Falta de educação nacional

lousa e quadro

É muito curioso avaliar o modo como as pessoas encaram as greves de professores. É mais curioso ainda como muita gente não entende o trabalho deste profissional que é um recurso estratégico da nação, afinal se não fossem os professores, ler este texto seria impossível, bem como montar um blog, escrever e ler um livro, ter uma profissão, ser um cidadão. Quando vejo professores, médicos e policiais fazendo greve e pedindo salários melhores, percebo que não dá para construir a tão sonhada nação do futuro com fundações podres e desgastadas.



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Quando eu falo que sou, além de geógrafa, professora também, recebo olhares de pena. As pessoas lamentam que eu esteja em uma profissão desvalorizada e que não tem carreira, reclamam da molecada, coisa e tal. Mas o problema real é a desvalorização que o poder público tem com a profissão. Toda vez que professores fazem greve, os pais reclamam que a garotada fica "ociosa". Ou seja, a escola é só um depósito para que os filhos não fiquem em casa. Muitos professores vão trabalhar se arrastando. Desmotivados, despreparados e até doentes. Quando recebem holerite no final do mês, seus salários vêm errado, com aulas faltando, entre outros descontos.

A imagem abaixo mostra bem o que eu quero dizer. O edital de seleção para provimento de cargos no município de Vila Rica, em Mato Grosso. São vagas para professores (curso superior) e para operadores de máquinas (fundamental incompleto). Note pela data que ele é deste ano. Clique na imagem para aumentar.

edital de Vila Rica

A mídia noticia - quando noticia - a falta de professores na educação pública. Você enfrentaria uma sala com 40 adolescentes por um salário desses ou operaria uma máquina? Não é à toa que quando vou ao hospital para as consultas de rotina, eu vejo tantos colegas doentes, de muletas, desorientados e desmotivados.

Vários estados estão entrando com recursos no Judiciário para não pagarem o piso nacional do professor que é de R$ 1.451,00 por 40 horas semanais. E a aplicação do piso é obrigatória para estados e municípios de acordo com lei federal nº 11.738, de 16 de junho de 2008. Nove estados hoje não estão pagando o piso obrigatório e o governo de Alagoas disse que fará um estudo do impacto financeiro da implantação. Impacto financeiro? Somente em um país que não encara educação como plano nacional e investimento pode alegar uma estupidez dessa. E somente este país mantém uma máquina pública cara e deficiente enquanto as escolas estão sem giz e sem professores capacitados.

Um minuto de um parlamentar custa R$ 11.545,00... o mais caro do mundo. Cada senador sai por R$ 33 milhões ao ano. Se formos dividir essa conta para cada brasileiro, o valor para pagar essa galera toda é de R$ 18. Já o custo da saúde, por exemplo, dividido entre todos, é de cerca de R$ 0,64. Custo da educação é algo em torno deste valor. Só assim com números podemos ver o abismo educacional onde se enfiou a nação. Esta mesma nação que quer cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, a mesma nação que quer erradicar a miséria e a pobreza, trata o profissional da educação desta maneira.

Tem solução? Curto e médio prazo, não. Vejo medidas que deveriam ser implantadas agora para colhermos os frutos de educação nacional de qualidade na geração seguinte. O que deveria ser feito de imediato e mantido ao longo dos anos:

  • investimento maciço em educação a longo prazo e fiscalização da aplicação;
  • criação de um plano nacional de carreira para professores de escolas públicas com progressão salarial por tempo de exercício;
  • implantação imediata do piso nacional e das correções anuais que ocorrerão sem possibilidade de recursos da parte de estados e municípios;
  • valorização da escola pública, com capacitação de funcionários, salas de aula, laboratórios e bibliotecas;
  • fiscalização pesada em cursos e licenciatura, melhor formação de professores e ampliar o acesso aos cursos de pós-graduação e melhorias docentes;

Uma vez, numa conversa informal, me perguntaram se o Brasil precisava de uma guerra para ser desenvolvido, baseado nos exemplos do Japão e da Coreia do Sul. No pós-Segunda Guerra, o Japão investiu quase 20% dos seus recursos em educação e criou excelência em ciência e tecnologia. Minha resposta? O Brasil precisa investir maciçamente em educação para não ter uma guerra. É isso que previne guerras, crimes e violência.

Até mais!


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