Resenha: Para Educar Crianças Feministas - Um Manifesto, de Chimamanda Ngozi Adichie

Sabe aquele livro curtinho, pequeno, que cabe em qualquer lugar, que pode ser lido a qualquer hora e que contém um conteúdo de vital importância para a criação de crianças? Então, é esse. Chimamanda escreveu sobre alguns passos para criar uma criança feminista, ou seja, uma criança que veja (ou seja) uma mulher, uma menina, como um ser humano, não como um objeto. Com dicas que podem ser usadas tanto para meninas quanto para meninos, é aquele tipo de obra que deveria ser entregue na saúda das maternidades.



Este livro foi uma cortesia da Cia. das Letras


O livro
Quando uma amiga de Chimamanda foi mãe, ela pediu que esta lhe desse algumas dicas de como criar uma criança feminista, devido aos posicionamentos públicos da escritora a respeito do tema. Assim, ela lhe escreveu uma carta, pontuando algumas ações e práticas. E reitera a urgência de rever a forma como mães e pais estão criando seus filhos. Na época, a própria Chimamanda não era mãe, mas hoje ela também está decidida a tentar as próprias dicas.

Resenha: Para Educar Crianças Feministas - Um Manifesto, de Chimamanda Ngozi Adichie

Em forma de carta, com algumas alterações, Chimamanda discorre sobre coisas que viu e ouviu mães e pais fazerem e pontua como fazer diferente, de maneira educativa, correta e que possa empoderar as crianças e a própria mãe. A primeira sugestão é justamente sobre isso, não ser definida pela maternidade, ela é uma mulher antes de tudo e não pode ser apagada da equação. Fala sobre seu relacionamento com o marido e como ele tem que dividir as tarefas com ela, especialmente se ela continuar trabalhando e que isso não é "ajuda" e sim responsabilidade de todos que moram na casa.

Quando lidar com meninas, nunca diga que ela não pode fazer algo justamente por ter nascido assim. É um absurdo quantas vezes as liberdades e a criatividade de meninas são podadas na infância porque "ela tem que se comportar como mocinha". Eu ouvi muito isso e sei o quanto me feriu ter que ficar sentada numa cadeira, sem poder brincar, porque não podia sujar a roupa ou rasgar a meia-calça.

Outra conhecida, uma americana, me contou uma vez que levou o filho de um ano a um espaço de recreação infantil em que várias mães levavam seus bebês, e percebeu que as mães das meninas eram muito controladoras, sempre dizendo "não pegue isso" ou "pare e seja boazinha", e que os meninos eram incentivados a explorar mais, não eram tão reprimidos e as mães quase nunca diziam "seja bonzinho". Sua teoria é que pais e mães, inconscientemente, começam muito cedo a ensinar às meninas como devem ser, que elas têm mais regras e menos espaço, e os meninos tem mais espaço e menos regras.

Página 27

Com questionamentos sobre a linguagem, a biologia, os papéis de gênero, a importância de respeitar as diferenças e o chamado Feminismo Leve ("ele é a cabeça, você é o pescoço"), é possível identificar vários momentos de nossas vidas em que Chimamanda narra situações em que meninas foram podadas para caber em caixas de gênero, cobertas pela misoginia da sociedade. E achei bem acertada a decisão da editora de colocar o título como Para Educar Crianças Feministas, pois as dicas podem ser adaptadas para meninos também. A educação deles também deve ser desencaixotada. Desde cedo eles devem aprender a respeitar as meninas, não podem ser educados em uma masculinidade tóxica que só faz mais mal do que bem.

O livro é pequeno, então cuidado com a brochura na hora de abri-lo. Além dessas dicas maravilhosas, temos também uma introdução de Chimamanda sobre como surgiu o manifesto, uma pequena biografia da autora, junto de um resumo de suas outras obras no final.


Obra e realidade
Em alguns momentos eu parava a leitura porque lembrava de situações que me ocorreram na infância. Chimamanda conta que a filha de uma amiga viu um helicóptero de brinquedo no shopping e pediu para a mãe. A mãe então respondeu que ela já tinha suas bonecas, brincasse com elas. A menininha rebateu: mas eu vou brincar só com isso?

Algo semelhante aconteceu comigo quando criança. Eu ganhei um ursinho de pelúcia, um menino ganhou um cavalo futurista, que movido à pilha acendia os olhos e relinchava. Fiquei possessa, olhando aquele ursinho cafona e olhando aquele cavalo lindo. Meu escândalo foi tão grande, que acabei ganhando um.

Incentive-a a praticar esportes. Ensine-a a ser ativa. Façam caminhadas juntas. Nadem. Corram. Joguem tênis. Futebol. Pingue-pongue. Todos os tipos de esportes. qualquer tipo de esporte. Penso que é importante não só por causa dos evidentes benefícios para a saúde, mas porque pode ajudar com todas as inseguranças quanto à imagem do corpo que o mundo lança sobre as meninas.

Página 54

Chimamanda Ngozi Adichie.

Pontos positivos
É curtinho
Escrito pela Chimamanda
Dicas para a vida
Pontos negativos

Acaba logo!

Título: Para Educar Crianças Feministas - Um Manifesto
Título original: Dear Ijeawele or A Feminist Manifesto in Fifteen Suggestions
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradutora: Denise Bottman
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 96
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: Amazon


Avaliação do MS?
Não importa se você tem filhos ou não, se é pai ou mãe, se tem sobrinhos ou não. Compre este livro e mantenha junto de si para sempre poder reler aqui ou ali. As dicas de Chimamanda são muito importantes e podem ser implementadas a qualquer momento. Deixo a dica também para professores, é possível tratar das dicas em sala de aula, fazer debates e desconstruir seus alunos, pois é de seres humanos que estamos falando, seres que não nascem com um ódio natural por mulheres, eles são ensinados assim. Então dá para ensinar o respeito fundamental também. Selo essencial mais que merecido.

Até mais!

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