Resenha: O jogador, de Iain M. Banks

Os fãs de ficção científica podem se abraçar e chorar de emoção, pois a editora Morro Branco lançou um dos grandes clássicos da space opera e da FC Hard: O jogador, livro da aclamada série da Cultura, que chegou ao Brasil em 2021. A Morro Branco não brinca em serviço, o que significa que as chances de essa saga chegar por aqui com todos os livros é bem grande!

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Em um futuro distante, a humanidade evoluiu para viver em uma sociedade pós-escassez chamada de Cultura. As mazelas do nosso mundo como miséria, fome, doenças, não mais existem. Controlada por benevolentes inteligências artificiais, este é um mundo onde drones são considerados indivíduos autônomos e onde uma pessoa pode sintetizar drogas no cérebro, podendo até mesmo transitar entre gêneros e sexos diferentes com igual facilidade. Este é o mundo de Jernau Morat Gurgeh, nosso protagonista, o jogador.

Resenha: O jogador, de Iain M. Banks

Gurgeh é um jogador mestre profissional. Ele sabe jogar tudo o que existe, bate qualquer adversário e é muito famoso em seu orbital de Chiark. Um orbital é um anel artificial que serve de moradia para milhares de pessoas. Aliás, tudo dentro da cultura é gigantesco. Uma nave pode conter milhões de tripulantes. Sendo tão avançada tecnologicamente, nada falta às pessoas. É justamente por isso que Gurgeh parece entediado, passando seus dias como se ele já tivesse chegado ao ápice da carreira e não tivesse mais nada para fazer, nenhum desafio para encarar.

Gurgeh não é um sujeito simpático. Aliás não me afeiçoei a ele em nenhum momento. Ele consegue ser uma mala na maior parte do tempo. Não sei se era essa a ideia de Banks ao criar um personagem tão babaca em algumas situações. Mas acredito que essa babaquice de Gurgeh é o que o leva a cometer um ato impensado de ganância enquanto jogava com outra pessoa. Talvez fosse pela emoção de contrariar um pouco as regras ou o desespero de notar que ele poderia perder aquela partida que o levaram a fazer isso. Só que naquelas, né? A chance de ser chantageado era alta e ele de fato foi.

A chantagem que se segue depois desse ato impensado o leva ao Império de Azad, uma civilização que a Cultura considera primitiva, cruel e imensamente rica, longe de tudo o que ele conhece. Já que Gurgeh é tão bom jogador, ele acaba recrutado para ser enviado para esse império para jogar o Azad, um game tão complexo e tão tradicional que ele é usado até para definir quem será o Imperador. Ao invés de ter um vestibular para entrar numa faculdade, imagine que você tivesse que jogar uma partida de Azad. É basicamente isso, só que com fatores que complicam. Por exemplo, pode-se apostar amputações, duelos, qualquer coisa em uma partida.

Essa sociedade de Azad é muito parecida com a nossa, inclusive no quesito crueldade, mas a Cultura também tem seus problemas, por mais que ela pareça utópica num primeiro momento. Em Azad não se sabe muito sobre a Cultura de propósito, mas o pouco que sabem faz com que os azadianos não levem a Cultura a sério. Conforme o autor vai jogando essas informações sobre a situação em Azad a gente começa a compreender que há um propósito muito maior para a presença de Gurgeh ali. O jogador percebe que as circunstâncias do jogo são muito mais complicadas do que lhe contaram inicialmente e que até Azad tem seus apelos...

Nunca havia sentido a falsidade dessas representações antes, mas ali, sentado nas velhas acomodações da área social, olhando para a tela retangular na parede, não conseguiu evitar se sentir como um ator ou componente nos circuitos da nave: como parte da falsa vista do espaço real pendurada à frente e, portanto, tão falso quanto ela.

Página 120

O jogo de Azad é descrito em detalhes, mas as regras reais nunca são dadas ao leitor, aliás como muita coisa no livro que não é explicada. Ele é principalmente tático e jogado em tabuleiros tridimensionais de várias formas e tamanhos, embora as rodadas anteriores possam ser jogadas exclusivamente em cartas. Normalmente, os tabuleiros são grandes o suficiente para que os jogadores andem dentro deles para mover ou interagir com suas peças. O número de jogadores difere de jogo para jogo e também influencia as táticas, já que os jogadores podem optar por cooperar ou competir entre si.

A jornada de Gurgeh nos segura até as últimas páginas do livro, ainda que o personagem seja um otário na maior parte do tempo. Há um grande elenco de personagens tanto em Azad quanto na Cultura, mas no fim o personagem que acabou me cativante mais foi um drone e uma nave. Interessante apontar que temos um narrador misterioso que apresenta as diversas partes do livro. Ele pede paciência enquanto vamos lendo, que ele vai se revelar e quando se revela, SURPRESA!

A edição da Morro Branco está muito boa, com tradução de Edmundo Barreiros. Sinto que o livro poderia ter sido bem revisado, mas foram problemas bem pontuais. O trabalho gráfico está ótimo e o livro já vem com o tradicional marcador de página.

(...) um sistema culpado não reconhece inocentes.

Página 248

Obra e realidade
A Amazon comprou os direitos de adaptação da Cultura, mas infelizmente a produção parou em 2020. O espólio do autor alegou que não era o momento certo para a adaptação. Uma pena, na verdade, pois há tantas discussões interessantes a se fazer, ainda mais nos dias de hoje. Se Fundação, que já foi considerada uma obra "inadaptável", creio que a Cultura renderia uma excelente série de TV.

A Cultura é uma sociedade avançada e hedonista, muito avançada tecnologicamente. É interessante notar quanto Bezos quando Elon Musk são grandes fãs das obras de Iain Banks, mas talvez não tenham percebido as diversas críticas ao imperialismo que o autor fez no livro.

Iain M. Banks

Iain M. Banks foi um dos grandes escritores de ficção científica. Nascido na Escócia, escreveu livros dentro de vários gêneros, como Fábrica de Vespas, lançado pela editora DarkSide. Banks morreu em 2013 devido a um câncer na bexiga.

PONTOS POSITIVOS
Cultura
Personagens bem construídos
Leitura rápida e tensa
PONTOS NEGATIVOS

Longas explicações cansativas


Título: O jogador
Título original em inglês: The Player of Games
1. Consider Phlebas (1987)
2. The Player of Games (1988)
3. Use of Weapons (1990)
4. The State of the Art (1991)
5. Excession (1996)
6. Inversions (1998)
7. Look to Windward (2000)
8. Matter (2008)
9. Surface Detail (2010)
10. The Hydrogen Sonata (2012)
Autor: Iain M. Banks
Tradutor: Edmundo Barreiros
Editora: Morro Branco
Páginas: 368
Ano de lançamento: 2021
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não vou dizer que o livro é de fácil digestão. Teve momentos em que eu achei que não ia conseguir prosseguir com a leitura. Banks não se preocupa em nos dar quaisquer explicações exceto as que ele quiser. Pra dizer a verdade tive que ir na Wikipédia da Cultura para saber melhor alguns detalhes desta grande civilização. Mas depois que você pega o livro, não quer parar mais. Estou bem ansiosa para os futuros volumes da Cultura! Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!



Até mais! ♟️

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