Quatro coisas incríveis em Perdidos no Espaço (e uma ruim)

Eu não ficava tão empolgada com uma série de ficção científica desde a estreia de Humans. E mesmo não tendo sido uma grande fã da série original, decidi assistir ao piloto sem muita perspectiva e já antes do começo do segundo eu estava dando meu joinha na Netflix (ao contrário de o u t r a s séries por aí). Tem muita coisa legal na série e se você ainda não se convenceu a assistir, espero que este post te ajude!




Vamos começar pela coisas boas?

Leia também: O que esperar de Perdidos no Espaço?

A ciência
Se tem uma coisa que eu amo em séries de ficção científica são justamente as discussões científicas. Esse é o grande apelo para mim em Star Trek (exceto Discovery). Em Perdidos no Espaço, as discussões nunca parecem artificiais ou exageradas. A ciência tem uma base bem realista e a forma como são explicadas é bem didática, até porque é necessário explicar para crianças e não cientistas, como quando Maureen explica para John sobre o problema daquele sistema solar em que estão encalhados.

Uma das sequências que eu mais gosto é justamente a de Maureen tentando entender a física daquele planeta. Quando percebe que tem algo errado, ela pega um balão atmosférico, se pendura nele, vai até a órbita do planeta e descobre o que está para a acontecer. Há também a missão da Júpiter para fazer contato com a Resolute, em que eles precisam voar da maneira antiga, como as primeiras cápsulas da NASA. O magnésio que entra em combustão quando em contato com o gelo. Enfim, são inúmeras as falas e momentos em que a ciência é usada para salvar a vida dos colonos encalhados e a maneira como isso foi feito ficou incrível.

Maureen Robinson
Essa é uma das personagens mais incríveis da ficção científica em um bom tempo. Se eu não gostava da Maureen original, maternal demais, dona de casa demais e palatável para a audiência conservadora dos anos 1960, com esta versão pela incrível atriz Molly Parker, estou adorando. Maureen não é apenas a mãe de três crianças. Ela não está lá na missão para fazer sanduíches para os filhos. Ela é a comandante da Júpiter, é astrofísica, tem doutorado em engenharia, é mulher, esposa e também é mãe.

Maureen tem a cabeça de uma cientista e muitas vezes usa essa mentalidade para lidar com os filhos aproveitando momentos de crise para ensinar algo a eles. Seu relacionamento com John azedou em algum momento do caminho, mas nota-se que eles ainda se amam, ou ele jamais teria embarcado na missão. Maureen tem brilhado nas telas pelo grande trabalho de Molly, que conseguiu revelar um lado humano de uma cientista dedicada, para bem ou para o mal. A tensão dela com John é palpável e ela precisa manter aquela imparcialidade fria, como se o punisse por todo o tempo longe.

John Robinson
Quando vi que este John (Toby Stephens) era um militar, meu maior medo era que ele fosse o machão topa-tudo, pau pra toda obra da série, que fosse causar atritos. Mas John é um cara que faz tudo pela família. Tudo. Até mesmo largar seu posto para não ficar longe dos filhos, já que ele perdeu tempo demais servindo como fuzileiro. Não só isso, John é consciente das merdas que fez e está tentando se reaproximar dos filhos e de Maureen. Ele fala de seus sentimentos, ele se abre com ela, está disposto a se sacrificar para que a esposa viva, luta para ter uma função na Júpiter e, acima de tudo, quer manter a promessa de nunca mais deixar a família.

Essa representação de masculinidade não-tóxica da parte de John é mais que bem-vinda na ficção. Sim, John é ex-fuzileiro, mas ele é um pai dedicado, que ensina valores aos filhos - como a ótima cena dele com Will, fazendo o filho construir um memorial para as vítimas da Resolute. John não questiona a autoridade ou o conhecimento de Maureen, ao contrário, ele o valoriza e acata às ordens dela sem discutir. Toby e Molly estão ótimos em cena, com uma interação natural e muito crível. Além de serem dois atores maduros, ambos também têm filhos, o que torna a experiência de vê-los atuando com as crianças algumas das melhores cenas da série.

Will Robinson
Eu adorei Judy e Peggy que se provocam o tempo todo, porém é mais do que óbvio que se amam. Não só isso, elas são irmãs apenas pela parte de mãe, não de pai, mas nota-se que isso nunca foi um problema. No entanto, o irmão caçula se destaca. Will (Maxwell Jenkins) é um garoto super inteligente, perspicaz, que enxerga coisas que os outros não veem. Além de tudo, é um garoto sensível e que, como qualquer criança de 11 anos, fica congelado de tanto medo diante do estresse e do perigo. Por ser uma criança, acaba sendo influenciável por pessoas espertas demais, como a Dra. Smith.

