Resenha: Skyward - Conquiste as estrelas, de Brandon Sanderson

Apesar de conhecer o nome de Brandon Sanderson, ainda não tinha lido nada dele. Skyward parecia ser o livro perfeito para começar: ficção científica, protagonista feminina, alienígenas, raça humana em perigo, muita ação e personagens cativantes.






Parceria Momentum Saga e
Editora Planeta



O livro
A raça humana vive ilhada em um planeta chamado Detritus. O céu é obstruído por imensas estruturas que orbitam o planeta e volta e meia caem na superfície. Os sobreviventes que caíram com a nave Desafiadora encontraram refúgio nas cavernas sob a superfície e lá precisam tomar cuidado para não se aglomerarem demais ou os alienígenas, chamados Krell, descem com suas naves e impedem o desenvolvimento dos humanos. Este é o mundo de Spensa, uma garotinha impetuosa e bocuda que admira o pai como se ele fosse uma divindade. Mas a vida de Spensa muda abruptamente: o pai está numa batalha, pilotando sua nave, tentando impedir a destruição, quando ele dá a volta com seu caça e foge. Spensa agora é filha de um covarde.

Resenha: Skyward, de Brandon Sanderson

A grande contradição da minha vida. Eu nunca teria valor, a menos que eu pudesse me provar - mas eu não podia me provar porque ninguém me dava uma chance.

Página 273

Já adolescente, ela está mais que preparada para a prova para ser piloto. É seu sonho desde sempre e ela nunca desistiu disso, mesmo com o peso da covardia do pai sobre seus ombros. Só que não é tão fácil assim. Spensa, apelidada de Spin pelo pai, tem uma inimiga nas forças de defesa, a almirante Ironsides, decidida a impedir que a filha do covarde entre para a frota. É a interferência de um velho amigo e companheiro de voo de seu pai que vai colocar Spensa para dentro. E lá dentro a vida dela é um inferno.

O grande problema do livro é justamente a protagonista. Ela é insuportável. Para alguém que cresceu em uma sociedade tão regrada, com poucos recursos, sob a sombra de uma falha tão grande do pai, ela é ridiculamente infantil. Eu esperava uma garota com quase 18 anos vivendo nesse lugar com uma cabeça melhor. Mas assim que ela chega na escola de voo, ela arruma briga com metade de turma e ainda apelida Jorgen, o líder do esquadrão, de Babaca. Bem, eu a apelidei de Otária, para igualar as coisas. Tendo crescido ouvindo as histórias que sua avó contava sobre os grandes guerreiros da Antiguidade da Terra, ela parece um papagaio, bradando ameaças vazias para quem se coloca no caminho dela. Beira o ridículo.

Spensa tem cara de ser um personagem masculino que Brandon mudou o nome enquanto escrevia o romance, pois os esterótipos estão todos lá. Acho que ele não entendeu que "força" é algo que pode vir de muitos lugares, não quer dizer necessariamente uma garota bocuda e irritante que não sabe se comportar numa sala de aula. Os únicos momentos de Spensa que são legais é quando ela encontra o M-Bot, uma nave avariada e escondida em uma caverna, que tem uma inteligência artificial com muito mais carisma do que ela.

Também esperava muito mais presença da família de Spensa, que consiste na avó e na mãe. É uma família pobre, porém unida, as três constituindo um núcleo familiar que poderia ter sido muito melhor explorado do que foi. Quase não vemos nem ouvimos o que essas mulheres têm a dizer, exceto por uma maior participação no final, quando já é tarde demais para desenvolver qualquer coisa.

O mistério envolvendo as habilidades de Spensa, porque é claro que ela tem habilidades, ficou incompleto e terminei o livro esperando por alguma revelação que nunca vem. Como se trata do primeiro livro de uma série, Brandon segurou a mão e, provavelmente, vai dar as respostas que faltam no livro seguinte. O que ele nos revela no final também foi trabalhado na pressa e parece que faltaram umas duas páginas ali para melhor desenvolver a coisa toda. Existem discussões interessantes sobre doutrinação e meritocracia do livro que também foram pouco abordadas. Teria sido interessante abordar mais o caráter político da sociedade de Alta e Ígneo, a caverna onde Spensa cresceu, mas os temas ficaram apenas nas pinceladas.

Se Spensa falha como protagonista, os personagens ao redor foram bem melhor trabalhados, até mesmo a rígida Ironsides. O esquadrão parece não ter nada em comum e conforme a leitura avança e o mundo real começa a assentar na cabeça dos jovens, eles passam por profundas mudanças psicológicas, até Spensa. Esse desenvolvimento foi bem legal e tinha horas que era mais gostoso ler sobre os colegas do que ela em si. O planeta Detritus e sua constante capa de equipamentos flutuantes constitui um desafio para os moradores e foi uma grande sacada para o enredo em si e as dificuldades que o povo enfrenta.

A parte gráfica do livro é uma lindeza. Não só a capa condiz com o enredo como no miolo nós temos imagens representando os caças usados pela força de defesa e as naves Krell. Logo no começo temos mapas que mostram a localização da base Alta, onde os pilotos treinam e as cavernas onde a população vive a maior parte do tempo. A revisão e a tradução, no entanto, carecem de melhorias. São palavras a mais, letras de menos e houve momentos em que tive a nítida sensação de falta de vocabulário para várias palavras e o texto ficou repetitivo em vários parágrafos.

Ficção e realidade
Detritus não está assim tão distante da Terra se pensarmos que existem muitos equipamentos e resíduos da nossa exploração espacial em órbita, sem nenhuma função. Alguns estão em órbita estável, outros nem tanto. A nossa sorte é que a maioria deles queima na atmosfera, então nada chega aqui embaixo. Aqueles maiores, como a estação russa Mir podem ter sua reentrada em órbita controlada para cair no mar, o mais longe possível de ocupações humanas. Foi uma sacada inteligente criar um planeta com tantos detritos espaciais, ainda que não tenhamos uma explicação muito ampla sobre ele.


Brandon Sanderson é escritor de ficção científica e fantasia norte-americano, conhecido por suas sagas de fantasia, como Mistborn.

Pontos positivos
Protagonista feminina
Caças estelares
Detritus
Pontos negativos
A protagonista
Pode ser lento e repetitivo em algumas partes
Erros de revisão e tradução

Título: Skyward: Conquiste as estrelas
Título original em inglês: Skyward
Série: Skyward
1. Skyward: Conquiste as estrelas
2. Starsight
3. sem título
4. sem título
Autor: Brandon Sanderson
Tradutora: Marcia Blasques
Editora: Planeta
Páginas: 400
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Queria muito ter gostado mais do livro. Já vi séries melhorarem depois do primeiro livro e espero muito que isso aconteça. Spensa é uma protagonista impossível de engolir e apesar da ação e dos caças, só isso não sustenta um livro e um bom enredo. Não tem nada exatamente de novo no livro, você já viu esses mesmos elementos antes e estaria tudo bem se o enredo os sustentasse. Uma pena. Três aliens para o livro.



Até mais! 🚀


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Comentários

  1. Curiosa essa observação sobre uma protagonista jovem e meio difícil de gostar. No coração de aço, do mesmo autor, tem algo assim. O protagonista é meio infantil demais. Passa a impressão de representar personagens nessa faixa etária não seja o forte do Sanderson. Curiosamente, em O império final, tem a Vin, que já é bem mais interessante e tem 16 anos (se não me falha a memória).

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