Resenha: A Última Travessia, de Mats Strandberg

Eu queria ter amado este livro. Queria muito mesmo. Admiro muito a literatura sueca e me empolguei ao ver um livro de terror chegando pela Morro Branco. O enredo se passa a bordo de um navio de passageiros decadente com uma tripulação e passageiros ainda mais decadentes, cada um com seus conflitos e segredos. Mas algo aqui não deu muito certo.


Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Baltic Charisma é um navio que já viu dias melhores. Dias de brilho, de glória, de festas opulentas e celebridades. Nos dias atuais ele leva passageiros para uma noite no mar Báltico, passageiros esses que são bem complexos e diferentes uns dos outros, irritantes e nojentos, solitários, cansados, desiludidos, cada um buscando no mar uma fuga de sua própria vida infeliz. Neste sentido, o autor conseguiu criar um leque de personagens insuportáveis, do tipo "deus me livre, mas quem me dera".

Resenha: A Última Travessia, de Mats Strandberg

Cada um deles - e são vários os personagens - têm um motivo para estar a bordo. São famílias problemáticas com seus filhos, mulheres solteiras em busca de aventura, jovens apaixonados, cada um com sua luta interna. Dito isso, o autor constrói a narrativa em cima dos pontos de vista de cada um dos personagens. E como são muitos, até o enredo finalmente engatar, até algo começar a acontecer, você está tão de saco cheio deles, quem nem se importa se alguém vai sobreviver.

O autor é vendido como o "Stephen King sueco". Acho que Mats conseguiu criar personagens mais interessantes e completos que King, mas não consegue segurar a onda do mistério e da ação como o colega americano. Existe um mal ancestral à bordo do navio. Só que até você ver isso, até as coisas começarem a acontecer, a impressão é que eu lia o roteiro de uma novela mexicana de baixa qualidade e cheia de drama. Simplesmente o livro não me convencia.

O Charisma é o cruzeiro que ficou para trás, cujo único atrativo era álcool barato.

Página 110

Aí quando a parte da ação começa eu já não me importava mais se alguém viveria ou morreria. Enquanto os personagens vão crescendo, até mesmo aqueles que se achavam pouco corajosos ou insignificantes, as cenas se tornam mais clichês conforme a leitura avança. Este não é exatamente um livro de terror, está mais para um suspense sobrenatural se quiser chamar assim, porém se o autor não demorasse tanto para dar logo o papo, o livro não seria tão cansativo.

Gostei bastante de como o navio representa uma sociedade em miniatura. Há momentos de intensa crítica à misoginia, homofobia e racismo. E existem personagens nojentos, mas que ao mesmo tempo você já sabe que vai descambar no momento que o bicho pegar, e descamba mesmo. É a falta de grandes surpresas, é o fato de seguir um roteiro bem definido que mais irrita no final.

A edição da Morro Branco tem problemas de revisão. São palavras faltando aqui e ali, algumas que até atrapalham o bom andamento da leitura e pode prejudicar o entendimento do enredo. O trabalho gráfico do miolo está perfeito e temos até um esquema do navio, que nos ajuda a localizar os momentos de ação.

Obra e realidade
Livros como este, onde há um determinado mal a caminho, servem apenas para canalizar o mal que existe em cada um de nós. Será que na mesma situação você não faria a mesma coisa? Para quem vive em um centro urbano, com uma vida de relativo conforto, pensar em uma situação de vida ou morte é algo que não costuma ser comum. Mas ao jogar pessoas tão diferentes entre si em uma situação como essa, o pior de cada um acaba por aflorar.

Mats Strandberg

Pontos positivos
Se passa em um navio
Personagens bem construídos

Pontos negativos
Problemas de revisão
Enredo meio óbvio
Devagar

Título: A Última Travessia
Título original em sueco: Färjan
Autor: Mats Strandberg
Tradutora: Fernanda Sarmatz Åkesson
Editora: Morro Branco
Páginas: 512
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon

Avaliação do MS?
Detesto começar livros com expectativa alta e depois desanimar. Sinto como devesse desculpas ao autor por não curtir o enredo. E não é problema do gênero em si, eu curto livros de terror e suspense, mas aqui não deu muito certo. E há todos os componentes para me agradar, a claustrofobia de um navio, os personagens bem construídos, um evento sobrenatural. Três aliens.


Até mais! 🛳️

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Concordo com tudo que você escreveu.
    O pior é que eu fui me apegando aos personagens e acabei gostando do livro como um todo hahahaha mas você tem toda a razão, principalmente nas escolhas óbvias pro destino dos personagens.

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