Por que eu admiro Katniss Everdeen?

Katniss Everdeen
Um dos fenômenos atuais entre o público adolescente é Jogos Vorazes. A trilogia explodiu de vendas com o filme de mesmo nome e tornou-se uma sensação mundial, tal qual Crepúsculo, com o qual foi inevitavelmente comparado, por ser voltado a um público adolescente. No entanto, mesmo com os problemas do livro, que poderia ser melhor escrito, é Katniss Everdeen quem rouba todas as cenas.



Eu li os livros depois de assistir ao filme Jogos Vorazes. A autora, Suzanne Collins não escreve lá tão bem, mas apresentou um tema interessante no já mais que batido sub-gênero da distopia. Num futuro nem tão distante, existe Panem, em um território equivalente aos Estados Unidos, porém, com algumas partes submersas. Não temos mais estados e sim distritos, todos eles subordinados aos caprichos da Capital. Para deixar os Distritos em seu devido lugar, todos os anos, eles precisam enviar dois tributos (adolescentes) para brigarem em uma arena futurista, onde só um pode ganhar. Esses são os jogos vorazes.


O governo defende que esses jogos, mesmo sendo brutais, fazem parte da tradição do país e que portanto servem como uma lembrança do passado sangrento. O problema é que até crianças são enviadas à arena e quando a irmã frágil e delicada de Katniss é escolhida naquele ano para ser um dos tributos do distrito 12, ela se oferece no lugar. Prim jamais sobreviveria à arena, então é Katniss quem vai para a capital, junto com Peeta, um rapaz do distrito, para serem preparados para o deleite do público.

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O tema em si é polêmico, enviar adolescentes para se matarem em arenas super avançadas tecnologicamente. Mesmo que eu tenha achado a escrita de Suzanne Collins um tanto enfadonha em algumas partes, Katniss é um personagem que se destaca. A situação no distrito 12, que tem a mineração como atividade principal, é de uma pobreza generalizada. Para conseguir ganhar um dinheiro extra para comprar comida, Katniss sai das cercas do distrito, indo para terras proibidas para caçar, munida de arco e flecha. Boa parte dos negócios é feito na base do escambo. Eles não têm aquecimento, nem conforto, só os jogos, pois os vencedores ficam bem assistidos, bem como seus parentes, para o resto da vida.


Katniss quebra uma sequência de personagens femininas que são fracas, desastradas e que precisam de um parceiro para serem alguém na vida. Enquanto Bella Swan, de Crepúsculo, perde a vontade de viver quando Edward vai embora e começa a fazer um monte de bobagem, Katniss cuida da irmã frágil, da mãe problemática, caça sozinha e ainda peitou a capital ao impedir que Prim fosse para os jogos, sabendo que ela na certa morreria logo na largada. Diferente de Anatasia Steele, de Cinquenta Tons de Cinza, que se submete ao parceiro e faz absolutamente tudo o que ele quer, além de ser vítima de perseguição da parte dele, Katniss só tem a ela mesma, mesmo admitindo a presença do colega de caçadas, que a ama profundamente.

Acredito que sobrevivente seja a melhor palavrá-la para defini-la, pois de maneira geral, Jogos Vorazes não é sobre matança, é sobre quem é o mais apto para sobreviver. Ao mesmo tempo em que cria armadilhas na floresta para pegar outros competidores, Katniss colabora com Rue, do Distrito 11 e sofre com a morte da garotinha, homenageando-a com flores e um arranjo cerimonial que deixa o distrito todo emocionado a ponto de se revoltar com a Capital. No ato final, quando a capital diz que um dos dois, Peeta ou Katniss devem morrer, ela peita os jogos mais uma vez e antes que ambos comam amoras venenosas, o jogo acaba e eles são eleitos vencedores.

Katniss e Peeta, cena de Em Chamas, baseado no segundo livro da trilogia.

O que Katniss percebe rapidamente é que ela é um instrumento. Mas é um instrumento perigoso, pois não é algo que se manipula imprudentemente. Nos livros seguintes, quando já está com os rebeldes, ela questiona as atitudes tanto da Capital quanto da resistência e chega mesmo a não concordar com os atos, pois sabe que a troca de governo apenas vai substituir seis por meia dúzia e antes que a situação piore, ela age por impulso, machucada por todos os eventos que se sucederam e quase morre por isso. Ela não se acomoda facilmente e marcada para sempre pela violência dos jogos, sabe também sua vida nunca mais será a mesma. Sua imagem vira um símbolo de revolução, mas Katniss sabe que não pode fazer muito, a não ser representar um papel. E que mesmo assim, ela faz o que consegue naquele momento para lutar, sabendo que depois pode não fazer mais nada.

Jogos Vorazes é também sobre imagem, é sobre o visual, o espetáculo que conduz nossa sociedade, basta ver o sucesso dos reality show. Peeta e Katniss, mesmo que em alguns momentos nem consigam se olhar na cara, precisam atuar como o casal perfeito e apaixonado enquanto desfilam pelos distritos para mostrarem o quanto a Capital é boazinha ao deixar o casalzinho sobreviver no final para viver seu amor. Mas a tensão já explode nos distritos enquanto viajam desde os eventos dos últimos jogos, que foram diferentes de todos os anteriores.


Katniss representa uma personagem feminina que não está lá para agradar a ninguém. Talvez por isso tantos homens tenham ficado enfurecidos de ver uma heroína (e não um herói) que mata, que caça, coloca armadilhas, mas que também chora a morte de uma criança, tem coragem e não precisa usar um macacão decotado e sensual para aparecer. E, além disso, tem que salvar a vida de Peeta duas vezes nos jogos. Estas características fazem dela uma das personagens mais fortes da trilogia e uma nova personagem feminina para a ficção científica.

Até mais!

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