Resenha: Dona do poder, de Kiersten White

Terminamos o livro anterior, Filha das Trevas, com um misto de surpresa e horror por tudo o que nossos queridos Lada e Radu passaram. Crescendo na corte muçulmana na capital do império, Edirne, acompanhamos as crianças se tornando adolescentes e jovens guerreiros, cada um em sua arena: Lada munida de seu ódio e sua espada, Radu com sua inteligência e perspicácia. As coisas vão ficar infinitamente mais complicadas aqui para os dois irmãos que se amam e se odeiam. Pode haver alguns spoilers do primeiro livro!


O livro
O sonho de Lada, desde que uma criança, era o de retornar à Valáquia e lá fazer o que seu pai não fez. Ao contrário de Radu, que se sentiu em casa no império muçulmano muito cedo, Lada fazia de tudo para se lembrar que aquele nunca foi seu lar. Seu lar, a razão de sua existência, sempre foi a Valáquia. Porém ela sabe que sua ascensão ao trono de príncipe não será fácil. E não foi mesmo. Chegando à Valáquia, tudo o que ela encontra é rejeição. Para conseguir apoio que tirá os usurpadores do trono que é seu, ela terá que ser diplomática e forjar alianças, um trabalho que sempre foi a especialidade de Radu.

Resenha: Dona do poder, de Kiersten White

Essa dicotomia entre os personagens é uma das coisas que eu mais gosto na saga. Cada um deles carrega poucas características que seriam atribuídas automaticamente a homens e mulheres. Os papéis foram invertidos e não há demérito algum na sensibilidade de Radu, por exemplo. Isso não quer dizer que Lada seja alguém destituída de sentimentos. Ela tem vários, todos passionais, mas ela nunca perde de vista seu principal objetivo, que é a Valáquia e não consegue entender porque seu irmão não pensa da mesma forma.

Mehmed também tem um objetivo em vista, um que está bem documentado na história: Constantinopla. Era uma questão de honra para Mehmed conquistar a cidade que tantos de seus antepassados lutaram e perderam. A capital romana do Oriente, coração da Igreja Ortodoxa, é a joia da coroa que falta para o império brilhar sobre os infiéis. Para isso, ele começa a construir um exército, mas faz um pedido extremamente perigoso para Radu, que agora é um de seus mais altos conselheiros: ele deve trair o império e buscar asilo em Constantinopla. Boa parte da jornada de Radu se passará nesta cidade e senti que em alguns momentos a autora prolongou demais as cenas, o que deu uma desacelerada na leitura.

Enquanto isso, Lada, na Valáquia, espera que seu irmão venha em seu socorro, mas fica furiosa quando sabe que ele foi para Constantinopla. Sozinha, ela começa a forjar alianças perigosas e começa a ascender como o verdadeiro dragão da Valáquia, um dragão cruel sobre os inimigos e misericordiosa com o povo, que rapidamente começa a apoiá-la. Mas o que mais a enfurece é como exigem que ela caiba num ideal feminino, um padrão de comportamento para as mulheres que eram impedidas de ter terras, de ser príncipes, de serem donos de suas vidas. A forma como a autora conta essa parte da história foi brilhante.

Os homens passavam por Lada como se ela não existisse, ou a encaravam de uma forma que era como se não conseguissem enxergá-la. Isso a fazia desejar ter uma arma na mão, uma coroa na cabeça em vez de uma trança, ou até uma barba no rosto. Qualquer coisa que os obrigasse a vê-la como era. Ou, talvez, quando a olhavam e não viam nada, eles já entendessem perfeitamente quem ela era.

Apesar de ser muito fã de Lada, admito que foi maravilhoso conhecer mais de Radu. Ele está em um imenso conflito pessoal, pois sente que é usado por Mehmed. Um boato maldoso corre pela corte de que existe um harém masculino a serviço de Mehmed e que Radu é o seu preferido. Até mesmo os bizantinos acham isso, achando que Rady é uma das concubinas. E por amar Mehmed, a ponto de desejar apenas um olhar, ele acaba sendo uma marionete para os desejos políticos dele. É Nazira, sua esposa, que tenta colocar algum senso na cabeça de Radu. Aliás, o relacionamento de Nazira e Radu é fantástico e foi muito bem trabalhado.

Radu também tem que ser um tipo de agente duplo, e tememos por sua vida a cada minuto. Conhecemos as ruas de Constantinopla e andamos com ele pelas vielas e pela catedral de Hagia Sofia. Conhecemos personalidade históricas e fictícias e acompanhamos o dia a dia de uma guerra. O trabalho de Kiersten em relatar os eventos, tanto na Valáquia quanto em Constantinopla foi incrível.

Como li o ebook, não posso falar da versão física, mas não encontrei grandes problemas com a revisão e a tradução, que ficou mais uma vez na mão de Alexandre Boide.


Ficção e realidade
É interessante como a autora mostrou a capital do Império Bizantino no livro. A tal da joia da coroa não tinha nada de riqueza. Era na verdade uma cidade empobrecida, despida das grandes riquezas que tanto se ouviu falar. Até Radu comenta como ficou desapontado com a miséria que via e como o próprio imperador parecia um camponês ao invés de alguém da nobreza. O que revela em que nível chegou a obsessão de Mehmed com a cidade, que era apenas um ponto de honra para os otomanos.

Kiersten White

Kiersten White é uma escritora norte-americana de livros infantis e para jovens adultos. Nascida em Utah, é formada em língua inglesa e mora em San Diego, Califórnia com a família.

Pontos positivos
Lada e Radu
Império Otomano
Construção de mundo
Pontos negativos

Se alonga demais lá pelo meio



Título: Dona do poder
Título original em inglês: Now I Rise
Saga da Conquistadora
1. Filha das Trevas
2. Dona do Poder
3. Senhora do Fogo
Autora: Kiersten White
Tradutor: Alexandre Boide
Editora: Plataforma 21
Páginas: 472
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Se você procura um livro de história alternativa com uma pegada semelhante a dos livros de Bernard Cornwell, vai adorar a história de Lada e Radu, cada um do lado oposto do império, e sua relação com Mehmed. Agora praticamente adultos e donos de suas vidas, cada um vai trilhar um caminho complicado rumo ao último ato, no próximo livro. Quatro aliens para Dona do Poder e uma forte recomendação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais!

Aquele era seu povo. Seu país. O trono era seu. Ela não precisava de intrigas nem de planos elaborados. A Valáquia era sua mãe. Depois de tudo por que passara, de tudo o que fizera em sua busca pelo trono, só lhe restava uma coisa: ela mesma.

Já que você chegou aqui...

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