Resenha: Fogo & Sangue, de George R. R. Martin

Um dos mais aguardados lançamentos da Editora Suma de 2018 foi Fogo & Sangue, de George R. R. Martin, que se passa 300 anos antes da Guerra dos Tronos. É, não é Os Ventos do Inverno que estamos esperando há anos e anos, que é a continuação de A Dança dos Dragões, mas é uma excelente adição para a coleção e para a saga deste tão conturbado continente.



Parceria Momentum Saga e
Editora Suma


O livro
Para quem está roendo as unhas de antecipação por Os Ventos do Inverno, este livro pode soar como uma decepção. Ele é diferente do que estamos acostumados, tendo um pé firme na Idade Média europeia em vários aspectos. O narrador é o Arquemeistre Gyldain, que adota um tom obscuro em várias passagens e um tom monocórdico que chega a irritar em alguns momentos. Assim como Silmarillion é o Velho Testamento da Terra Média, esse livro aqui pode ser visto como a primeira parte de um Velho Testamento de Westeros. Sim, tem um segundo livro.

Resenha: Fogo & Sangue, de George RR Martin

Os meistres da Cidadela que registram as histórias de Westeros usaram a Conquista de Aegon como marco de toque ao longo dos últimos trezentos anos. As datas de nascimentos, mortes, batalhas e outras ocasiões são classificadas ora como DC (Depois da Conquista), ora como AC (Antes da Conquista).

Página 11

Aegon I Targaryen desembarcou em Westeros e foi coroado e ungido anos depois. Os conhecedores da história da Grã-Bretanha podem ver semelhanças entre Aegon e William, o Conquistador, Duque da Normandia, que invadiu a ilha da Bretanha em 1066 e se tornou rei. A própria conquista de Westeros lembra um pouco as campanhas de Alfred, o Grande, que unificou a Bretanha sob uma só coroa, ainda separada por diversos reinos. Até o formato de Westeros é igual ao da ilha da Bretanha.

Os Targaryen tinham sangue valiriano puro e eram senhores dos dragões de linhagem ancestral. Valíria foi a maior cidade do mundo conhecido, um centro vibrante da civilização, onde várias casas rivais disputavam o poder. Os Targaryen, porém, não constituíam a casa mais poderosa e quando eles deixaram Valíria 12 anos antes da queda da cidade, muitos viram essa retirada como uma fuga. Tendo previsto a queda da cidade, eles logo se tornariam os únicos senhores dos dragões. Usando registros históricos, dados, documentos e narrativas orais, o arquimeistre reconstrói a história da dinastia, mas ficamos com a impressão de que ele não é tão confiável assim. Ou os registros é que não são.

Admito que esta leitura aqui foi bem mais chata do que os outros livros da série. Li todos os livros assim que saíram no Brasil, terminando A Dança dos Dragões completamente arrebatada pelo enredo, mas já temendo que uma continuação demoraria. E está demorando mesmo. A perspectiva de um livro novo dentro do mesmo universo me animou muito, mas admito que a leitura é lenta. Por se tratar de uma coleção de fatos e datas e nomes e eventos, as bocejadas foram fortes em vários momentos.

Ainda assim, a escrita é fluída o bastante para o autor reconstruir a história da dinastia em que os irmãos casavam entre si. De maneira cronológica, começamos seguindo as campanhas de Aegon e suas irmãs Visenya e Rhaenys, exímias e habilidosas sobre seus dragões. Tendo percorrido Westeros nos dois anos seguintes ao desembarque da família, eles se consolidam como soberanos, tendo alianças com várias casas cujos nomes conhecemos bem, com os Baratheon e os Tully. O livro vai de Aegon I ao inicio de Aegon III, os outros monarcas ficarão para o próximo volume, que sabe-se lá deusa quando deve vir, por que né?

Em uma bela edição da Suma, com capa macia e vibrante, não encontrei grandes problemas de tradução e revisão. Se a narrativa pode ser lenta e entendiante em alguns momentos, ela é entrecortada por belíssimas ilustrações de Doug Wheatley, ilustrador, designer e quadrinista canadense que já trabalhou em Star Wars, Aliens, Superman, Conan e O Incrível Hulk.


Ficção e realidade
Apesar que eu não seja fã da série Game of Thrones, sou uma fã ardorosa dos livros e fiquei de coração partido quando o cupim atacou meus livros e dois deles ficaram danificados além de qualquer salvação. Acabei adquirindo uma versão menor, mais recente, para suprir a perda dos outros e gostaria muito de reler, mas me falta tempo para fazer isso. Eu espero que Martin viva tempo suficiente para terminar o livro e que faça dele uma grande obra como os antecessores. E que os fãs PAREM de chatice e deixem o homem trabalhar. Parece um bando de criança mimada.

George RR Martin


George R. R. Martin é escritor e roteirista, formado em Jornalismo, com mestrado na mesma área. De família pobre, já desde criança era um ávido leitor de quadrinhos e contos, escrevendo seus primeiros ainda na década de 1970. Hoje é considerado um dos mais influentes escritores e roteiristas do mundo, mas no início da carreira uma de suas histórias foi recusada por revistas nada menos que 42 vezes.


Pontos positivos
Bem escrito
Família Targaryen
É ilustrado
Pontos negativos

É lento
Final em aberto

Título: Fogo & Sangue
Título original em inglês: Fire & Blood
Série: Uma História dos Targaryen
1. Fogo & Sangue Vol. 1
2. Fire & Blood Vol. 2
Autor: George R. R. Martin
Ilustrador: Doug Wheatley
Tradutores: Leonardo Alves e Regiane Winarski
Editora: Suma
Páginas: 664
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
A leitura foi devagar, mas bastante satisfatória. Daenerys é uma das personagens que mais gosto e mais torci nAs Crônicas de Gelo e Fogo e saber sobre o passado glorioso da família foi revigorante. Os Targaryen são voluntariosos, caprichosos e fazem altas cagadas em seu reinado e acompanhar personagens tão humanos faz valer à pena a leitura. Não quer dizer que é um livro para todo mundo que é fã da saga ou até mesmo da série. Quem estiver esperando um livro típico de fantasia, vai se decepcionar. Por ser diferente das outras obras, isso pode causar um certo estranhamento, mas garanto que vale à pena. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🐉

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Tá aí um tipo de literatura que não tenho lido muito ultimamente. Na verdade, ainda não li nenhum livro de George R. R. Martin. Mas nunca é tarde para começar, não é?

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  2. Eu não gostei de terem traduzido a espada Blackfyre para Fogonegro. Achei uma escolha ruim, já que o nome "Blackfyre" e importante na dinastia Targaryen e na história dos Sete Reinos, inclusive nos tempos atuais, quando As Crônicas de Gelo e Fogo se passam. De resto, concordo plenamente com a sua analise (só não me entediei em nenhum komentoe li rapidíssimo porque eu gosto do tom monocórdico de livros de História, mas concordo que são, comparados com Fantasia, bem mais lentos pro punlicopúb geral)

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  3. Confesso que gostei bastante deste livro. O período anterior a guerra dos tronos me atrai muito. Achei o ritmo bem tranquilo, parecia um livro acadêmico. Imaginei que fosse ficar massante depois da Dança dos Dragões, mas me enganei, o período da regência até o Aegon III assumir foi bem interessante. Fiquei muito curioso sobre as histórias das viagens do Alyn Velaryon

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