseguem interpretar e compreender um texto ou que simplesmente não encaram a leitura como algo prazeroso e necessário para a vida de um indivíduo. Talvez ele agora perceba que mesmo com toda a tecnologia disponível, as pessoas continuam achando que ler é coisa de desocupado, chato, sem graça. São estas mesmas pessoas que pagam mil reais em um smartphone que só falta fazer café, mas não investem 300 reais em um Kindle, "porque é muito caro". Mesmo com um "espertophone" como esse na mão, não o usa para ler.


É uma questão de incentivar a leitura desde cedo para formar leitores e escritores. Nossas escolas muito mal e porcamente têm feito esse papel e não é de se estranhar que vemos por aí pessoas que afirmam preguiça de ler. Eu só lamento por elas, já que estão perdendo a chance de conhecer outros mundos e outras pessoas. Mas é bom ler depoimentos de pessoas que estão se animando com a tecnologia e passando a fuçar mais os ebooks. Quem sabe isso as leve aos livros físicos e ao mundo fascinante da leitura?

Deixe sua opinião. A tecnologia facilita a vida do leitor? Se facilita, por que as pessoas ainda não leem o suficiente?

Até mais!

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