Resenha: Mulheres na Luta, de Marta Breen e Jenny Jordahl

Assim que vi o anúncio do lançamento deste quadrinho fiquei sedenta pela leitura. No fim você gostaria que ele tivesse o dobro de páginas, já que ele abrange 150 anos de lutas das mulheres por direitos básicos que, apesar de parecerem estar assegurados, precisam ser constantemente vigiados e resguardados. Basta um governo autoritário e conservador para que nossos direitos sejam os primeiros a sofrer ameaças.



Parceria Momentum Saga e
editora Seguinte



O livro
Você mulher já deve ter ouvido muito cara dizer que se você tem hoje os direitos de estudar, de votar e de poder ter controle sobre a concepção é porque em algum momento um homem lhe concedeu isso, certo? É, já me disseram isso mais de uma vez, de gente que se dizia "amiga e aliada". O que a história nos mostra é que os movimentos já existiam e estavam pressionando o governo, os governantes e a sociedade pelos direitos não só das mulheres, como também da população negra e LGBT+. A luta foi a responsável pelos direitos e ela ainda continua.

Resenha: Mulheres na Luta, de de Jenny Jordahl e Marta Breen

Assim como as crianças e escravos, as mulheres eram legalmente impossibilitadas de exercer seus direitos civis.

Página 4

A discriminação contra mulheres é um debate que vem desde muito cedo na história. Porém, quando as mulheres começaram a se organizar, a se encontrar e começar a se articular na defesa de seus direitos e igualdade com os homens que as coisas começaram de fato a mudar. Quando uma mulher engaja a outra, as mulheres se unem, tal como a água e ficam mais fortes.

É basicamente disso que o livro fala, mostrando como as mulheres começaram a se articular cerca de 150 anos atrás para garantirem direitos básicos como o voto, jornadas de trabalho de 8 horas, licença maternidade, acesso ao ensino básico e superior, equiparação salarial. E sabemos que essa luta ainda ocorre, ainda continua, pois estamos em 2019 e na maioria dos países as mulheres ainda ganham menos, mesmo que tenham qualificações iguais às dos homens e ainda precisam fazer o trabalho doméstico.

Em um primeiro momento, fiquei com medo que o livro abordasse apenas a luta de mulheres brancas, porém logo no começo temos a luta de Margaret Tubman, nascida na escravidão, mas disposta a libertar quantos pudesse. Há uma menção bem pertinente à Guerra de Secessão nos Estados Unidos e de como a guerra ajudou a acabar com a escravidão e garantiu direitos aos homens negros, mas não às mulheres negras.

Após a primeira convenção pelos direitos das mulheres, grupos feministas se espalharam pelo mundo, reivindicando principalmente:

  • o direito à educação e a exercer uma profissão, ganhando seu próprio dinheiro;
  • o direito ao voto;
  • o direito de decidir sobre o próprio corpo.

Vindo do pensamento das mulheres iluministas, o livro passa pelas abolicionistas, as sufragistas, a luta pelo amor livre, a primeira mártir feminista, o atentado à Malala e como o mundo atual é melhor do que era 150 anos atrás. Porém reforça que mesmo que muita coisa tenha melhorado, a liberdade e a equidade não é garantida a todas. Nascer menina ainda é um fardo em muitos lugares no mundo, como na Ásia, onde existe um déficit de mulheres girando na casa dos 300 milhões de indivíduos. Onde elas estão? Foram impedidas de nascer e crescer.

No final há um capítulo à parte, falando da luta das brasileiras, escrito por Bárbara Castro. Aqui temos a carta de Esperança Garcia, nossa luta pelo voto em 1932, os anos de luta operária e na ditadura, a abertura política e a organização de vários grupos femininos, o ciberfeminismo e as redes sociais como articuladoras de mulheres. Fala de como precisamos urgente de uma mudança de mentalidade social e de como o feminismo cresceu a ponto de ganhar inimigos declarados dentro da própria casta política. Basta ver como "ideologia de gênero" é usada pelas bocas dos detratores sem nenhum pudor.

Em capa dura e com ilustrações coloridas, o livro foi traduzido direto do norueguês por Kristin Lie Garrubo. Não encontrei erros de digitação ou diagramação. Os quadrinhos estão bem coloridos e vivos, com cenas que praticamente saltam à vista.


A partir do final do século XIX, as organizações feministas de todo o mundo passaram a trabalhar para que as mulheres tivessem acesso à educação e ao mercado de trabalho. Mais profissões foram abertas às mulheres.

Página 33

Obra e realidade
Basta uma crise para que os direitos das mulheres sejam ameaçados, junto com os de outras minorias. É impressionante como isso é um padrão, já que ainda vivemos sob o julgo e o crivo do patriarcado. Há quem alegue que já temos direitos demais, que o feminismo quer exterminar os homens, que a raça humana vai entrar em extinção caso a situação mude demais. Cada vez que isso é proferido, o que eu ouço é um pavor irracional de perder privilégios, de perder posições de supremacia. Não é à toa que temos tantos homens raivosos nos dias de hoje buscando em figuras políticas que professam o barbarismo e preconceito sem nenhum pudor.


Marta Breen é escritora, jornalista e uma das principais referências do feminismo na Noruega, sendo autora de vários livros de não-ficção. Jenny Jordahl é ilustradora, designer, blogueira e cartunista.

Pontos positivos
Colorido
Bem pesquisado
Fontes e notas adicionais
Pontos negativos
Introdutório
Acaba rápido

Título: Mulheres na Luta - 150 anos em busca de liberdade, igualdade e sororidade
Título original em norueguês: Kvinner i kamp - 150 år med frihet, likhet, søsterskap!
Autoras: Marta Breen (texto) e Jenny Jordahl (ilustração)
Tradução: Kristin Lie Garrubo
Editora: Seguinte
Páginas: 128
Ano de lançamento: 2019
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Mesmo sendo um livro introdutório, paradidático e que inicia uma discussão para se aprofundar nos estudos feministas, foi uma leitura muito agradável. É daqueles livros que eu queria que existisse na minha época de adolescente, que existisse para instruir a mim e minhas colegas, indignadas com tantas coisas que ouvíamos e víamos, mas que não sabíamos definir exatamente o que era. Um livro essencial para a sua estante.

Até mais!⋆

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