Resenha: Dance of Thieves, de Mary E. Pearson

Sou uma apaixonada pelo mundo criado por Mary E. Pearson em sua trilogia As Crônicas de Amor e Ódio, que está toda resenhada no blog, começando por The Kiss of Deception. É uma saga que foca na força feminina, na jornada de uma princesa para salvar um povo e para ter o controle sobre sua vida e aposto que se os livros fossem assinados por M.E. Pearson, muito marmanjo estaria lendo com gosto, pois é um incrível universo e incríveis personagens. Neste novo livro temos novos personagens, velhos inimigos e muitos segredos sussurrados.

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

O livro
Seis anos depois dos bombásticos eventos de The Beauty of Darkness, a rainha de Venda decide despachar sua guarda, as Rahtan, em uma missão mais que especial. Traidores do trono estão à solta, especialmente aquele que orquestrou a morte de seu irmão mais velho e herdeiro do trono de Morrighan, a quem ela precisou cavar a cova e enterrar sozinha. É assim que começa Dance of Thieves, com as Rahtan a caminho de sua missão. Alguns nomes nos são imediatamente familiares como Griz, Even e Natiya. Outros são novos, como Kazimyrah, ou apenas Kazi.

Resenha: Dance of Thieves, de Mary E. Pearson

Nós vemos a narrativa pela perspectiva de Kazi e de Jase Ballenger. E pelo andar da carruagem fica bem óbvio que esses dois vão se encontrar e algo vai rolar entre eles. Ao menos a autora não colocou um triângulo amoroso, ela já diz logo que estes dois vão sentir algo um pelo outro, mas houve momentos em que Mary melou demais a coisa, sabe? Senti que houve tempo desnecessário em beijos e línguas quando muitos assuntos poderiam estar sendo tratados.

Mas você supera isso rápido porque os personagens são bem construídos, assim como o enredo, e quando você pensa que não há mais nada para descobrir no universo criado pela autora, descobre que além dos reinos que já conhecemos existe mais coisa, como a Torre da Vigília de Tor e uma família que está há séculos no poder, desde a queda do mundo antigo que levou ao estabelecimento deste aqui. Sim, este é um universo pós-apocalíptico e se você não prestar atenção nas entrelinhas vai perder essa parte.

Kazi chega à Boca do Inferno, um tipo de cidade-estado controlada pela família Ballenger, que acaba por passar por uma tragédia, a morte do patrei, chefe da família e líder. O poder passa para seu filho Jase, que em seu primeiro dia já faz bobagem. Aqui já temos a primeira reviravolta: tanto Kazi quanto Jase são capturados por caçadores de mão-de-obra na rua e aprisionados. É a lábia muito bem praticada de Kazi, uma ex-ladra das ruas de Venda, que consegue libertar parcialmente os dois. Parcialmente porque eles estão presos por uma corrente nos tornozelos e agora precisam caminhar vários quilômetros até a segurança.

(...) às vezes, é impossível sequer começar a entender tudo o que perdemos até que alguém nos mostre aquilo que poderíamos ter tido.

Página 341

Por não confiarem um no outro, muita coisa nesta relação é construída sobre a mentira. Jase oculta uma série de coisas pensando na família, Kazi oculta muita coisa por vergonha, por medo, por ter vivido uma vida de provação, medo e miséria em Venda e ainda não ter superado a perda da mãe. Outro aspecto marcante do universo de Mary é a violência. Nas Crônicas de Amor e Ódio, a princesa Jezelia não é nenhuma donzela em perigo, ela salva a si mesma e a todos os outros a um custo imenso, inclusive para si mesma, que quase morre várias vezes. Já sentiu a diferença de alguns enredos de fantasia, certo?

Conforme Jase e Kazi são resgatados e ela se vê em uma posição confortável na Torre da Vigília de Tor, lugar que ela teria que entrar de qualquer forma, os segredos e mentiras se multiplicam, bem como o desejo de um pelo outro. Mas existem obrigações do patrei para com sua família, a busca de Kazi e suas companheiras Rahtan pelos prisioneiros e aí a coisa se complica exponencialmente, com segredos e mentiras se acumulando uns sobre os outros. Por isso Dança dos Ladrões, que aliás poderia ser o título do livro ao invés de ser em inglês, já que tanto Kazi quanto Jase roubam o afeto um do outro, mas também informações.

