Resenha: Hipersonia Crônica, de Aline Valek

Esta resenha saiu em caráter excepcional durante a semana porque eu sou corporativista mesmo e admito (e também porque estava devendo uma resenha à ela). Aline Valek publicou por conta em seu blog pessoal e nas maiores lojas de ebook (Amazon, Kobo Store) o conto Hipersonia Crônica, uma publicação Fora da Gaiola, pois ele inteiro foi feito por poucas pessoas. Esta é uma tendência que só cresce, com pessoas publicando por conta, alimentando seus nichos.





O conto
Primeiro de tudo, antes de ler o conto, eu fui procurar o termo Hipersonia nas interwebs. Segundo o Wikipedia:

(...) é um distúrbio do sono caracterizado por sonolência excessiva durante o dia e/ou sono prolongado a noite. E ao contrário de problemas de sono causados por noites mal dormidas, dormir durante o dia não diminui a sonolência. Também ocorre em pessoas com ciclo de sono invertido (por exemplo, trabalhadores noturnos). Pode ser classificada como hipersonia idiopática (quando a causa não é conhecida), sintomática (quando for sintoma de outro transtorno) ou medicamentosa (quando for efeito colateral de uma droga). É mais comum entre os 15 e 25 anos e menos de 5% dos adultos (mais de 18 anos) possuem esse problema.

Quem nunca teve um episódio de hipersonia na vida, que arremesse o primeiro travesseiro. De termo definido, vamos ao que interessa. Conheçamos Jonatan, um gerente de projetos, com a vida corrida como qualquer um. Jonatan é um workaholic que começa a desabar por não conseguir lidar com suas tarefas, regadas a tantas xícaras de café. Parece-me o homem jovem típico de uma cidade grande, tentando manter o emprego que ele não parece gostar tanto assim.


Seus distúrbios de sono não surgem de mansinho. O leitor é jogado abruptamente num sonho repleto de ação e você se vê, de repente, em um novo lugar, em uma nova situação, outras pessoas... Porém, nem mesmo Jonatan parece capaz de discernir entre um e outro, que dirá o leitor. Seria o inverso? Como encontrar limites em nossas borradas percepções de realidades? O personagem parece mais um coadjuvante em um enredo em que o sonho e o excesso de café são os protagonistas.

Com o tempo, Jonatan parece perder a noção do que é real e do que não é, como se fosse um Neo eternamente preso à Matrix imaginando se estava em Zion ou não. Ou então como Doug Quaid, tentando ser convencido que tudo é um sonho implantado pela Recall e que ele já não distingue mais as barreiras da realidade. Sua rotina de trabalho começa a se prejudicar. Prazos, clientes, dados, como lidar com isso e ainda responder às perguntas que ele sabe que existem, mas que não sabe como respondê-las? E ainda há Lucile...

Sempre admirei a facilidade com a qual Aline Valek conduz seus enredos. Desde os posts do blog, aos seus contos e crônicas, ela tem uma narrativa fluída, sem complicações ou exageros. Escrever não é um ato simples, ele demanda muito de quem se propõe a trabalhar com isso e é uma constante rotina de experimentações. Em Hipersonia Crônica vemos que Aline brinca com a zona de conforto do personagem e ele quica em diversas situações adversas, levando-nos junto.


Por se tratar de uma obra cuja revisão é do próprio autor, é natural encontrar alguns problemas. Alguns termos errados ou repetição de termos podem deixar a leitura cansativa em alguns parágrafos, mas são pontuais. Não chegam a atrapalhar a leitura.


Ficção e realidade
No último domingo, o Fantástico apresentou um caso bastante peculiar de uma mulher que acordou e tinha esquecido 11 anos de sua vida. Por alguma razão, o caso me fez lembrar do personagem Jonatan. Os casos não chegam a ser parecidos, mas o que me chamou atenção foi o fato de a mulher não lembrar de coisas cruciais da vida, mas cheiros, toques, músicas despertavam um fiapo de lembrança em sua mente. Aos poucos, ela foi recobrando os fatos, pessoas e situações esquecidas.

É curioso ver que coisa plástica e sensível é o cérebro e como ele pode pregar peças nos seres humanos. Muito sono, ausência de sono, traumas parecem ser inócuos num primeiro momento, mas podemos notar por estes casos - da memória perdida e do sono perturbado - o quão poderosas podem ser essas experiências.

Pontos positivos
Dúvida entre o real e a fantasia
Conto curto
Bem escrito
Pontos negativos

Acaba logo
Repetição excessiva de termos

Título: Hipersonia Crônica
Autor: Aline Valek
Editora: Fora da Gaiola
Páginas: 39
Onde comprar: Amazon, KoboStore e direto no blog


Avaliação do MS?
Aline Valek não é a primeira publicar em seu blog para seus leitores. Cada vez mais, escritores se valem de seus espaços virtuais para mostrarem seu trabalho e formarem um público leitor. E Hipersonia Crônica é uma amostra de bons materiais à disposição na rede para leitores em busca de conteúdo de primeira e gratuito ou bem mais barato que um livro numa livraria. Recomendo fortemente que você leia HC e tente delimitar realidade e fantasia. Quatro aliens para o conto com um pedido de continuação.



Até mais!


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