Há uma cena muito bonita de Maureen e o pequeno bebê Will, em que ela promete a ele, ainda na incubadora, que se ele sobreviver, ela fará de tudo para protegê-lo. E faz mesmo: comete fraude para colocar o garoto na 24ª leva de colonos para Alfa Centauro, pois Will não passou no teste de estresse. Vi algumas pessoas comentando que Maureen queria tanto ir para o espaço que manipula as crianças, até mesmo cometendo fraude. Não, Maureen fez o que fez para manter a família unida e longe de um planeta em decadência. E se ela teve a chance de lutar por Will, ela a agarrou.

Will também foi muito justo em sua avaliação do robô quando os dois se encontram pela primeira vez. O robô o ataca assim que os dois se conhecem, mas Will, compassivo, percebe que ele não precisa morrer e que se pode salvar o robô, ele o faz. Surge aí a amizade que vai nortear as relações de muitos personagens, já que o robô foi o pivô de todos os acontecimentos à bordo da Resolute.

Agora a parte ruim...

Estereótipos e conservadorismo
Fiquei decepcionada com alguns estereótipos chatos na série, como por exemplo, a família japonesa em que existe um senhor sábio, que usa óculos, fala inglês com sotaque e é nerd, Hiroki Watanabe, interpretado pelo veterano ator Cary-Hiroyuki Tagawa. Ou como a personagem negra, Angela (Sibongile Mlambo), que é a única que tenta matar alguém por estar traumatizada demais, causando um baita transtorno. Mesmo que Judy seja negra, ela não carrega esse estereótipo de "barraqueira", então foi bem chato ver o que aconteceu com o arco dessa personagem. Victor Dahr (Raza Jaffrey), por exemplo, é de etnia indiana e a família não caiu em estereótipos batidos, nem carrega sotaques fortes em suas falas.

Além disso, a família e os relacionamentos na série, até agora, são todos heterossexuais. Não sabemos se vão expandir a trama na segunda temporada, mas até agora, mesmo com as modernidades na família Robinson, eles continuam sendo brancos, cisgêneros e heterossexuais. Pelo menos, como eu disse acima, a família foi modernizada, não é mais a família de comercial de margarina, mas continua sendo uma família dentro do padrão.

Se você ainda não se convenceu a assistir, assista! Estou bem ansiosa pela segunda temporada!


DANGER, WILL ROBINSON!

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Comentários

  1. Ótima série, assisti recentemente e estou no aguardo da segunda temporada, os diálogos envolvendo ciência são perfeitos, simples e muito didáticos.

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  2. Ahhh agora até deu vontade de ver!

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  3. Concordei muito com a sua análise. Um dos principais motivos para eu gostar de Perdidos foi também a relação entre Maureen e John. Fiquei muito feliz em ver um casal no qual os dois são incríveis de sua própria maneira. Acho ruim quando, para ter uma mulher forte em um filme ou série, eles precisam colocá-la junto de um homem bobão. Como se a única maneira de uma mulher ser fantástica é se não houver nenhum homem fantástico perto dela. Em Perdidos os dois são fantásticos e sabem apoiar um ao outro, sabem a força de cada um. Eu literalmente aplaudi a TV em uma cena que mostrou isso bem. John está se rebelando contra Victor e esse pergunta "é você que está no comando agora por acaso?", e John diz "não, nós estamos" e Maureen surge perto dele. Finalmente um homem que pode ser forte, sem ser machão ou tóxico (como você bem falou), e sabe dividir o post com um mulher que é forte também.

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  4. Ótimo review. Não acompanhei a série original, por isso não consigo fazer comparações (a não ser com o filme bem meia boca dos anos 2000, mas esse, melhor deixar para lá).

    SPOILER!!


    Particularmente, gostei muito de dois momentos: quando Will fala para mãe que se ela sempre o proteger, ele não conseguirá crescer para protegê-la se precisar, e quando a Penny, depois de salvar o bofe inconsistente, dá um "não" bonito para ele. Eu achei que esse menino (esqueci o nome da personagem) fosse gay no começo, que era o segredo dele, mas nem.

    FIM SPOILER

    Enfim, concordo com os pontos positivos e negativos, principalmente no quesito família protagonista cis branca (predominantemente pelo menos), e de modo geral, gostei muito da série.

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