Resenha: Origem, de Dan Brown

Confesso que adoro os livros do Dan Brown. Não sou especialmente fã de Robert Langdon, mas adoro o thriller, a história da arte, as conspirações e as reviravoltas que Brown traz para seus livros. Meus preferidos são Anjos e Demônios e Fortaleza Digital. Seu novo livro, Origem, mexe com as origens da vida na Terra e como ela vai evoluir. Estamos preparadas?

Parceria Momentum Saga e editora Arqueiro


O livro
Robert Langdon está no Museu Guggenheim Bilbao para assistir à apresentação de seu ex-aluno Edmond Kirsch, um futurólogo bilionário que alega ter feito uma descoberta assombrosa, capaz de mudar a humanidade para sempre. Um conhecido ateu como ele consultou previamente três autoridades religiosas, o bispo católico e conselheiro do rei espanhol, Antonio Valdespino, um imã muçulmano, Syed al-Fadl e o rabino Yehuda Köves a respeito da descoberta e os líderes ficaram aterrorizados. O que Edmond estava para revelar ao mundo destruiria as religiões.

Resenha: Origem, de Dan Brown

A apresentação está sendo transmitida para todo o mundo a partir do auditório ultra moderno do museu, dirigido por Ambra Vidal, ninguém menos que a noiva do príncipe herdeiro, Julián. Porém, antes mesmo que Edmond pudesse revelar a tal descoberta destruidora, ele é morto com um tiro na cabeça, no palco, diante de mais de 3 milhões de espectadores.

O choque logo atinge a todos, em especial Langdon, que recebeu um aviso de que havia algo errado no decorrer do evento. Um convidado de última hora foi colocado na lista exclusiva, um almirante aposentado da marinha espanhola. É a partir desta morte perturbadora que Landgon assume ser sua função em liberar a descoberta que seu ex-aluno fez e pela qual morreu. Ambra Vidal se sente ainda mais culpada pela morte chocante do futurólogo: foi ela quem colocou o nome do almirante na lista, atendendo um pedido do Palácio Real.

Interessante notar que Dan Brown se utilizou bem das mídias sociais e das conspirações da internet para inserir comentários entre os capítulos. Um informante está mandando notícias para um site de conspirações e o interesse do público só aumenta conforma novas informações são liberadas. Poderia estar o próprio príncipe Julián por trás do assassinato chocante? A família real espanhola é católica devota, bem como boa parte do país e é logo a primeira a ser acusada de conivência.

Outro ponto alto do livro: ao invés de termos obras dos antigos mestres renascentistas, o foco aqui é na arte moderna, tendo Antoni Gaudí e Joan Miró como alguns dos artistas mencionados. Especialmente Gaudí e suas obras arquitetônicas são essenciais na narrativa. Há muitos questionamentos sobre o fundamentalismo religioso e sobre como líderes podem acabar se tornando baluartes da obscuridade ao professarem ignorância, nacionalismo e senso comum (fazendo um paralelo com a ditadura de Franco, que dominou a Espanha até o final dos anos 1970). Absolutamente atual isso, não é?

- Permitir a ignorância é dar poder a ela. Não fazer nada enquanto nossos líderes proclamam absurdo é um crime de complacência. Assim como deixar que as escolas e as igrejas ensinem inverdades completas às nossas crianças.

Página 271

Apesar dos pontos altos do livro, com especial menção à inteligência artificial criada por Edmond e a um carro que se dirige sozinho (o que dão um ar de ficção científica para o livro, bem como para muitos dos outros livros de Brown) devo dizer que ele não é o melhor do autor. Pela metade do livro já ficou óbvio para mim quem era o vilão por trás das ordens de assassinatos, quem vazava informações e quem fazia queima de arquivo. Uma das coisas mais legais das obras de Brown é justamente esse plot em que você é alegremente enganado por boa parte do livro e de repente não era nada daquilo que você estava esperando. Aqui se você matar a charada, que é escancarada de óbvia, o livro fica meio sem sal.

Esse também é um livro bem mais lento. Uma ação constante, de tirar o fôlego, poderia ter sido usada para compensar a obviedade do vilão. Para que você receba qualquer informação relevante sobre a tal descoberta - que é sim muito legal - você já leu pelo menos umas 300 páginas. O ritmo frenético de O Código da Vinci ou de Anjos e Demônios e as informações sendo dadas ao leitor de tempos em tempos conforme eles acham mais uma peça do quebra-cabeça não estão presentes aqui.

Edição da Arqueiro está ótima, seguindo o padrão dos livros anteriores. Não encontrei erros de diagramação, revisão ou tradução.

Ficção e realidade
Gosto muito da forma como Dan Brown questiona instituições seculares e como ele cria ficções sobre locais, construções, obras de arte e conceitos de ciência que de fato existem. Ao ler a ficção de Brown, acabamos mesclando o trabalho ficcional com o mundo real, o que levou a muita gente a escrever livros para rebater O Código Da Vinci! Rebateram uma obra de ficção, que por mais coerente que ela seja a muitos leitores, é só isso, uma obra de ficção. Por aí vemos a fina linha entre o que é real e o que é imaginário e como algumas pessoas não percebem isso.