Um destaque para os personagens secundários, como a família Ballenger e as Rahtan. Todos muito bem construídos, um diferente do outro, um mais cativante que o outro.

É um livro grande, com mais de 500 páginas, que poderia ter sido menor. Senti que Mary escreveu a mais aqui em coisas que poderiam ter sido mais enxutas; tanto que dei um tempo na leitura e li outra coisa que passasse mais rápido. Felizmente, o livro tem uma guinada no final e deixa perguntas em aberto para um próximo volume, já que esta aqui será uma duologia. E se você está se perguntando sobre o destino da rainha de Venda, saiba que ela aparece no final!

A edição da DarkSide é em capa dura, seguindo a lindíssima capa original. Mas há problemas de revisão e tradução, ainda que não tão gritantes quantos os livros da trilogia. O reino de Dalbreck, por exemplo, aparece errado algumas vezes e depois com a grafia correta novamente. Nas contra capas temos os usuais mapas da região, o que nos faz buscar os outros livros para completar a imagem toda e colocar a Torre da Vigília de Tor no mapa.

Escolha suas palavras com cuidado, até mesmo aquelas em que for pensar, porque as palavras se tornam sementes, e as sementes se tornam história.

Página 252


Obra e realidade
Uma das discussões que o livro traz é sobre as coisas que fazemos para sobreviver. Kazi nos conta sobre a profunda pobreza em que ela vivia com a mãe em Venda, na época do famigerado Komizar, um ditador prepotente e com sede de poder que levou todos os reinos à guerra. Kazi ficou dois dias escondida embaixo da cama, em meio aos próprios excrementos, depois de ver a mãe ser levada embora. Depois disso, cada dia era uma luta, cada dia uma guerra para vencer, o que a transformou em uma conhecida ladra das ruas, chamada de Dez.

E por que Dez? Era costume em Venda cortar as pontas dos dedos dos ladrões. Kazi era tão boa que conseguiu ficar com os dez dedos, nunca foi pega roubando. Sua ousadia diante da rainha acabou mostrando seu valor de guerreira e sobrevivente, o que a tornou em seguida em uma Rahtan, fiel ao trono e aos juramentos que fazia. Se isso não é força feminina no talo eu não sei mais o que pode ser.

Mary E. Pearson

Mary é escritora de livros infanto juvenis. Foi professora, é mãe e escritora em tempo integral.

PONTOS POSITIVOS
Kazi
Torre da Vigília de Tor
Discussão sobre poder e pobreza
PONTOS NEGATIVOS

Pode ser meio lento em algumas partes


Título: Dance of Thieves
Título original em inglês: Dance of Thieves
Série Dinastia de Ladrões
1. Dance of Thieves
2. Vow of Thieves
Autora: Mary E. Pearson
Tradutora: Ana Death Duarte
Editora: DarkSide
Páginas: 512
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
Se você está procurando uma jornada feminina, uma aventura e um universo grande, com muita coisa para se explorar e descobrir, você deve ler não apenas este livro, mas também as Crônicas de Amor e Ódio. É uma saga que não deve nada para outros enredos de fantasia. Ela tem tudo o que eu amo num enredo desses: força feminina, protagonistas fortes, quase ou nenhuma magia, uma jornada para se caminhar ao lado. Mary, por favor, traga o segundo livro logo! Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Paviamma! ♥️

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Resenha muito boa, como sempre! :) Gosto de passar aqui para encontrar novas dicas de leitura e foi assim que descobri a saga original.
    Gosto do jeito que a Mary constrói o mundo dessa saga e como ela nos faz ficar catando as dicas e referências para entender o Antes e onde as coisas estão.

    A edição da DarkSide é muito bonita, mas essa escolha pros títulos da saga da Mary sempre me incomodou. Preferiria os títulos traduzidos, acho que cairiam bem com a história principalmente quando a gente encontra as referências a que eles fazem no enredo.
    Outra coisa é a tradução para o nome da saga. Se tivessem mantido "Crônicas dos Remanescentes" (como no original), ao invés de "Crônicas de Amor e Ódio", acho que instigariam mais a curiosidade dos leitores à história dos Remanescentes e do Antigos.

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