A forte crítica social de Elysium

Tive a oportunidade de assistir Elysium, que estreia nos cinemas brasileiros em 20 de setembro. O filme tem vários paralelos com Distrito 9, já que o diretor é o mesmo, Neill Blomkamp, portanto sua crítica social é muito forte. Temos várias semelhanças com a sociedade atual e mesmo com as cenas de ação, a crítica é jogada com violência na tela.



No século XXII, a humanidade sofre um novo tipo de segregação: a altitude. Enquanto a Terra se tornou super populada, pobre, com escassez de recursos e com uma miséria generalizada, os ricos se mudaram para uma estação espacial que orbita o planeta, no modelo de um Toroide de Stanford, onde apenas cidadãos cadastrados e com grana podem habitar e desfrutar de um ambiente projetado para a estabilidade, com tecnologia médica de ponta e protegida por fieis robôs, que são produzidos em mega linhas de montagem lá embaixo.

Uma visão da parte interna do anel habitacional de Elysium.

Na Terra, Max (Matt Damon) precisa correr contra o tempo para tentar sobreviver, após um incidente com radiação na fábrica de robôs onde trabalha. Ele quer uma passagem para Elysium. Spider (Wagner Moura), que é um tipo de hacker e contrabandista, tem acesso às identidades para Elysium e consegue enviar naves com pessoas que querem a ajuda médica da estação. Mas nem sempre conseguem chegar, a maioria é explodida em órbita pela secretária Delacourt (Jodi Foster), que é a responsável pela segurança de Elysium.

Max concorda em trabalhar para Spider para fazer o download cerebral de um importante figurão de Elysium. O que eles não sabem é a secretária Delacourt pretende realizar algumas mudanças no modo como a banda toca em Elysium e é aí que a luta de Max para sobreviver começa. Max cresceu em meio à pobreza da periferia com sua amiga Frey (Alice Braga), que é enfermeira e luta para manter a filha viva, que tem uma leucemia em estado avançado.

Wagner Moura está um show como Spider. Matt Damon é Max.

O mundo onde Spider, Max e Frey vivem é caótico, sujo, desprovido de recursos e alguns tratamentos básicos de saúde. A população vive à margem com subempregos, desassistida e usam o contrabando de pessoas oferecida por Spider para tentar chegar à Elysium e seu mundo idílico para conseguir tratamento médico de ponta. A cena em que Max recebe a dose letal de radiação mostra muito bem a divisão entre pobres e ricos. Ele entra num compartimento que daria um banho de radiação em vários robôs, mas a porta emperra. O supervisor da linha, percebendo que a produção parou, exige que Max entre ali e resolva a parada. Assim que ele consegue liberar a porta, o compartimento fecha e ele recebe a dose de radiação.

O superintendente da fábrica, que mora em Elysium, chega ao setor que parou para averiguar a situação. E ele usa um lenço no nariz para não respirar o mesmo ar dos subalternos. Um robô médico recolheu Max do compartimento, deu-lhe um frasco de remédios e avisou que ele morreria em cinco dias. Simples e frio, deste jeitinho. Parece de alguma maneira familiar com o que vemos na mídia todos os dias? Com gente pobre, dependente do serviço público de saúde, sem conseguir remédio ou tratamento?

A filha de Frey tem uma leucemia avançada e não conseguiu tratamento. A única maneira é levar a menina para casa e vê-la morrer. Mesmo que as diferenças sociais de Elysium estejam exageradas, muito possivelmente para destacar as contradições sociais, a crítica é não apenas pertinente quanto gritante. Temos ricos e bem aventurados isolados em um paraíso artificial, com todos os confortos oferecidos pela tecnologia de ponta, uma alusão ao enclausuramento das classes altas em seus carros blindados e condomínios com segurança máxima. Do outro lado, onde a corda arrebenta do lado mais fraco, temos 99% da população mundial, vivendo na pobreza e na desassistência, sem perspectiva de uma vida melhor. Elas se arriscam à morrer para tentar descer em Elysium apenas para curar suas mazelas e doenças, se arriscam com exoesqueletos e implantes cranianos e muitos vivem na clandestinidade por não terem outra coisa para fazer.

Assim como em Distrito 9, o diretor Neill Blomkamp aperta a ferida dos problemas sociais e extrapola a diferença entre ricos e pobres ao máximo, onde coloca os poderosos longe do alcance de qualquer classe mais baixa. Muito parecido com o mimimi da classe média paulistana, reclamando da faixa exclusiva de ônibus em várias vias de São Paulo "roubando" faixas de circulação de carros, enquanto estão enclausurados em seus veículos com ar condicionado. Este mundo de Elysium não está tão distante de nós, quando ricos se isolam em seus condomínios de luxo, enquanto pobres se amontoam em condições insalubres nas periferias.

Uma mãe desesperada busca a medicina avançada de Elysium para a filha.

O filme faz uma forte crítica social que pode passar despercebida aos expectadores menos atentos, deslumbrados pela ação da trama. Filme recomendado, em especial pela crítica.

Até mais!


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