(des) Educação


Existe uma frase de Pitágoras que eu gosto muito.

Eduquem-se os meninos e não precisará punir os homens.

Qual é a verdade inexorável por trás da frase? É o mesmo princípio que Thomas More adota em sua obra Utopia.

Se você corrompe um indivíduo desde a infância, lhe oferece baixa educação, tira suas oportunidades e mina seus recursos, e quando este mesmo indivíduo se volta contra a sociedade que o corrompeu, que direitos tem a sociedade de puni-lo? (adaptado)

Ou seja, a educação é a responsável pelo caráter dos homens e ao não ter acesso à ela, o cidadão é corrompido. A necessidade faz o ladrão, certo? Depois de ler o artigo Vestibular, do blog Reflita!, além dos comentários que tenho lido aqui no Saga, percebi o quanto existem críticas - válidas, por sinal - à educação brasileira e também algumas visões equivocadas.



Existem quatro principais agentes envolvidos na educação brasileira:

  • ESTADO
  • PROFESSORES
  • PAIS
  • ALUNOS

Educação é um trabalho de todos.

Por que eles? O Estado é o agente responsável pelo estabelecimento dos direitos, das diretrizes e dos estatutos responsáveis pela formação de seus cidadãos. Os professores são os agentes designados pelo Estado ou instituição de ensino que também deve seguir as leis da educação. Os pais são obrigados por lei a matricular seus filhos tanto no ensino fundamental quanto médio, sob pena da lei. E os alunos são aqueles que serão cidadãos no futuro, responsáveis pelo seguimento da sociedade.

Numa visão ideal, o governo deveria se esforçar para criar cidadãos que serão responsáveis por sua manuntenção. Quanto melhor for esta educação, mais bem sucedido é um Estado. Tá... Muito bem.

Por que no Brasil, um país de importância regional, estratégico, com riquezas, uma das economias que mais cresce no mundo e uma democracia (apesar de seus problemas) florescente, a educação é relegada a segundo plano? O que acontece? É culpa de um único agente? Não, não é. É todo um conjunto de problemas que geraram um círculo vicioso de notas humilhantes e toda uma geração de alunos medíocres (salvas as merecidas exceções).

ESTADO
No páragrafo acima eu disse que o Brasil é um dos países que mais cresce, mas eu não disse que ele se desenvolve, pois são conceitos diferentes. O crescimento econômico vê apenas os lucros da indústria, o consumo, o aumento da renda, que não querem dizer que há avanços na saúde, na educação, na ciência e tecnologia. Um exemplo de país que investiu em desenvolvimento e crescimento é o Japão. De país agrário, cujos produtos eram cópias um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, ele se tornou a terceira maior economia do globo. Como? Investiu pesado na educação, na formação de professores e na reforma das escolas, bem como fez a Coreia do Sul. Então o problema é a quantidade de investimentos? Não de novo. O Brasil gasta quase 2% a mais do PIB em educação do que o próprio Japão. O que atrapalha é a alocação dos recursos.


Além disso, o principal problema é que Educação neste país é sempre um projeto de governo. De PT, PMDB, PSDB e PQP, não interessa, ninguém analisa a educação como um plano de ESTADO, um plano a longo prazo. Nenhum cidadão é alfabetizado e se forma em apenas quatro anos. Por isso, os planos educacionais sempre perdem continuidade, em especial nas esferas regionais.

Além disso, escolas e universidades públicas sofrem com a falta de infraestrutura. Existem escolas de latas, de taipa, escolas sem luz e sem carteiras. Mesmo nas escolas onde está tudo em ordem, a coisa parece não funcionar bem.

PROFESSORES
Apontados por muitos como os verdadeiros vilões da educação nacional, ser professor hoje é quase um fardo, uma vergonha de se admitir perante pessoas educadas. Quando uma pessoa diz o que faz da vida e diz que é professor, ela recebe um olhar de pena e um suspiro de pura misericórdia. Uma das carreiras mais antigas do mundo (acredito que as outras duas sejam os médicos e as prostitutas!) o professor não é visto mais como mestre. E sim como um coitado que conseguiu fazer faculdade e que não tem auto-estima para ser coisa melhor na vida. Na minha humilde opinião, ser professor é um talento, não uma profissão. Não é qualquer um que entra numa sala com 40 adolescentes e consegue dar aula. Houve um sucateamento dos cursos de licenciatura nos últimos anos. O governo ampliou as vagas no ensino superior, mas esqueceu da qualidade de tais cursos. Em especial os de licenciatura, que muitas vezes não vêm com o complemento do bacharelado, visto que muitos lugares não contratam alguém com diploma de licenciado. Tive e tenho o prazer de conhecer e trabalhar com ótimos professores, assim como os medíocres e vejo as críticas que os próprios alunos fazem deles.

