Resenha: As Viúvas, de Lynda La Plante

O filme As Viúvas foi razoavelmente bem recebido pela crítica e pelo público, com um elenco estelar e uma proposta muito curiosa: quatro mulheres reunidas para realizar um perigoso assalto que seus maridos deixaram inacabado porque morreram antes. Um pouco antes da estreia, a Intrínseca lançou o livro de Lynda La Plante, veterana da televisão britânica e roteirista da série As Viúvas, que passava na TV nos anos 1980. Já adianto: não assisti ao filme, portanto o que será dito aqui se refere apenas ao livro.






Este livro foi uma cortesia da Editora Intrínseca



O livro
Começamos a leitura sabendo que um grande assalto estava para ser executado. É uma Londres do começo dos anos 1980 e quatro sujeitos se preparam para um ousado assalto a um carro-forte quando a tragédia acontece: três deles morrem, um desaparece e a polícia é obrigada a informar às viúvas sobre o que aconteceu. Dolly Rawlins é, de longe, a personagem preferida da autora e líder da ação, que no filme foi interpretada por Viola Davis. Dolly é a personagem mais vista e citada ao longo do enredo e é dela a ideia de reunir as outras viúvas e assim retomar os planos do marido.

Resenha: As Viúvas, de Lynda La Plante

Todas elas sabiam que seus maridos lidavam com coisas ilegais, algumas mais, algumas menos. O submundo do crime londrino para elas não era novidade, ainda que não participassem dos golpes que eles realizavam. Dolly, por exemplo, só descobriu sobre o esquema quando encontra os livros contábeis do marido falecido, Harry, em um cofre no banco. É com as instruções deixadas nos livros, que são cobiçados por outros criminosos, que o plano de continuar o assalto frustrado começa.

Devo dizer que adorei a ideia de quatro mulheres assaltantes e se preparando para um grande roubo. Se você é da minha geração deve lembrar de Grande Assalto (1993), com a Kim Basinger, um dos meus filmes favoritos. E imaginei que seria divertido acompanhar a jornada dessas mulheres. É um enredo bem pipoca, bem estilo de Hollywood e ainda assim passei mais raiva do que qualquer coisa com ele.

A começar das protagonistas. Fúteis, vazias e que não se unem para o trabalho exceto pelo fato de quererem 250 mil libras. Elas se chamam de vacas, de cretinas, de vagabundas e se estapeiam. Linda, de longe o agente do caos do enredo, provoca as companheiras, especialmente Dolly, comete os erros mais idiotas do enredo todo e só está lá para causar problemas. A desconfiança e a desunião é recorrente e nem o luto pelos maridos, que desaparece rápido, serve de cola para elas. Mesmo que o dinheiro as unisse, isso não é bem explorado.

Qualquer tentativa que a autora fez de unir essas mulheres não dá certo. Shirley é o estereótipo nocivo da "loura burra" e segue esse padrão até o fim. Quando finalmente a autora lhe dá momentos de inteligência, é tarde demais. A quarta mulher é uma adição sugerida por Linda. Bella é a única negra do enredo e é justamente o esterótipo da negra sensual e selvagem. Neste momento eu já queria jogar o livro pela janela.

Mesmo os personagens masculinos são vazios e estereotipados. O clássico policial obcecado e os policiais jovens e inexperientes que investigam os assaltos. O bandido violento e sensual e o bandido burro e tonto, usado como "leva e traz". Olha, nada contra clichês. Quando são bem usados a história corre muito bem. Mas quando eles são usados de maneira irresponsável como em As Viúvas você acaba com um livro recheado de personagens vazios e irritantes e você só quer que o livro acabe logo.

Um dos méritos da história é que nada é o que parece. A trama está amarrada e bem feita, com reviravoltas empolgantes, mas quando chega ao fim, o livro fica em aberto, porque ainda existem assuntos pendentes. Então é um enredo que não fecha a conta, sabe? E não sei se tenho interesse de saber o que acontece com tantos problemas que tem neste volume aqui.

A edição da Intrínseca está bem diagramada e revisada. Alguns problemas pontuais de tradução aqui e ali que não chega a atrapalhar a leitura. Devo dizer que não curti essa capa. Talvez uma capa que retratassem quatro mulheres ficasse melhor.


Ficção e realidade
Mulheres assaltantes e tomando a ação em crimes é algo que eu gosto de ler e assistir. Ao invés de serem as namoradas, irmãs e esposas de bandidos, elas são as bandidas. E quando um enredo é bem construído, é uma aventura seguir essas personagens e assistir suas ações. Ainda quero assistir ao filme, pois Viola Davis, e quero saber se ele adaptou tudo o que está no livro.

Lynda La Plante

Lynda La Plante é uma escritora, roteirista e ex-atriz britânica, mais conhecida por escrever a série de crimes televisivos Prime Suspect. É conhecida como a "rainha dos dramas criminais" e uma das mais importantes personalidades da TV inglesa.

Pontos positivos

A trama

Pontos negativos
Personagens secundários
Protagonistas
Final em aberto

Título: As Viúvas
Título original em inglês: Widows
Série Dolly Rawlins #1
1. As Viúvas
2. Widows: nº 2
Autora: Lynda La Plante
Tradutor: Alexandre Raposo
Editora: Intrínseca
Páginas: 400
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon


Avaliação do MS?
Queria muito ter gostado mais do livro. A trama é boa e te prende porque você quer saber se elas vão se sair bem no assalto, mas esses personagens vazios e fúteis estragaram o livro. Eu queria arrancar os cabelos quando as brigas e os xingamentos começavam e quando elas desconfiavam uma das outras e queriam se esganar por causa de dinheiro ao invés de se unirem. Não há problema algum em criar personagens ambíguos, imorais, duvidosos, especialmente se forem mulheres, mas Lynda não conseguiu fazer isso sem cair em estereótipos dispensáveis. Três aliens para o livro.



Até mais!


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