Dan Brown

Outra coisa que adoro em seus livros é a própria história da arte. Langdon é um chato, mas adoro as informações que ele sempre tem a mão a respeito de arte e simbolismos, como ele critica instituições e o obscurantismo. Eu apenas gostaria que Dan Brown se utilizasse das grandes mulheres artistas apagadas da história para uma próxima aventura do professor Langdon. Um livro que fale de um mistério secular a respeito de Artemisia Gentileschi, de Madame Lebrun ou de Plautilla Nelli seria fantástico!

Pontos positivos
Ciência
Inteligência artificial
Edmond Kirsh e Winston
Pontos negativos
É lento
É óbvio


Título: Origem
Título original em inglês: Origin
Autor: Dan Brown
Tradutor: Alves Calado
Editora: Arqueiro
Ano: 2017
Páginas: 432
Onde comprar: Amazon

Avaliação do MS?
É um bom livro, mas eu esperava mais. A tal revelação de Edmond, por sua vez, foi brilhante e eu nunca tinha pensado na origem da vida daquela forma. Acho que isso já vale à leitura e depois horas de uma conversa na mesa do bar, porque dá assunto! Se você é fã de Dan Brown como eu, vai curtir o livro e garanto que também vai pensar muito sobre essa origem. Três aliens para a obra e uma indicação de leitura.


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Ah, eu amei esse livro! Sou meio suspeita pra falar, porque sou uma grande fã dos livros do tio Dan, mas amei mesmo! A série do Robert Langdon tem sempre a mesma fórmula, mas eu acho incrível! A única coisa da qual eu senti mais falta nesse, foi a falta da "overdose de enigmas". Esse livro não tem tantas charadas como nos anteriores, e talvez só por isso eu não tenha gostado tanto.

    Amei sua resenha! Um beijo, Pri :*

    poramoraoslivrospri.blogspot.com.br

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  2. Sabe o que é engraçado?
    No livro Inferno foi descrito que mais da metade da população estaria estéril por causa do tal vírus que foi liberto no final do mesmo.
    E a futuro rei da Espanha estava triste porque a mocinha não poderia ter filhos (por outro motivo)....
    O que me fez pensar: O mundo não tinha ficado praticamente estéril? Gostaria que houvesse mais repercussões sobre esse final tão interessante.

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  3. Sua resenha foi perfeita! A melhor até agora. Parabéns!

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  4. Tinha 14 anos quando li Dan Brown pela primeira vez. "Anjos e demônios".

    "Encontrei o melhor escritor do mundo". Virei fã.

    Hoje eu uso essa publicação pra marcar o dia em que paro de ler qualquer coisa que ele escreva. Pelo menos até ele abolir o Professor Robert Langdon dos roteiros.

    Com muito respeito à obra e ao autor, claro, digo que A ORIGEM é um dos livros mais fracos que já li em relação a narrativa, a suspense, a construção de personagens, a ritmo e a mais muitas coisas.

    Dan Brown alonga cada vez mais explicações sobre obras de arte que não cabem no meio do suspense. Ele monta um plot twist que não surpreende ninguém. Nos faz lidar com o fato de que o Professor Langdon é imortal e inquebrável porque passa de morrer em TODOS OS LIVROS e sai sem nenhum arranhão. E mais: no livro seguinte ele nem sequer menciona acontecimentos anteriores.

    É como se todos os livros fossem o primeiro da saga. Mas não são.

    E a fórmula já deu o que tinha que dar.

    Em um mundo de Her, Call me by your name, Sapiens e Black Mirror, escrever a Origem é um insulto à mente de um leitor-fã.

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    1. Taí, você conseguiu descrever o meu incômodo com Dan Brown ultimamente. Tem razão, tá parecendo mesmo que cada livro é uma nova aventura, resetando tudo. Há uma menção a Anjos e Demônios em algum dos livros, não lembro qual, mas eu esperava alguma coisa a respeito do fim de Inferno e... blégh, nada.

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  5. Amei o livro,, no entanto encontrei um erro grotesco, , quando Ambra perde o telefone nas escadarias da casa de Edmund deixando cai e parti varios pedaços, perde o contato com Winston, os guardas reais aparecem de helicóptero e os resgata no telhado,, levando-os ate a igreja para encontrar a palavra passe, não havia como Winston saber onde estavam, no entanto enviou Ávila até lá , confessando no final do livro, que ele o havia enviado para la , mas como? Se ele próprio diz que temia que ambra e o professor não o conseguissem mais entrar em contacto com ele, quando , chegaram ate o escritório de Edmond com a palavra chave, não ha uma explicação de como o computador descobriu o paradeiro deles.

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