Agente de colonização

Para muitos cientistas e entusiastas do espaço, a colonização de outros corpos celestes pela raça humana é apenas uma questão de tempo. Não duvido disso, apenas acho que vai ser um processo lento e com muitas perdas de vidas pelo meio do caminho. Mas há uma coisa que pouca gente pensou, que é o impacto das atividades humanas nestes lugares. O corpo humano é um agente de colonização poderoso, tanto para o bem como para o mal.




Se formos analisar o conjunto de microrganismos que estão em nosso corpo neste exato momento, poderíamos ser considerados um superorganismo. Existem cerca de 100 trilhões de bactérias num corpo humano, cuja diversidade nos mantém funcionando, forma o nosso sistema imunológico e chega a influenciar até mesmo no desenvolvimento intelectual. Além de nossas 10 trilhões de células, somos um verdadeiro hotel para até 100 mil espécies de microrganismos.

No intestino delgado, temos uma galera microscópica responsável por absorver nutrientes. Mas qualquer desequilíbrio nelas já é responsável por causar diarreia. Na garganta, a presença de bactérias em pequena quantidade ajuda nosso sistema imunológico a combater doenças. As bactérias na cera do ouvido impedem a entrada de microrganismos nocivos. Na boca, para cada ml de saliva, temos cerca de 100 milhões de bactérias. No nariz, elas impedem a entrada de agentes nocivos que possam causar pneumonia, por exemplo. Nos olhos, elas se misturam à lágrima para impedir danos e infecções.

Na pele, temos três tipos diferentes de bactérias misturadas ao sebo produzido por ela. Nos genitais, mais delas foram uma camada ácida para impedir o ataque externo de agentes nocivos. E no intestino grosso, toneladas de bactérias absorvem o que passou pelo intestino delgado, produzindo as fezes e os gases incômodos que volta e meia escapam.

Que mãe nunca ficou doida da vida quando viu o filho sujo dos pés à cabeça, mexendo na lama, areia, na terra, fazendo aquela sujeira? Mal sabe ela e a criança que esse contato é essencial para as defesas do corpo. O excesso de limpeza de muitas mães acabou causando mais mal do que bem, ocasionando em alergias e em problemas nos pulmões e nos intestinos. Isso desequilibra o sistema imunológico e causa uma série de inflamações. Não é preciso viver na sujeira, mas as crianças precisam desse contato com microrganismos, depois não adianta mais.

Ou seja, por muito tempo foi pregado que devíamos nos livrar de qualquer tipo de "germe", quando na verdade os microrganismos são essenciais para nossa saúde. Agora, imagine que a raça humana chega a um planeta que possa sustentar vida. E imagine que nossas bactérias começam a se espalhar por este novo local através das atividades humanas cotidianas. Que tipo de interações eles podem vir a ter com este ambiente alienígena? Carregando 100 trilhões de bactérias, nosso corpo é o agente de colonização perfeito, com mais colonos que poderíamos precisar. Basta largarmos nossos dejetos por aí, dar meia dúzia de espirros e espalharemos mais vida microbiana do que a população inteira do planeta Terra.


No entanto, se neste planeta já existir uma vida alienígena, como ela vai encarar esta invasão microscópica vinda de nossos corpos? Podemos acabar criando, sem querer, um super germe, capaz de matar toda a colônia? Imagine que baita problema para a futura colonização espacial. Também não temos como esterilizar 100% os materiais humanos ou nossos corpos, pois já sabemos que o excesso de limpeza pode causar vários problemas de saúde. Qual é a saída nestes casos?

Sondas e outros equipamentos enviados a outros planetas, como Marte, são esterilizados com esmero antes do envio para fins de segurança biológica. Contudo, um estudo mostrou que bactérias como a Escherichia coli é capaz de sobreviver não apenas ao processo de esterilização como também ao ambiente marciano. Os estudos preliminares indicaram que ela não se desenvolve neste ambiente severo, mas não sabemos se outras missões levaram outros microrganismos, o que poderia gerar falsos alarmes de vida em Marte.


Mesmo que evitemos uma contaminação de todas as maneiras, esterilizando sondas, naves e habitações, sabemos por experiência própria, aqui mesmo na Terra, que existem organismos vivendo em ambientes extremos de temperatura e salinidade, às vezes sem oxigênio. E sabemos que esterilizar completamente algo nem sempre é possível. A vida é versátil demais e se adapta rapidamente, basta ver o surto de resistência a antibióticos que tivemos há alguns anos atrás pelo excesso de consumo. Talvez no futuro este tipo de colonização acabe com a possibilidade de nos estabelecermos no espaço.

Até mais!

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