Entrevista com Louise O’Neill, autora de A Pequena Sereia & o Reino das Ilusões

Tive a oportunidade de ler A Pequena Sereia & o Reino das Ilusões antes do lançamento (tanto que a resenha está no ar pra você ler!) e discutir um pouco os temas abordados pela autora, que recontou a história original de Hans Christian Andersen, mas pela perspectiva feminista. Sabemos o quanto os contos de fada ainda possuem apelo entre as leitoras, ainda mais as mais jovens e como muitos deles foram açucarados e remodelados pelos grandes estúdios. Na verdade, muitos destes contos são violentos, normatizando abuso e preconceito e com a história de A Pequena Sereia não foi diferente.

Entrevista com Louise O’Neill, autora de A Pequena Sereia & o Reino das Ilusões



A história da sereia que quer ter pernas ainda tem muito a nos dizer sobre como a sociedade cobra as mulheres para caberem em padrões inatingíveis. Os temas foram amenizados na animação da Disney e o conto original praticamente não deu vozes às mulheres da trama, algo que Louise correu para remediar. Veja abaixo o que Louise me respondeu na entrevista!


1. Como começou o seu relacionamento com contos de fadas, especialmente com A Pequena Sereia?
Acho que, como a maioria das crianças, meu relacionamento com os contos de fadas começou com meus pais lendo histórias para eu dormir. Minha mãe era professora de inglês (*em países de língua inglesa, professores de inglês dão aula de literatura), então cresci em uma casa cheia de livros, a leitura foi uma parte muito importante da minha vida. A versão da Disney de A Pequena Sereia saiu quando eu tinha 4 anos de idade, então eu estava na idade perfeita para me apaixonar pela Ariel. Eu era uma criança muito intensa, bastante sonhadora, e eu tinha uma obsessão com o mar (minha mãe diz que eu só estava realmente feliz quando estava nadando!) então senti uma certa afinidade com A Pequena Sereia. Eu estava convencida de que era meio criatura marinha, meio humana.


2. Quais são os principais pontos da história original de A Pequena Sereia que mais te incomodam?
Oh Meu Deus, por onde que eu começo?! Imagino que os aspectos mais problemáticos sejam os seguintes: essa é uma história sobre uma jovem mulher que sacrifica sua casa, sua família, ela literalmente abre mão da sua voz e se silencia, ela mutila seu corpo, tudo para que um homem que ela mal conhece a ache atraente e se apaixone por ela. Como uma pessoa que desenvolveu anorexia e bulimia na adolescência - portanto prejudicando meu próprio corpo para me adequar à ideia do que é considerado “belo” pela sociedade - essa história, pessoalmente, me afeta muito, e também o quão prejudiciais são algumas das mensagens que ela traz.


3. Por que recontar a história por uma perspectiva feminista?
Por que não?! Pra ser honesta, eu amava tanto a história original quando era criança que me senti destituída (sendo uma adolescente feminista novata) quando percebi o quanto ela era problemática. Imagino que eu queria reivindicar a história para uma nova geração de jovens mulheres e meninas. Eu queria devolver a voz à pequena sereia.


4. Por que contos de fada ainda tem tanto apelo entre os leitores?
Muitos acreditam que porque os contos de fada tratam de arquétipos, muitos de nós ainda se identificam com eles, mas eu acho que a constante popularidade deles se deve à tradição mais do que a qualquer outra coisa. Os pais leem contos de fadas para seus filhos porque os pais deles fizeram isso com eles quando eram pequenos. Não sei se tem muito mais coisa além disso. Deveria ter.


5. Que mensagem você espera que o conto possa comunicar às pessoas através dessa perspectiva feminista?
Penso que um dos maiores truques que o patriarcado já aplicou nas mulheres foi o de nos convencer de que para sermos “valorizadas” devemos ocupar o menor espaço possível no mundo. Gostaria de que as jovens que lessem esse livro percebessem que isso não faz sentido. Que elas têm que ocupar mais espaço - reivindicá-lo para si com orgulho. Que não permitam que as silenciem ou, pior, que silenciem a si mesmas. Manifestem-se. Soltem a voz. Suas vozes são importantes, agora mais que nunca.


Depois deste livro, espero que Louise tenha a oportunidade de recontar outros contos de fadas! Agradeço muito à Editora DarkSide pela oportunidade de fazer uma entrevista com a autora e espero que você curta o livro tanto quando eu curti.

Até mais! 🧜‍♀️

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