Desafios para o Programa Espacial Brasileiro

Você obviamente pode estranhar o título. De qual potência estou falando? Estou falando do Brasil. O cenário de hoje pode não ser favorável ao título de "potência", mas certamente alguns países estão de olho no potencial que temos para ser um polo concentrador de atividades espaciais. Mas nem tudo são flores.

Desafios para o Programa Espacial Brasileiro

O Centro de Lançamento de Alcântara, subordinado ao Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial da Força Aérea Brasileira tem tudo para ser o local de lançamentos de foguetes mais movimentado do mundo em poucos anos. Localizado apenas dois graus e dezoito minutos ao sul da linha do Equador, Alcântara é ideal para o lançamento de satélites de comunicações de órbita geoestacionária, reduzindo assim os custos com os propelentes. Além disso, a disposição de Alcântara permite lançar foguetes em todos os tipos de órbita, desde as equatoriais (em faixas horizontais) às polares (em faixas verticais), além da segurança de ter as áreas de impacto no mar que foguetes de vários estágios obrigatoriamente precisam ter, fora o clima ameno, com regime de chuvas bem definido. Rússia e Ucrânia já demonstraram grande interesse em financiar projetos e lançamentos aqui por nossas terras devido à essa vantagem estratégica altamente lucrativa e lançaram parcerias.

Mas por que isso não acontece? Existem sérios desafios a superar caso queiramos que Alcântara tenha o mesmo peso que Cabo Canaveral tem. O primeiro deles, sem dúvida é a mão-de-obra. No Brasil, é praticamente inexistente. Nosso programa espacial é pequeno e fragmentado, com problemas de recursos e investimentos do setor que é ainda pequeno. Sem profissionais para alavancar os programas espaciais, não iremos muito longe. São cerca de 3 mil profissionais envolvidos em uma área que tende a encolher ainda mais, pois muitos estão perto da aposentadoria. É difícil atrair mão-de-obra qualificada para um programa pequeno e sem recursos, pois eles sabem que o retorno não será imediato. Fernando Moraes, presidente do Sindicato de Funcionários Públicos em Ciência e tecnologia (SindCT) disse:

Salários pouco atrativos, falta de concursos públicos para a renovação do quadro, descontinuidade das ações gerando baixa auto-estima e desmotivação entre os profissionais são as causas deste déficit.

O governo brasileiro pretende oferecer 75 mil bolsas de estudos nos próximos anos para estudantes irem para o exterior em programas de intercâmbio. Em princípio, os estudantes irão para Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, com a expectativa de entrarem Canadá e Bélgica no programa. A ideia é criar mão-de-obra que dê retorno ao país e que traga estudantes de fora com gosto para estudar por aqui. Sabemos que existe a chamada "fuga de cérebros", cientistas brasileiros que desmotivados com a condição científica nacional residem em outras universidades mundo a fora. Mas com certeza, algum retorno será obtido por isso.

Fora as cabeças para pensar, precisamos dos foguetes para lançar. Por isso Rússia e Ucrânia estão de olho no potencial brasileiro, pois as vantagens que Alcântara apresenta são atraentes do ponto de vista econômico, mas a ausência de tecnologia aqui e a crise mundial se desenrolando lá fora deram uma freada nas parcerias. O problema se acentuou com a explosão que ocorreu na base em 2003 com um foguete de combustível sólido de quatro fases que matou 21 pessoas. Os russos, por sua vez, pretendem aperfeiçoar nossos foguetes, em especial o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites do Brasil 1) justamente para evitar perda de vidas e de equipamentos.

E a colaboração Brasil-Rússia vai além. Desde 2005, a parceria conhecida como Cruzeiro do Sul visa criar toda uma família de foguetes capazes de lançar cargas úteis de 400 kg para quatro toneladas em órbita. Mas os atrasos dos russos, a falta de dinheiro e de talentos atrasou a conclusão do programa de cooperação para 2022. (!)

O setor privado nacional também foi convidado a participar dos programas espaciais brasileiros, seja daqui, seja de fora. Existe um interesse da parte deles pela posição estratégica de nossa base de lançamentos, mas eles são cautelosos em investir em um programa ainda incipiente e pouco experiente como o nosso. O que podemos imaginar é que um maior interesse pelo espaço, pela tecnologia e pela ciência, aliados a investimentos e pesquisa colocariam nosso pequeno município de Alcântara na rota dos programas mundiais de exploração do espaço e nos traria benefícios e visibilidade. Basta querer e poder.

E você? O que acha das expectativas para o programa espacial brasileiro?

Até mais!

Fontes:

Baixe aqui o livro Desafios para o Programa Espacial Brasileiro, da Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos, da Presidência da República.

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