O problema nas universidades gerou toda uma legião de professores totalmente despreparados e desmotivados para dar aulas, professores que falam e escrevem errado e que não têm domínio de sua disciplina, que ganham pouco e precisam trabalhar em muitas escolas diferentes. Também existem aqueles que dizem que se os alunos tiverem acesso às novas tecnologias, eles aprenderão mais rápido. E os valores universais (pautados nos direitos humanos)? São ensinados pelos computadores também? Pitágoras fazia seus sermões riscando no chão com um graveto. E o treinamento do professor com essa nova tecnologia? Existem salas de informática em muitas escolas por aí, todas elas às traças pois os professores alegam "não gostar da tecnologia", quando na verdade é puro desconhecimento.

PAIS
A geração da minha mãe era extremamente rígida. Com os meus colegas e amigos mais próximos também foi assim. Mas essa rigidez na educação de nossos pais foi substituída por uma educação excessivamente libertária, desregrada, quase sem valores.

O que está acontecendo? Eles têm medo de dizer não aos filhos, de impor regras e de estabelecer normas por achar que os filhos serão prejudicados, que a punição pode gerar traumas e com isso, os pais acabam como coniventes com o quadro que temos hoje. Alunos desinteressados, que desrespeitam a autoridade, vítimas de uma sociedade que não valoriza a educação justamente por este tipo de comportamento. É um círculo vicioso. Os filhos e consequentemente os alunos precisam de regras, isso faz parte do aprendizado. Elas não podem ser desconsideradas pois o processo pedagógico necessita destas regras. É um erro achar que a autoridade deva ser esquecida, ela não vai machucar suas mentes, e sim vai moldá-las.

ALUNOS
Os alunos são a ponta fraca da corda, pois pais, professores e o Estado colocam a culpa neles pela situação da educação nacional. Eles são desinteressados, não cuidam do patrimônio, etc, etc.

Eles são reflexo dos três agentes supracitados. Eles são o monstro criado por esta situação. Se o Estado não investe num projeto educacional, que forme e valorize seus professores, que consiga fazer a sociedade reconhecer e se comprometer, os alunos permanecerão na situação em que se encontram: aqueles que conseguem chegar ao ensino superior chegam com deficiências, salvo os que foram educados em escolas particulares e caras.

REFLEXÃO
O que podemos esperar no futuro? Vejo avanços pequenos. Acredito que algum resultado seja visto em apenas vinte, trinta, cinquenta anos. Infelizmente, o país não pode esperar tanto para se desenvolver. Desta maneira, temos a ausência de profissionais de diversas áreas e por incrível que pareça (meu querido professor Caê disse isso uma vez e eu não acreditei na época) existem profissionais que se dão ao luxo de escolher emprego, pois a demanda por eles é muito alta.  Antes de me formar, eu já estava empregada e tive que recusar trabalhos em Geografia e Meio Ambiente porque eu não podia conciliar com a escola. Existe uma demanda altíssima por engenheiros, espécie rara no mercado, assim como Geólogos, Professores de diversas áreas. Isso mina todas as tentativas de um país se desenvolver e ter mão de obra futura.

Acredito que seja necessário uma revolução nas formas de educarmos nossas crianças e jovens. Hoje, ela parece uma linha de montagem fordista, onde o aluno recebe as instruções em série e deve apresentar resultados em um currículo rígido. As escolas precisam ser mais HUMANAS e menos TECNOLÓGICAS, pois é assim que se passam os valores. Não devemos deixar computadores e tablets de lado, eles devem ser ferramentas de apoio ao processo e não o processo em si.

Nenhum dos tais agentes devem esperar pelo outro para agir. Cada um fazendo a sua parte - que parece simples - gerará frutos para erguer a bandeira da boa Educação.

O vídeo abaixo é muito interessante fala por si quando o assunto é a educação e a situação das escolas.



Atualização 05/10/2011 - Nesta ótima entrevista, veja o que o educador José Pacheco, mestre em Ciências da Educação, idealizador de um dos casos mais bem-sucedidos de inovação em educação, a Escola da Ponte, na cidade do Porto, em Portugal, diz sobre a educação no Brasil. Clique aqui.

Até mais!



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